A Conmebol e a FIFA estão obrigando a que River Plate e Boca Juniors assinem o "Certificado de Falência Social" do futebol da América do Sul. Com a final em Madri dia 9 de dezembro ainda ameaçada de ser realizada, o que temos é a derrota definitiva de uma sociedade.
Quando o poder público não consegue garantir a segurança de um local para um evento dessa magnitude, não há outra leitura que a certeza de que falhamos como comunidade. A violência venceu, a barbárie sobrepujou-se sobre todos nós de forma irrefutável.
Depois da incompetência de todas as partes envolvidas na organização da primeira final, havia uma chance de provar que a civilidade poderia vencer. Era só decidir jogar a volta da final em Avellaneda ou La Plata (só pra citar exemplos argentinos), em estádios que permitiriam uma boa organização de segurança e o jogo aconteceria.
Mas não. O poder público lavou suas mãos. Pressionada pelos interesses de patrocinadores e pela FIFA, a Conmebol então correu para encontrar um estádio no mundo que aceitasse a final e aos torcedores de ambos os clubes. O Real Madrid aceitou e o Santiago Bernabéu seria o local. Afinal, como disse o presidente da FIFA Gianni Infantino na Cúpula do G20, "Madri é um pouquinho a América do Sul".
A DERROTA QUE LEVA AO GAMANÇO
Não bastasse perdermos nossos grandes talentos do esporte em tenra idade para os mercados europeus, tirando a qualidade técnica dos clubes e deixando o nível dos torneios locais próximo ao nível do futebol de várzea (com todo respeito ao futebol amador), agora a Conmebol quer acabar com o último ícone da nossa luta desigual contra os europeus: a Libertadores.
Falta uma semana. Ainda é possível que o governo argentino, a prefeitura de Buenos Aires, os presidentes dos clubes, as forças de segurança e a Conmebol encontrem uma solução para realizar este jogo na Argentina. Para que mostrem a todos nós que por mais difícil que pareça, eles não vão perder essa briga para a violência e para a própria incompetência.
A Libertadores da América é NOSSO torneio com NOSSA identidade e que estimula o que há de mais raiz no futebol: a proximidade. O comunitário. A rivalidade do vizinho. Uma final em qualquer cidade européia não apenas carimba o tal certificado que inventei ali no lead, mas também nos rouba esse direito inalienável de sermos sul-americanos.