Quem vê Dudu transitando pela Academia de Futebol do Palmeiras consegue entender melhor por que o atacante acaba de recusar a fortuna oferecida pelo Changchun Yatai, da China. Ele não é só capitão do time e ídolo da torcida. É praticamente o dono da casa.
Nesta quarta-feira (31), entre os treinos da manhã e da tarde, o jogador parecia um legítimo anfitrião para uma entrevista ao jornal Lance.
— Vamos fazer (a entrevista) onde? Vamos sentar ali? Tem cadeira para todo mundo — disse, apontando para a área de convivência ao lado do refeitório.
Sorridente e bem-humorado, deu 20 minutos de entrevista e passou mais 20 conversando informalmente. Estava tão à vontade que um funcionário do Palmeiras passou por ali e perguntou, brincando, se deveria lhe servir um café.
Nem parece o mesmo Dudu que, há três anos, ainda em seus primeiros dias de Palmeiras, atendia aos repórteres com timidez e respostas curtas, sem muito jeito para falar sobre o chapéu que o clube deu no Corinthians e no São Paulo para contratá-lo quando deixou o Grêmio.
Depois de 166 jogos, 42 gols, 36 assistências, dois títulos e diversas propostas recusadas, Dudu não é mais o mesmo. O Palmeiras também não é mais o mesmo. Os dois cresceram juntos, em um casamento que ainda vai demorar para acabar. Se é que vai acabar um dia.
Dudu explicou a negativa para os milhões chineses, conta que conversa com o ex-goleiro Marcos sobre a chance de consolidar-se como ídolo no clube, fala da importância de Alexandre Mattos em sua trajetória e deixa um aviso:
— Só depende do Palmeiras. Se a gente se acertar em tudo aí, eu topo ficar aqui até acabar a carreira.
Você está se sentindo mais ídolo depois de recusar a oferta da China?
Acho que é a mesma coisa. O carinho deles (torcedores) por mim é muito grande, e eles também sabem o carinho que eu tenho pelo Palmeiras, como eu me sinto à vontade aqui, minha família... Gostamos muito de São Paulo e, principalmente, do Palmeiras.
Como você tomou a decisão de não ir para a China? O que levou em conta?
Era muito dinheiro, né, cara? Em três anos, eu iria ganhar praticamente R$ 60 milhões. É muito dinheiro, a gente sabe, mas aqui no Palmeiras eu estou bem. Como eu falei na minha entrevista, tenho um bom salário. Se eu ficar aqui até o fim do contrato (dezembro de 2020), vou ganhar um bom dinheiro e vou viver bem. Minha família vai viver bem, meus filhos vão viver bem. Conversei com a minha família, eles viram que para mim era melhor ficar aqui. Meus filhos (Pedro, 5 anos, e Cauê, 6) estão na escola. O Cauê tem um pouco de atraso na escola, na fala, e para ele é melhor estar aqui. E também tem a vontade de ficar aqui no Palmeiras, né? Eu sei que se tudo der certo nesse ano, se a gente ganhar títulos, com certeza no fim do ano vem outra proposta, seja da China ou de outro lugar. Mas, como falei, estou feliz aqui e espero continuar bastante tempo.
Você tem noção de que seu caso é raro no Brasil?
Desde quando cheguei aqui, em 2015, venho sendo um dos principais jogadores do Palmeiras, me destacando. O normal já era ter saído, ido para a Europa, mas meu pensamento está aqui no Palmeiras. A gente tem que ir para onde a gente vai ser feliz. A gente não sabe se vai dar certo indo para lá. Aqui eu sei como funciona o clube, como é o dia a dia, sei que o clube dá o melhor para a gente. Só tenho que retribuir isso dentro do campo. A torcida tem muito carinho comigo e, como eu falo sempre, só tenho que me preocupar em dar felicidade para eles.
Já está passando pela sua cabeça a chance de ficar até o fim da carreira?
Acho que sim. Sou muito novo, tenho 26 anos, muito para jogar ainda. Como eu falo, depende só do Palmeiras. Trabalhamos em um grande clube, com uma estrutura dessas. No mundo, acho que poucos têm essa estrutura. Só depende do Palmeiras. Se a gente se acertar em tudo aí, eu topo ficar aqui até acabar a carreira.
A trajetória do Marcos te inspira?
Eu até converso bastante com o Marcão. A gente morava no mesmo prédio, a gente sempre estava junto. Ele fala que não se arrepende em nada de ter ficado no Palmeiras, fez uma história bonita. A torcida tem carinho por ele e acho que vai ser assim para o resto da vida. Ficar marcado em um grande clube como o Palmeiras seria muito bom para mim. Meu plano é viver em Goiânia quando parar de jogar, mas vai ser bom voltar aqui em São Paulo e ter o carinho do torcedor, o torcedor lembrar da gente pelo que a gente fez no clube.
Com mais 13 gols, você vai superar o Vagner Love e se tornar o artilheiro do Palmeiras no século. Tem acompanhado essas marcas?
O Serginho (Sérgio Luci) e o Pedrão (Pedro Corrêa, assessores de Dudu) sempre mandam essas coisas para mim. A gente está aqui para entrar na história do clube. Se for para entrar na história, tem essas marcas para bater. Espero passar o Vagner Love nesses próximos anos.
Você tem repetido que ainda tem objetivos aqui. Quais são eles? A Libertadores é o principal?
Acho que todo clube sonha em ganhar o título da Libertadores. A gente fica vendo, no ano passado o Grêmio conquistou. A gente tem um bom time esse ano, um grande treinador. Não que a gente não tivesse no ano passado, também tinha, mas não deu certo. Nesse ano começamos bem, com os pés no chão, e esperamos entrar fortes nessa competição, que vai ser uma das mais difíceis. Praticamente todos os times que já ganharam a Libertadores vão disputar esse ano. Vai ser difícil, mas temos confiança de que podemos ir bem.
Quando viu o Lucas Lima com a camisa do Palmeiras, você achou estranho?
Nada, é tranquilo (risos). Isso é normal na vida da gente. Ele estava defendendo o clube dele e a gente defendendo o nosso, normal. Agora ele está aqui no Palmeiras e tenho certeza que vai dar a vida pelo Palmeiras, como já fez nesses quatro jogos. A gente espera que ele possa continuar nessa batida aí.
Conversaram sobre o passado?
Acho que tem que deixar para trás. Hoje ele está no Palmeiras, não tem que ficar lembrando do Santos. Tem que pensar no Palmeiras e esquecer o que passou.