O novo formato da Copa Libertadores, agora disputada de janeiro a novembro, ainda gera polêmica e divide opiniões na América do Sul. A edição 2017, vencida pelo Grêmio, foi a primeira disputada no novo modelo. Ainda assim, não foi o suficiente para público, imprensa e desportistas chegarem a um consenso sobre se a ideia é boa ou ruim.
A reportagem do GaúchaZH consultou ex-jogadores e jornalistas de diversos países do continente e ouviu vários argumentos distintos, seja para reivindicar a volta da um torneio mais curto, seja para elogiar o novo calendário.
— O novo formato se mostrou acertado. Antes, os times com mais dinheiro da Colômbia, como Atlético Nacional, Junior, Santa Fé e Deportivo Cali, contratavam jogadores para seis meses. Agora, terão que montar grupos para o ano todo. A ideia foi bem aceita pelos colombianos — explica o jornalista Julián Céspedes, do canal WinSport, de Medellín.
A opinião é endossada pelo repórter do jornal La Cuarta, do Chile, Rodrigo Fuentealba. Segundo ele, o povo chileno também gostou de ver uma Libertadores mais duradoura.
— Aqui no Chile, a repercussão foi muito boa. O torneio mais longo mantém a emoção até o final de novembro e faz com que haja mais expectativa nas pessoas — completa.
No Uruguai, no entanto, as opiniões colhidas pela reportagem foram negativas.
— Este calendário novo não beneficia os times uruguaios. No meio do ano, muitos jogadores podem ser negociados. Aí, se o time passa da fase de grupos, fica complicado manter uma equipe competitiva. Se a Libertadores fosse mantida como antes, os clubes começariam e terminariam o torneio com o mesmo time — pondera o jornalista Nicolás Saúl, da rádio esportiva 1410 AM, de Montevidéu.
Na Argentina, principal mercado do continente ao lado do Brasil, o tema está longe de ser um consenso.
— Agora, os jogos são disputados com um intervalo de 15 dias ou um mês, o que permite aos times recuperarem os jogadores lesionados, não tendo muitos desfalques nas competições locais. Outro ponto positivo foi a proximidade com a final do Mundial. O Grêmio, por exemplo, jogou em Abu Dhabi com quase o mesmo time que jogou a decisão contra o Lanús — opina o jornalista Alejandro Panfil, do diário La Nación, de Buenos Aires.
Por outro lado, o repórter Leonardo Ojeda, da Rádio Continental, também da capital argentina, tem um ponto de vista diferente sobre o novo calendário.
— O novo formato foi prejudicial para os times argentinos. À exceção foi o Lanús, que manteve o plantel, focou na Copa Libertadores e deixou de lado o Campeonato Argentino. Mas o River Plate, por exemplo, perdeu o Driussi e o Alário em meio à competição. Com eles, foi uma Copa. Sem eles, foi outra. Isso fez o time ter picos de bom e de mau rendimento — argumenta.
Já no Brasil, o assunto também divide opiniões. O ex-zagueiro Bolívar, bicampeão da América em 2006 e em 2010 pelo Inter, gostou de ver a Libertadores sendo disputada de janeiro a novembro.
— A competição fica mais longa e, como o calendário brasileiro é apertado, é importante ter esse tempo. As equipes acabam tendo mais tempo para recuperar jogadores. O Grêmio, por exemplo, teve vários jogadores lesionados e recuperou esses atletas antes das decisões. Se o torneio fosse mais curto, não teria conseguido — opina Bolívar.
Já o ex-lateral Paulo Roberto, campeão da Libertadores pelo Grêmio em 1983, discorda desta visão.
— Nesse novo formato, o campeão acaba sendo prejudicado, pois a final da Libertadores fica muito em cima do Mundial, o que prejudica o planejamento. Além disso, prejudica o rendimento da equipe no Campeonato Brasileiro. Sendo a Libertadores disputada o ano todo, um time como o Grêmio acaba tendo que optar por uma competição. Tenho certeza que se, no segundo semestre, o Grêmio estivesse disputando só o Brasileirão, teria sido campeão.
Em 2018, a Conmebol manterá o formato, com a Libertadores sendo realizada de janeiro a novembro, possivelmente com a esperança que o público sul-americano se acostume com a ideia. Mas, por enquanto, as divergências são grandes.