O bandeirinha, todo mundo sabe, se move lateralmente à beira do campo.
A não ser que esse bandeirinha seja Altemir Hausmann, um gaúcho "grosso do Interior" - palavras dele - que protagonizou um rodopio frenético no fim da partida entre Santos e Corinthians, na terça-feira.
Auxiliar de arbitragem da Fifa, apontado como um dos melhores do país, Hausmann tem aparecido mais do que muito jogador nos últimos tempos. Coleciona incomodações. E produz episódios extravagantes, como aquele aos 47 minutos do segundo tempo, no Pacaembu, segundos antes da consagração do Corinthians como finalista da Libertadores.
- Em uma partida como a de quarta, se não entro com uma postura elétrica, forte, rígida, o jogo acaba me engolindo - avalia Hausmann, 43 anos.
De certa forma, foi Hausmann que engoliu o jogo. Nenhum lance repercutiu tanto, especialmente na internet, quanto a correria circular do assistente. A cena ocorreu quando o árbitro Leandro Vuaden, nos acréscimos da partida, marcou falta para o Corinthians. Percebendo que os santistas estavam muito próximos da bola, Hausmann entrou correndo em campo: tirou do bolso a lata de spray branco e, em alta velocidade, demarcou no gramado uma insólita meia-lua.
O Pacaembu - que, como qualquer estádio, nunca vira nada parecido - assistiu atônito.
- É que o uso do spray pelos auxiliares é muito recente. O pessoal não está acostumado. Mas, se a regra manda os jogadores ficarem a 9m15cm da bola, não vou aceitar que fiquem a 8m50cm - afirma o bandeirinha, um rigoroso convicto.
Todo esse rigor, somado à personalidade forte - "sou pitoresco mesmo, mas foi assim que pautei minha carreira e não abrirei mão disso" -, não raro eleva Hausmann ao centro das atenções.
Natural de Estrela (com o perdão do trocadilho), o assistente foi alvo de críticas do técnico do Inter, Dorival Júnior, após a final do Gauchão contra o Caxias, no mês passado.
- Infelizmente o senhor Altemir Hausmann, que é um excepcional bandeira, desde que voltou da Copa do Mundo assumiu uma condição de ser mais importante que os jogadores dentro do espetáculo - disse o treinador, expulso daquele jogo a pedido do auxiliar.
No Gauchão de 2011, o gremista André Lima acusou Hausmann de dizer "Deus é justo" após uma lesão do centroavante, que antes reclamara de um impedimento marcado pelo bandeirinha. O assistente tem outra versão:
- Falei "Deus é justo" porque o quarto árbitro me informou que, na TV, mostraram que eu havia marcado corretamente o impedimento. Quanto ao Dorival, não aceito que ninguém interpele minhas decisões fazendo gestos, jogando a arbitragem contra a torcida.
Segundo o comentarista de arbitragem Arnaldo Cezar Coelho, "Hausmann tem ótima precisão e excelente visão periférica".
- Mas, quanto mais velho somos, mais intolerante também ficamos - pondera Arnaldo.
O auxiliar de 43 anos, ainda mais famoso depois do rodopio de terça-feira, não vai mudar em nada:
- O futebol é uma baita ferramenta educativa. As crianças adoram. Se começarmos a passar a mão sobre os jogadores, se deixarmos infringir regras, cometeremos um grande equívoco. Eu sou rígido.