No último contato do Inter com o povo de Porto Alegre, em 18 de maio, a torcida entoou uma música que costuma embalar a arquibancada, cuja letra fala em: "Pelo Rio Grande, pelo nosso amor". É esse o espírito que move os colorados a partir das 21h30min desta terça (28), contra o Belgrano, pela Copa Sul-Americana, em Barueri. Será a retomada do futebol gaúcho após a catástrofe climática que assolou o Estado.
Quase um mês após as águas invadirem o RS, o esporte reaparece. Até então, as notícias sobre os atletas envolviam resgates, como Thiago Maia salvando pessoas que estavam quase afogadas, acolhida, como Rochet preparando lanches em abrigos, Alario jogando bola com crianças, e solidariedade, de tantos outros, Valencia, Borré, por exemplo, liderando campanhas de doações, inclusive envolvendo suas famílias. Jogadores deixaram de lado a figuras de heróis esportivos para se tornarem heróis literais.
Mas agora é hora de retomar a carreira. Mesmo com regiões ainda inundadas, com atualizações diárias de vítimas, o mundo voltou a girar. Esquemas táticos, opções técnicas, titulares e reservas se juntam ao noticiário.
Para quem não se lembra e não se atualizou nos últimos dias: o Grupo C da Copa Sul-Americana tem o Belgrano como líder, com nove pontos em cinco jogos. Inter e Delfín estão empatados com cinco pontos (os brasileiros jogaram três vezes, os equatorianos, quatro). O lanterna é o Tomayapo, com um ponto. Ao mesmo tempo de Inter x Belgrano, haverá Delfín x Tomayapo. Quem vencer segue com chances de se classificar. Se ganhar do Belgrano, bastará vencer o Delfín, em Caxias do Sul, para os colorados avançarem às oitavas.
A missão do Inter terá reforço importante. Pela primeira vez, Eduardo Coudet deve escalar o trio ofensivo Alan Patrick, Valencia e Borré. Antes da parada forçada, os dois primeiros estavam machucados. E o último não pôde disputar o Gauchão. Eles só estiveram à disposição juntos uma vez, contra o Nova Iguaçu, mas quando o colombiano entrou, o equatoriano saiu. Agora, os três devem ser titulares.
Isso ajuda a amenizar a distância da torcida, do Estado. Para o lateral-esquerdo Renê, um dos líderes do grupo, a partida tem um significado especial:
— É difícil até de falar, sabemos que o momento é crítico. Vamos voltar a jogar, mas que ninguém se esqueça que o Rio Grande do Sul está precisando de ajuda. Não acabou, o momento é difícil. Precisamos de apoio para, juntos, sairmos mais fortes dessa situação.
Quatro ônibus saíram de Porto Alegre no início da tarde desta segunda (27) levando torcedores para o, por enquanto, único jogo como mandante em território paulista. Consulados de São Paulo e Paraná prometem mobilização especial. O clube montou uma promoção com desconto de 50% no valor dos ingressos para quem doar alimentos. Como diz a sequência da música "Pelo Rio Grande, pelo nosso amor", que embalará a noite: "Sempre vou estar, eu te prometo nunca abandonar".
A partida é na Arena Barueri, distante 1,1 mil km do Beira-Rio. A missão dos colorados é transformá-la em Barue-Rio.