Faz 71 semanas que Valencia não tem férias. Um ano e meio, praticamente. Desde que estreou na temporada passada, em 20 de julho de 2022 até a rodada final do Brasileirão, marcada para quarta-feira que vem (6), terão sido mais de 500 dias sem um período de descanso. O centroavante entrou em campo 83 vezes, e permaneceu no gramado mais de 5,8 mil minutos. Ele deve ser titular neste sábado (2), 18h, contra o Corinthians, na Neo Química Arena, pela penúltima rodada do Brasileirão. Se completar o campeonato, serão 85 partidas em 17 meses.
O número é maior do que o máximo que um time pode fazer em uma temporada completa no futebol brasileiro (à exceção dos participantes da Copa do Nordeste), indo a todas as finais de todos os campeonatos. Nesse caso, a equipe terá entrado em campo 82 vezes — óbvio, em 11 meses.
Valencia emendou a temporada no Fenerbahçe, em 2022, com a do Inter, na metade de 2023 sem o descanso que a maior parte dos atletas teve durante a Copa do Mundo. Ele estava a serviço da seleção equatoriana e disputou as três partidas da fase de grupos. Despediu-se da competição em 29 de novembro, na derrota para Senegal. Em 20 de dezembro, já estava novamente atuando pelo clube turco.
O excesso de jogos pode ter influenciado em algumas apresentações do jogador. E deixado à beira de sofrer uma lesão. Ele teve de sair duas vezes por dores musculares em partidas recentes, contra Palmeiras e Bragantino.
O preparador Márcio Faria Corrêa, pós-graduado em Fundamentos Científicos da Preparação Física e Ciência do Treinamento Desportivo, com passagem pela dupla Gre-Nal vê méritos no jogador:
— Ele tem um padrão AA. Mesmo sem conhecê-lo, só pelos números, já mostra sua força e sua genética. Com a tecnologia adequada e um bom trabalho dos instrutores, consegue desempenhar mesmo com tantas partidas. É um jogador do futebol do futuro.
O número demasiado de jogos fez a Associação dos Jogadores Profissionais aventar a possibilidade de criar um teto de partidas para os atletas. O goleiro alemão Kevin Trapp, representante da entidade, declarou, em entrevista à Globo:
— É difícil estabelecer um teto ou limite para a quantidade de jogos no ano. O jogador ama futebol, quer estar presente no máximo de partidas possível. Há uma quantidade de jogos, entre 60 e 70 por ano, que já é muito grande, mas ainda é ok. Acima disso é realmente complicado. Não é só jogar futebol. É a viagem, toda a preparação. É fundamental ter uma pausa, para o atleta relaxar a mente. A qualidade não será dada se tivermos que jogar o tempo todo e nós precisamos falar alto sobre isso.
Coudet falou sobre esse tema na entrevista coletiva após a vitória sobre o Bragantino. Não há dúvida de que o número alto de partidas é nocivo ao futebol:
— É normal termos jogadores cansados e esgotados. Não é um time que se prejudica, prejudica o produto do campeonato.
Mesmo com o excesso de jogos, Valencia foi fundamental no Inter. O 2023 dele foi de alto nível (mesmo com as chances desperdiçadas contra o Fluminense). Em 26 partidas com a camisa colorada, marcou 12 gols e deu duas assistências. Quatro deles foram na Libertadores, nas oitavas e nas quartas, contra River Plate e Bolívar. Também deixou o seu no Gre-Nal. E nas duas últimas partidas, que poderiam evitar alguns problemas de tabela para a equipe, também colocou seu nome no placar. Os resultados basicamente livraram o time de qualquer risco e classificaram para a Copa Sul-Americana.
Com férias longas, pré-temporada e Gauchão para se preparar, o Inter acredita em um desempenho superior. O entendimento no Beira-Rio é de que ele se adaptou ao sistema de Eduardo Coudet e que, com reforços certos, como centroavante e atacantes de lado, poderá até atuar em outras posições, variando seu estilo e aproveitando sua versatilidade.
A contratação mais badalada da temporada esteve perto de levar o Inter ao auge. Mas, no mínimo, garantiu tranquilidade no final de um ano que não rendeu o que o clube esperava.
Valencia desde as últimas férias
- 71 semanas
- 83 jogos
- 5.806 minutos
- 50 gols
- 9 assistências