Tem o Athletico-PR, mas tem o Fluminense. A situação do Brasileirão não é confortável, mas tem o Fluminense. Precisa buscar ritmo de jogo, mas tem o Fluminense. A Libertadores habita as mentes coloradas e tira o foco do que ainda falta para chegar até quarta-feira, 27 de setembro, a abertura das semifinais da competição continental. Por isso, o dilema gaúcho é: ao mesmo tempo em que precisa readquirir ritmo de jogo, como evitar pensar na decisão quando entrar em campo no gramado sintético da Arena da Baixada?
Já foi dito e repetido o risco de jogar em um campo em que não se está tão acostumado. E está bem claro o tamanho do prejuízo de uma lesão tendo apenas seis dias para se recuperar. Mas também é de se considerar que o time titular completo não joga desde 2 de setembro, no empate em 0 a 0 com o Goiás. Se não atuarem em Curitiba, terão ficado 25 dias sem entrar em campo juntos. Mas e o foco? O jogador consegue separar e levar a sério uma partida, sem pensar em lesão e cansaço?
Recentemente, o Inter teve uma amostragem disso. O São Paulo, último adversário colorado, veio a Porto Alegre para um jogo do Brasileirão poucos dias antes de disputar a final da Copa do Brasil. Dorival Jr mandou a campo time titular. Claramente, a equipe diminuiu o ritmo. E mesmo tendo levado a virada, manteve o planejamento de não deixar todos os atletas importantes durante os 90 minutos.
O próprio Inter teve isso. Logo na chegada de Coudet, os titulares encararam o Cuiabá a três dias de pegar o River Plate. A estratégia era dar entrosamento, mas no segundo tempo faltou foco, segundo o próprio treinador, e o time caiu de rendimento, perdeu e ainda ficou desgastado para o duelo em Buenos Aires.
Desta vez, o intervalo é maior. Serão seis dias. Para o ex-volante Sandro, campeão da Libertadores em 2010, a opção por uma equipe titular pode ser compreendida:
— É quase uma semana de intervalo, e os jogadores precisam de ritmo. É um time cascudo.
Ele mesmo viveu situação semelhante no ano do bi da América. Entre a ida e a volta da semifinal (que valeria uma vaga ao Mundial), houve um Gre-Nal. Celso Roth escalou um time misto, e Sandro participou do clássico, que acabou empatado em 0 a 0 no Beira-Rio. Segundo o ex-jogador, é difícil, mas possível separar os compromissos, desde que tenha alguns cuidados:
— Ninguém vai tirar o pé nem nada, apesar de saber que o jogo grande está próximo. Não vou ser hipócrita de dizer que os jogadores vão pensar só naquele jogo. Mas dá para fazer os dois jogos tranquilamente.
Nesse caso, alguns jogadores em que a substituição não mantém a qualidade, é preciso ter ainda mais atenção. Enner Valencia é o maior dos exemplos. Seus reservas, Luiz Adriano e Lucca, não têm o mesmo rendimento. No gol, Rochet também é peça fundamental, assim como Alan Patrick na criação.
Perder jogador poucos dias antes de uma decisão foi uma experiência vivida em 2006. A última partida colorada antes do Mundial foi a 38ª rodada do Brasileirão, contra o Goiás, em casa. A equipe claramente se preservou (tanto que levou 4 a 1), ainda mais quando os adversários passaram a abusar das faltas. Em uma delas, Rentería levou a pior. E foi cortado da delegação que seria campeã em Yokohama. Pior para o colombiano, melhor para Leo. O atacante foi chamado às pressas para compor o grupo. Passada mais de uma década e meia, ele reconhece a dificuldade do tema:
— É complicado. Você sabe que precisa jogar bem e representar em um jogo, como no caso é esse contra o Athletico-PR. Mas ao mesmo tempo depois de alguns dias tem o confronto mais importante do ano.
Leo lembra que, em 2005, o Paulista, de Jundiaí-SP, campeão da Copa do Brasil, escapou do rebaixamento da Série B na última rodada. Um time com qualidade reconhecida passou enorme trabalho apenas para se manter na divisão.
— Nos jogos da Série B, não entrávamos como deveríamos, porque pensávamos nos compromissos que talvez fossem mais importantes — finaliza.
Por enquanto, segue o mistério. A tendência é de que o Inter viaje completo a Curitiba e, na capital paranaense, defina a equipe que entrará em campo. O mais provável é um misto quente, com titulares que precisam readquirir ritmo (Johnny e Vitão, por exemplo) ou não perdê-lo (Rochet) com reservas que preservem os insubstituíveis (Luiz Adriano é um dos casos).