Sobreviver ao estádio mais difícil de jogar na América do Sul é o grande desafio do Inter às 19h desta terça-feira (22), quando enfrentará o Bolívar no Estádio Hernando Siles e sua altitude 3,6 mil metros. A previsão é de cancha boliviana lotada para a partida de ida das quartas de final da Libertadores, e a expectativa de que os comandados de Eduardo Coudet possam sair desta encruzilhada com um resultado que lhes dê condição de confirmar a classificação no Beira-Rio, na semana que vem.
Para superar os efeitos do alto da montanha — dificuldade de respiração e dores de cabeça — o Colorado adotou a estratégia mais viável possível: pousar em La Paz apenas na manhã desta terça, em horário limite estabelecido pela Conmebol para a chegada das equipes para as partidas. Assim, a comissão técnica acredita que seus jogadores serão menos afetados pelos problemas do ar rarefeito.
Em termos de estratégia, porém, ainda não se sabe como Coudet montará o time. É lógico que não é recomendado que o time atue da maneira preferencial do argentino, que é a pressão alta para tentar recuperar a bola ainda no campo de ataque e jogar em velocidade. Será necessário ser mais cauteloso e dosar o oxigênio nos 90 minutos. Oito titulares não estiveram em campo diante do Fortaleza, pelo Brasileirão, sendo um indicativo de que poderão iniciar o confronto no Hernando Siles.
— Você tem de estar muito atento porque não sabe o que vai acontecer desde que se chega no lugar. Tem de estar falando o tempo todo com os jogadores. Nenhum time joga da mesma maneira lá, porque não pode. É a verdade, seguramente vai ser diferente — aponta o técnico colorado.
Um deles é Enner Valencia, principal contratação do Inter para temporada. Decisivo em Buenos Aires, quando marcou o gol colorado que manteve as esperanças de classificação nas oitavas de final contra o River, ele também teve participação importante no jogo da volta. Além disso, está acostumado a jogar em Quito, no Equador, de altitude de 2,8 mil metros. Não é a mesma de La Paz, porém, o suficiente para gerar dificuldade nas equipes.
— Ele tem de ser decisivo, veio exatamente para isso. E quando o Inter precisou, ele cumpriu o papel. Se repetir a dose, tem tudo para levar o Inter para mais uma fase — afirma o colorado identificado Vini Moura, colunista de GZH, que completa:
— Aqui na Bolívia estamos vendo a dificuldade que é viver um dia normal. Ele (Enner) disse que tem facilidade com esse tipo de jogo. Mas realmente tem essa experiência, que possa nos ajudar.
Valencia esteve no Estádio Hernando Siles com a seleção do Equador em 2016, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Na ocasião, marcou os dois gols da seleção equatoriana, que saiu perdendo por 2 a 0, mas recuperou-se no jogo no segundo tempo.
Encruzilhadas das quartas de final
Estes são os desafios, contudo, que o Inter está acostumado a superar. Servem de exemplo as campanhas campeãs de 2006 e 2010. Em ambos os casos, as quartas de final foram grandes encruzilhadas.
Na primeira conquista, o Colorado, que era muito criticado por ter ficado com o vice-campeonato gaúcho, saiu derrotado para a LDU por 2 a 1, também na altitude de Quito, mas conseguiu a heroica vitória por 2 a 0, no Beira-Rio, quando Rafael Sóbis e Rentería (aos 42 minutos do segundo tempo) balançaram as redes.
No título mais recente, a inesquecível fumaceira de Quilmes, no confronto com o Estudiantes, o time comandado por Jorge Fossati, que depois viria a ser substituído por Celso Roth, estava sendo eliminado pelos argentinos até os 43 minutos do segundo tempo, quando Giuliano fez o gol salvador que colocou o Colorado nas semifinais.