A definição será apenas no início da tarde deste sábado, mas ninguém está mais ansioso para participar de um jogo do que o próprio Charles Aránguiz. Na quarta-feira passada, ele voltou a sentir o gostinho de ver uma partida de perto pela primeira vez desde outubro de 2022, mas não foi chamado para entrar. Neste domingo, está cotado para, enfim, reestrear pelo Inter. O confronto com o Vasco está marcado para 16h, no Beira-Rio.
Aránguiz não será titular, certamente. Talvez nem mesmo jogue. Sua condição física não permite ficar mais do que meia hora em campo. Mas para quem não toca em uma bola durante uma partida há mais de 200 dias, qualquer minuto conta. O chileno, porém, convive com a expectativa de retornar aos gramados.
Por estar treinando com os companheiros há mais de um mês, sente-se pronto para jogar. A comissão técnica, com base em dados, é quem freia. A cautela de antecipar um retorno e perdê-lo por mais tempo se sobrepõe ao desejo do atleta. Aquele Aránguiz que encantou o Beira-Rio talvez não exista mais, mas a melhor versão do volante moderno, que passou mais de meia década na Alemanha, será vista a partir do final de junho. Após a Data Fifa, pode até mesmo ser titular.
A decisão de levá-lo ao Uruguai, a rigor, deu-se muito mais por uma questão de hierarquia do que propriamente de condição de jogo. Aránguiz só entraria se a partida permitisse. Ou seja, uma vantagem maior a poucos minutos do fim. Pegado como foi o confronto com o Nacional, ficou inviável aproveitá-lo no Gran Parque Central.
Em condições, Aránguiz "escolherá lugar" para jogar no Inter. Principalmente porque nas oito temporadas de Alemanha, atuou em todas as funções do meio-campo. Se na primeira passagem pelo Beira-Rio era um segundo volante que percorria espaços de área a área, no período no Bayer Leverkusen, foi também cabeça de área e armador. Resumo: Aránguiz pode ser 5, 8 ou 10.
Nas temporadas mais recentes, foi recuado. Era uma tentativa de qualificar a saída de bola do time. Um jogador que armasse o jogo desde a primeira linha. No Inter, trata-se de uma posição ainda em aberto. Agora, Rômulo e Campanharo tentam tomar o lugar que um dia foi de Gabriel. A versatilidade, porém, faz Aránguiz ser cotado também para outras posições do meio-campo.
— Na Alemanha, mudei a posição. Cada treinador busca o melhor ao time. Seguramente, o Mano verá onde posso render melhor. Estou à disposição no lugar que necessite. É um treinador com trajetória. Ele sabe como jogo — disse Aránguiz na apresentação.
Mas lugar à parte há ainda outro aspecto fundamental do chileno, que já era visto no Inter em 2014 e 2015, aprimorado na Alemanha. E não é a capacidade de leitura de jogo, nem é a qualidade de batida na bola. Nem mesmo a entrega em cada partida. Trata-se da imposição. A revista Trivela, que faz um acompanhamento de perto dos campeonatos europeus, descreveu assim a passagem de Aránguiz pelo Bayer Leverkusen: "Foi importante em diferentes momentos na BayArena e se acostumou a disputar as competições europeias. Teve momentos em que foi considerado entre os melhores de sua posição na liga, em especial nas temporadas 2017/18 e 2018/19. Pode não ter se transformado num craque de reconhecimento mundial, mas desenvolveu bem sua reputação na Alemanha. Chegou inclusive a usar a braçadeira de capitão".
Aránguiz volta ao Beira-Rio, também, para apagar a última impressão. Depois de um 2014 impressionante, com destaque até na Copa do Mundo disputada no Brasil, o 2015 foi em nível inferior. E a saída do Inter foi conturbada, forçando uma negociação que não era a preferida da então direção colorada. O chileno despediu-se do Inter tendo atuado, no último ano, apenas no Gauchão e na Libertadores. Suas últimas partidas foram as semifinais da competição continental, diante do Tigres, quando não atuou bem.
Apresentado como ídolo em abril, Aránguiz mudou de patamar quando jogou pelo Inter há nove anos. É hora de mudar o Inter de patamar em 2023.