Correção: O jogo entre Grêmio e Flamengo ocorreu em 1949, e não em 1953, como publicado entre as 13h19min e as 14h13min. O texto já foi corrigido.
Em 25 de fevereiro deste ano, GZH trouxe uma matéria sobre o jogo Inter x Aimoré, assinada pelo competente repórter Rafael Diverio. A reportagem buscava saber o real motivo de meu pai, Nelson Silva, um carioca radicado aqui no Rio Grande do Sul, ter se tornado colorado. Pois vou contar.
Ele chegou em 1943 aqui nos pampas para se apresentar com o conjunto Águias de La Noche. E se apaixonou pelo RS! Sempre dizia para mim e meus irmãos:
— Fiquei aqui porque o RS tem as mulheres mais bonitas do Brasil!
Porém ele não sabia que o nosso Estado tinha um sério problema de preconceito racial e social, que ainda hoje enfrentamos. Mas voltemos à história: como 80% dos cariocas, Nelson Silva era flamenguista e, naquele ano de 1949, jogavam Grêmio x Flamengo no Estádio da Montanha. Nelson resolveu assistir a seu time de coração. Chegou ao estádio e logo percebeu fisionomias estranhas na compra do ingresso. No momento do acesso ao estádio aconteceu o grande trauma.
- O senhor não vai poder entrar porque é negro! Nosso clube não admite negros!
Insistiu que era carioca e não tinha nada a ver com as regras do Estado. Explicaram a ele não se tratar de "regras do Estado" e, sim, do clube.
Nelson, então, muito chateado, foi embora. Mais tarde, soube que existia outro clube, rival do Grêmio, que era considerado o clube popular e onde eram aceitos negros. Nascia o amor dele pelo Internacional!
E o sentimento pelo clube só aumentou após escrever seu hino, tornando-se tão colorado que, nos jogos entre Inter e Flamengo, torcia pelo clube gaúcho a ponto de vibrar e chorar!
Radialista, ator e músico, meu pai também foi jurado do carnaval de Porto Alegre. Muitas vezes brigou e xingou a mim e a meus irmãos sobre a necessidade de estudar e o quanto era importante para um negro ser culto e informado. Ele tinha razão sobre isso, mas hoje vejo que não adiantou muito para a sociedade, pois ainda tem gente que se importa com a cor da pele. Vejo cada vez mais intolerância de cunho social!
Se hoje estivesse vivo, certamente Nelson Silva ficaria chocado ao assistir que o mundo e a nossa sociedade, em certos pontos, regrediram. Gritos ofendendo negros em todos estádios do mundo. Violência até mesmo em torcidas que torcem para o mesmo time.