Se há algo a dizer sobre a relação de Mano Menezes com os clássicos é que ele sabe o peso que essas partidas têm. Não tem nada de "mais um jogo", "vale os mesmos três pontos" e demais expressões que se usa para reduzir a importância dos confrontos. Talvez por isso, o técnico apresente um bom histórico nesses embates. Inclusive com más lembranças para os colorados. E talvez por isso, não seja possível cravar que o time está escalado para visitar o Grêmio na Arena no próximo domingo.
Por mais que seja uma partida pela 10ª rodada do Gauchão e que pouco valha em termos de classificação (o Grêmio já é o líder, o Inter está garantido nas semifinais), um Gre-Nal raramente é esquecido. Por isso, valoriza:
— É um jogo que muitas vezes vale mais que o campeonato e vamos tratar com essa importância.
O técnico passou por clássicos defendendo cinco equipes: Grêmio, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras. Segundo o site Ogol, seu cartel é de 63 jogos, com 29 vitórias, 20 empates e 14 derrotas. E aí entra uma estatística curiosa: na prática, está invicto em Gre-Nal.
Ele era o técnico do Grêmio no período 2005 a 2007. Houve seis clássicos neste período, quatro em 2006, dois em 2007. O Inter venceu um, perdeu dois e empatou três. Mas a vitória colorada, no segundo turno do Brasileirão de 2006, não tinha Mano na casamata: ele estava suspenso e viu das cabines Iarley marcar o gol do 1 a 0.
Claro que nos outros clubes não teve um desempenho tão alto, mas saiu de todos com vantagem. Até no Flamengo, onde ficou pouco tempo, conseguiu saldo positivo. Pelo Cruzeiro e pelo Corinthians (como já tinha sido no Grêmio), conquistou os Estaduais Mineiro e Paulista em cima de rivais — em Minas, contra o Atlético-MG, em São Paulo, diante do Santos. E até comandando o Palmeiras, de onde saiu sem deixar tanta saudade, ficou com números equilibrados.
Historicamente, pelo respeito aos clássicos, costuma fazer preparações especiais. Pelo Cruzeiro, mexeu no time para enfrentar o Atlético-MG na Copa do Brasil de 2019. Sem Fred, montou um time sem centroavante, com Pedro Rocha sendo o jogador mais adiantado. O atacante foi o melhor em campo na goleada por 3 a 0 do jogo de ida. Na volta, levou 2 a 0, mas garantiu a vaga. Sua mais célebre mudança de estratégia gaúcha foi na decisão do Gauchão de 2006, quando colocou um lateral diferente no meio-campo em cada partida da final (leia mais abaixo).
São essas memórias e esse respeito ao clássico que impedem a segurança de antecipar o time do Inter para o Gre-Nal. O treinador até falou sobre isso:
— A estratégia é a única coisa que não se pode falar, é o que se consegue esconder ainda em um futebol com informações que chegam de todos os lugares. Mesmo que a formação seja conhecida pelas pessoas na sexta-feira, a estratégia e a tática do jogo são coisas que você pode esconder.
Sendo assim, que não se descarte um Inter diferente daquele que vem sendo escalado. Será que vem algum lateral no meio? Um volante a mais? Luiz Adriano? Os treinos fechados de agora em diante poderão responder.
Clássicos marcantes
Gauchão 2006
O Inter era favorito ao título gaúcho. E não sem razão, tanto que no final do ano se consagrou campeão mundial em cima do Barcelona. Mas na decisão do Gauchão, Mano deu um nó. No primeiro clássico, escalou o lateral-direito Alessandro como meia, ocupando espaços e dominando o setor. Acabou 0 a 0. No segundo, repetiu a estratégia, desta vez com o lateral-esquerdo Wellington no centro. Um gol de Pedro Júnior, quando o lateral já havia saído, é verdade, garantiu o 1 a 1 e o título tricolor graças ao gol fora de casa.
Paulistão 2009
O Corinthians tinha a desvantagem de decidir na Vila Belmiro o Paulistão de 2009. E, para piorar, no primeiro jogo, o Santos havia arrancado um empate em 1 a 1. Por isso, cabia ao time de Mano Menezes a vitória na partida de volta. Ele fez uma troca na equipe: Dentinho deu lugar a Morais. Mas para além das mudanças, o Timão teve um Ronaldo inspiradíssimo. O Fenômeno fez um dos gols mais bonitos do ano, encobrindo Fábio Costa e dando a vitória por 3 a 1.
Copa do Brasil 2019
O Cruzeiro não vinha bem (e terminou o ano pessimamente, sendo rebaixado e tudo). Mas quando encontrou o Atlético-MG pelas quartas de final da Copa do Brasil. Para buscar um "fato novo", Mano mexeu na estrutura da equipe. Colocou Pedro Rocha como centroavante, deixando o ídolo Fred no banco. O Galo não entendeu a mudança, custou a compreender o que ocorria. O time de Mano fez 3 a 0 na ida. Na volta, até sofreu, mas administrou e, mesmo perdendo por 2 a 0, avançou.
Números em clássicos
- Pelo Grêmio (vs Inter) - 5j* - 2v - 3e
- Pelo Cruzeiro (vs Atlético-MG e América-MG) - 27j - 14v - 7e - 6d
- Pelo Flamengo (vs Vasco, Fluminense e Botafogo) - 3j - 2v - 1e
- Pelo Corinthians (vs Palmeiras, São Paulo e Santos) - 25j - 10v - 8e - 7d
- Pelo Palmeiras (vs Corinthians, São Paulo e Santos) - 3j - 1v - 1e -1d
Total: 63 jogos - 29 vitórias - 20 empates - 14 derrotas
* Tem uma derrota, mas estava suspenso