Há no Inter o entendimento de que a contratação de um centroavante é necessária para uma temporada que, além do Gauchão, Brasileirão e Copa do Brasil, terá a volta da Libertadores ao calendário colorado. A busca por um jogador para a função é um desafio para um clube com dificuldades financeiras. Por conta disso, Alemão iniciará 2023 como titular.
O atleta, que há um ano era apenas um jovem emprestado pelo Avaí para atuar no Novo Hamburgo no Gauchão, inicia o Estadual como o comandante do ataque do time Mano Menezes — que busca acabar com a seca de seis anos sem título.
No Novo Hamburgo, Alemão sequer jogou toda a fase de classificação do Gauchão. Uma lesão lhe deixou fora das últimas rodadas. Nas sete partidas que esteve em campo, marcou dois gols e deu três assistências. Uma delas, no empate com Inter no Beira-Rio, chamou a atenção do Centro de Análise e Prospecção de Atletas (Capa) do clube.
Alemão chegou ao Inter após o Estadual para ser alternativa para Alexander Medina. O planejamento era contratar no meio do ano um camisa 9 para ser titular após Wesley Moraes não dar sinais de que entregaria o esperado. Mas Alemão deu uma resposta inicial acima da expectativa.
Já com sem o técnico uruguaio, atacante anotou três gols nos primeiros seis jogos, que garantiram as vitórias sobre Fortaleza e Fluminense, no Brasileirão, e Independiente Medellín, pela Sul-Americana.
Assim, virou centroavante titular de Mano, condição que não mudou mesmo com chegadas de Romero e Mikael, que não corresponderam. Jogador que veio com menor cartaz, Alemão foi, dos quatro centroavantes contratados pelo Inter, o que melhor rendeu em 2022.
Curiosamente, centroavante não foi a posição de origem do catarinense nascido na pequena cidade de Campo Erê. A nova função surgiu quando defendia o Fluminense de Joinville, em 2019, por uma sequência de lesões em jogadores da posição, conforme contou a GZH o técnico de Alemão na época.
— Chegou como extrema, mas nosso meia se machucou e era algo que já estava pensado. Via que ele conseguia ter bom domínio, controle e era bom de receber a bola com espaço e partir de frente para cima. O centroavante se machucou e falei: vai você mesmo. Ele foi bem como centroavante, até não fazia tantos gols, mas ajudava bastante com assistências e segurando bem a bola gerando situações para os companheiros. Sempre foi um garoto extremamente profissional. Ele sempre se entregou muito. Treinava bastante, chamava os jogadores para batalhar muito com a equipe. Éramos um clube com bastante dificuldade, mas ele sempre demonstrava essa dedicação — relembrou Valmir Israel.
Alemão terminou a temporada com 10 gols em 42 jogos – foi o artilheiro colorado ao lado de Edenilson. A média de 0,23 por partida não é alta, o que contribui para ideia na imprensa e torcida de que o Inter precisa de centroavante de maior porte para encarar a Libertadores.
Ex-camisa 9 colorado e de sucesso no final dos anos 1990, Christian diz entender o atual momento de Alemão. Ele é direto: é preciso fazer gols para que o atacante mude a opinião pública e mostre que o clube está bem servido para a posição.
— Passei por isso dentro do Inter. No início do Brasileirão 1997, o cenário era mais ou menos esse. A gente tinha conquistado o Gauchão, mas existia a visão de que era preciso trazer um jogador mais experiente e afirmado. O que acontece? Quando se está em uma situação dessas tem de aproveitar as chances. O centroavante deve fazer gol, ser um jogador importante para o grupo e decisivo. Fazendo isso, o torcedor vem junto e a imprensa começa a mudar a visão — avalia Christian, que hoje é diretor da Success Sport, empresa especializada em gestão esportiva.
Sobre a busca do Inter por centroavante no mercado, Christian vê como correta a estratégia da diretoria de adotar calma. Ele cita a pressão que a chegada de Luis Suárez ao Grêmio gera, mas diz que o Colorado não pode fazer investimentos além das suas possibilidades.
— No momento em que chega um Suárez para o Grêmio, mesmo com a idade avançada, mas um jogador top, isso joga pressão para o outro lado. Eu tenho pés no chão no sentido de querer fazer algo para dar resposta. É preciso ter equilíbrio para escolher um atleta com idade boa, já que a sequência do Brasileirão é dura. A logística aqui gera um desgaste grande. Quanto ao Alemão, ele não tem de entrar nessa comparação, não existe. É impossível fazer uma comparação dessas. Ele tem de deixar o rival de lado e fazer a parte dele — completa.
No próximo sábado, às 19h, o Inter iniciará sua caminhada no Gauchão diante do Juventude. Será a primeira oportunidade para Alemão tentar mostrar que a direção não precisa ter pressa na busca por um centroavante.