Pedro Henrique não é só um ponteiro veloz que lidera a média de participação de gols entre todos os jogadores do Brasileirão. Também é bem mais do que um descendente de alemães e que usa a fama de "colono" para brincar nas redes sociais e com os amigos. O atacante do Inter é, antes de tudo, um cidadão do mundo. De Santa Cruz do Sul a Tessalônica, do Gauchão à Champions League, o carismático jogador colecionou histórias curiosas, divertidas e de aprendizado. Rodou a Europa e trouxe lições para o retorno ao Rio Grande do Sul.
Convidado do programa Bola nas Costas, da Rede Atlântida, ele se adaptou bem ao espírito humorístico. Brincou com os apresentadores, mostrou que conhecia os personagens (segundo ele, é ouvinte assíduo de rádio desde criança, quando ouvia com seu avô) e se soltou, mas sem perder a postura profissional.
Claro que falou do Inter. Lembrou sua chegada após uma negociação na qual precisou abrir mão de disputar a final da Copa da Turquia, entre Sivasspor (seu clube da época) e Kayserispor (seu clube anterior). É que a janela brasileira seria fechada e só reabriria depois de três meses. Mas reconheceu que apenas demonstrar interesse e reforçar sua torcida pelo Inter não seria suficiente:
— Eu queria muito estar aqui. Minha família e as pessoas sabem o quanto briguei para isso. Mas não é suficiente. Precisava agregar qualidade, coisas boas. Só dizer que sou colorado não ia adiantar nada, iam me falar: "Então vem para a arquibancada com a gente".
Do momento atual, deixou claro que a queda para o Melgar na Sul-Americana ainda incomoda. Ficou sério, tirou o sorriso e falou em um tom mais baixo:
— São coisas do futebol. Vínhamos de uma classificação que tinha sido tão difícil, contra o Colo-Colo. Mas não conseguimos fazer os gols. Menos mal que, no Brasil, o futebol te permite dar resposta dois, três dias depois. Futebol não tem tanta lógica, o time mais fraco tem chances de ganhar do mais forte. Foi uma mancada.
Ele também comentou sobre a renovação do grupo. Disse que os jogadores jovens e que chegaram do Interior, como Alemão, ou que vieram do Exterior, casos de Alan Patrick, De Pena, Vitão e Wanderson, queriam mostrar o que sabem. Sob supervisão da experiência de Mano Menezes, tentam dar um novo ânimo ao clube, por trazerem características complementares entre si. Sobre Wanderson, deu uma resposta interessante sobre essa disputa na titularidade da ponta.
— É a qualidade do nosso grupo. Treinamos todos os dias juntos, nos damos muito bem. Somos da mesma posição, mas com características diferentes.
E lembrou de sua carreira na Europa. Pedro Henrique recordou que, nos tempos de Rennes, na França, era praticamente um segundo lateral. Assim, equilibrava o time para que atacasse pela outra ala do campo. Porém, quando foi para o PAOK, em Tessalônica, na Grécia, era ele o segundo atacante e o outro extrema fazia o "trabalho sujo".
Além da cidade grega, Pedro Henrique morou também em Zurique, Rennes, Baku (Azerbaijão), Astana (Cazaquistão), Kaiser e Sivas (ambas na Turquia). Pelo time azerbaijano, viveu um de seus maiores momentos: em 27 de setembro de 2017, marcou o gol do Qarabag contra a Roma pela Champions League. O goleiro da equipe italiana era Alisson, titular da Seleção. Foi 2 a 1 para os adversários, mas PH entrou para a história.
A vida na Europa, aliás, trouxe lições. O atacante comentou que viveu entre "gregos e troianos", por ter jogado no PAOK e também em dois times da Turquia. E vem daí sua maior lamentação. Não conseguiu viver sempre o ambiente fanático das torcidas desses países:
— Era o começo da pandemia, então jogamos com estádios vazios.
Ele nem pode mais ouvir falar nisso. Quer arquibancadas cheias sempre. E iniciou a campanha por um Beira-Rio lotado no domingo, quando as Gurias Coloradas recebem o Corinthians na primeira partida da decisão do Brasileirão Feminino.
— Vi o jogo ontem (segunda-feira). Que baita vitória, mas que sofrimento. A Mayara defendeu aquele pênalti, depois salvou outra com o pé. É hora de apoiar as meninas — pediu.
Como se vê, está integrado ao Inter. E não só por fazer um gol ou dar uma assistência a cada 149 minutos, o primeiro lugar no ranking do Brasileirão. Mas também porque sabe o quanto foi trabalhoso sair de Linha Pinharal, no interior de Santa Cruz do Sul, rodar pelo Caxias, garimpar espaço na Europa e, enfim, estar em seu time do coração, ao lado da família, ouvindo rádio como fazia seu avô e se divertindo entre bergamotas e bandinhas alemãs.