Escalado como titular nas duas últimas rodadas do Brasileirão, Johnny deve ser mantido na equipe que receberá o Juventude, a partir das 20h desta segunda-feira (29), no Beira-Rio. Versátil, o jovem surgiu como volante, mas atuou como atacante nas categorias de base do Inter, tem sido um dos trunfos do técnico Mano Menezes.
Aos 20 anos de idade, o jogador que nasceu em Denville, nos Estados Unidos, busca se afirmar no clube do coração do pai, mas sem esquecer a possibilidade de chegar à Copa do Mundo no Catar. Tudo isso foi abordado em uma entrevista exclusiva para GZH. Confira:
O técnico Mano Menezes usou você como titular nas últimas duas rodadas e tem elogiado suas atenções. Como você recebe isso?
Não tem preço escutar isso de um técnico que é vitorioso, que tem uma história muito positiva dentro de futebol. Obviamente, isso me dá confiança e me deixa mais tranquilo para que eu possa me sentir à vontade dentro de campo.
Você surgiu como volante, na base foi atacante e tem sido escalado como um meia aberto pela direita. Qual é a sua verdadeira posição?
Minha história é um pouco engraçada. Cheguei para jogar na base como centroavante e ponta. Desde então, joguei como atacante e meia mais avançado até o sub-17. Tive uma mudança de posição para volante. Joguei um Gauchão e um Brasileiro em seis meses assim e foi uma mudança positiva, porque me encaixei e vi que meu futebol se desenvolvia melhor. Então, pego os pontos positivos de quando jogava de atacante e agrego hoje na minha posição. Acho que isso me valoriza e uso como evolução. Me considero um atleta muito versátil. No começo foi difícil, mas sempre tive uma característica de marcar muito, de trabalho coletivo. Então, sempre me senti à vontade fazendo esse papel. E isso hoje me ajuda.
Você nasceu nos Estados Unidos, mas a sua família é de onde? Como você veio parar no Inter?
Minha família é de Criciúma, em Santa Catarina. Fui criado lá. Voltei cedo dos Estados Unidos. Nasci na época do atentado das torres gêmeas. Foi uma loucura, minha família voltou para cá. Meu pai era goleiro e sempre foi muito fã do Taffarel. Então, minha conexão com o Inter começou cedo. Meu pai já acompanhava o Inter e o carinho veio se criando. Comecei no futsal e fiz minha mudança para o campo, jogando no Avaí e Criciúma. Quando surgiu a oportunidade de vir para o Inter, não pensei duas vezes. Acho que foi a escolha mais certa que fiz na minha vida até agora.
E quando o João Lucas virou Johnny?
Meu pai sempre me chamou de Johnny. Em casa, só me chamam de João quando estão bravos. Até eu acho estranho. Hoje em dia meu nome é Johnny.
Por que você nasceu em Denville, nos Estados Unidos? E já visitou a cidade depois de adulto?
(Denville) fica perto de Nova Iorque. Voltei lá uma vez, fomos na casa onde meus pais moraram. Não lembro de nada, mas vendo fotos da época, são recordações que levo para a vida. Meu pai foi primeiro para lá, a trabalho. Depois foi minha mãe. Eu nunca entrei neste assunto com eles, mas obviamente a ideia era ficar nos Estados Unidos. Decorrente do atentado às torres gêmeas, a volta foi decidida. O resto da família estava aqui no Brasil. Querendo ou não, era difícil manter uma família lá pelo momento que estavam vivendo. Eu recém tinha nascido. Acredito também que estava tudo nos planos de Deus. Se eu não tivesse voltado, não estaria aqui (no Inter).
E como a seleção americana te descobriu? Foi trabalho de prospecção ou houve um contato teu?
Junto com meu empresário, existiu o interesse deles e um contato nosso. Tipo, uma propaganda, falando que eu era americano. Eu era muito novo, tinha 17 anos, ainda jogava como meia-atacante. Foi para o time sub-23 minha primeira convocação e desde então me conheceram melhor, tive bons desempenhos nos treinos e isso fez com que eu tivesse continuidade.
Em outra entrevista, você disse que não fala inglês fluente. Como foi o primeiro contato com os jogadores?
Eu me senti muito à vontade. Eles me acolheram muito bem, porque valorizam muito o futebol do Brasil. Não tenho fluência no inglês ainda, mas consegui me enturmar. Até teve uma brincadeira que, na primeira vez que fui, tive que me apresentar, cantar. Então, acho que isso me fez ficar mais à vontade ainda. É um sonho de qualquer jogador estar em uma seleção e para mim é um privilégio representar os Estados Unidos.
Você disse que cantou. Era música em português ou inglês?
Cantei em inglês. Era Payphone, do Maroon 5 (risos).
Tem Copa do Mundo este ano. Dá para chegar no Catar? Quem são os seus concorrentes da posição?
Todo atleta tem um sonho e o meu é jogar uma Copa do Mundo. Claro que eu não imaginaria que tão cedo eu teria esta chance. Sou muito novo, tenho 20 anos apenas. Então, é um privilégio me sentir no meio e saber que tenho uma certa chance de participar da Copa. Mas meu foco está no Inter, cada passo de cada vez e tudo vai depender do meu desempenho aqui. A competição é muito forte. A idade média da seleção é de 23 anos, tem muito atleta que está crescendo também. Na minha posição, tem o McKennie, da Juventus, o Tyler Adams, do Leeds United, o Musah, do Valencia. São jogadores de alto nível, mas isso é positivo, porque me coloca em uma competição comigo mesmo e faz com que eu evolua.
Não quero cortar o seu sonho, mas a concorrência é pesada. Parece-me que para a próxima Copa, em 2026, nos Estados Unidos, México e Canadá é mais viável a sua convocação. Este é o projeto?
Com certeza. E eles falam que a seleção dos Estados Unidos está sendo preparada para essa Copa em casa. Tem muita gente jovem no elenco e com tempo, tudo vai demorar. Acho que já é uma seleção de nível top e acredito que a Copa em casa possa ser o auge. Nas últimas Copas, os Estados Unidos não tiveram um desempenho muito legal, mas acredito que o futebol lá vem crescendo muito e vai ser uma das seleções top.
O grupo dos Estados Unidos tem Inglaterra, País de Gales e Irã. Aonde este time pode chegar na Copa de 2022?
A gente sempre sonha alto, né? Sabemos da dificuldade que é, das seleções fortes que tem, mas chegar à fase de mata, passar da fase de grupos, é um ponto positivo que daria confiança. Já seria válido.
Você recebeu uma sondagem de um clube da Major League Soccer. Você almeja jogar lá um dia?
Sim, ainda tenho um sonho de jogar um dia nos Estados Unidos, de voltar a morar lá. Esta parte deixo para os meus empresários, procuro não me envolver tanto e deixo minha cabeça voltada para o Inter. Como eu disse, só vai acontecer uma transferência, caso eu desempenhe um bom futebol. Então, deixo isso fora da minha preocupação. Tenho um carinho enorme pelo clube. Desde a base, a minha vida é o Inter. Claro que as sondagens são positivas, quer dizer que o trabalho está dando resultado. Mas deixo isso nas mãos do meu pai e meus empresários. Prefiro focar na minha evolução.
Quais teus amigos mais próximos aqui no elenco do Inter?
Tenho uma afinidade muito legal com todo mundo, mas a gente acaba tendo um entrosamento maior com o pessoal mais jovem. Com o Lucas (Ramos), o Emerson Júnior, o Mauricio, o Kaique (Rocha). Isso só ajuda a gente, poder contar um com o outro na nossa constante evolução. Todos têm entre 20 e 22 e crescer junto é muito legal. Principalmente com o "Mosquitinho" (Lucas Ramos), que vem comigo desde a sub-13. Então, saber que a gente lutou juntos na base, batalhou e hoje estamos realizando nossos sonhos, me deixa muito feliz.
E os mais experientes do vestiário? Com quem você se aconselha?
A gente tem uma família e procuro escutar muito os mais experientes. O Edenilson é um cara que eu me espelho. Procuro escutar muito o Taison, o Mercado, que jogou Copa do Mundo, o Alan (Patrick). São minhas inspirações, procuro aprender com eles. Tive o privilégio também de compartilhar o campo com o D'Alessandro, que é um ídolo. Mesmo fora de campo, o velho ajuda bastante.
E fora do Inter, quais são teus espelhos?
Meu ídolo é o Kaká. Dentro e fora de campo, me inspiro muito nele. Sempre acompanhei o Guti, que jogou no Real Madrid e gosto muito do estilo de jogo dele. E hoje em dia, gosto de me espelhar em quem está comigo. Então, me espelho no Ed, Gabriel e De Pena, que estão me ajudando e eu me sentir à vontade com eles faz tornar melhor o nosso trabalho.