É curioso, mas possivelmente Carlos de Pena nem estivesse em Porto Alegre se não fossem duas razões: a guerra entre russos e ucranianos e o ex-técnico colorado Alexander Medina. O meia uruguaio é esperança de equilíbrio e ofensividade para o Inter enfrentar, vencer e golear o 9 de Octubre e se classificar às oitavas de final da Copa Sul-Americana. A partida decisiva está marcada para 21h30min desta terça-feira, no Beira-Rio.
Avançar na competição continental alivia, de certa forma, o ambiente colorado depois de um começo decepcionante em 2022. O Inter caiu na primeira fase da Copa do Brasil para uma equipe da quarta divisão, foi eliminado do Gauchão tendo perdido, em casa, para o Grêmio (atualmente na Série B) e não embala no Brasileirão (apesar de estar a quatro pontos do líder, ocupa a posição de número 11 na tabela).
A Sul-Americana, assim, surge como uma última esperança de buscar algo grande. Financeiramente, a classificação também dá um fôlego: cada time que chegar às oitavas de final leva consigo US$ 500 mil (o equivalente a R$ 2,4 milhões).
De Pena parece fundamental para atingir isso, o que não deixa de ser surpreendente. Ele chegou sob desconfiança em Porto Alegre. Vindo do Dínamo de Kiev, da Ucrânia, pôde ser contratado em razão da liberação da Fifa para os atletas dos países em guerra terem seus contratos suspensos e poderem assinar com outros clubes.
Depois de conseguir escapar da Ucrânia ao lado de outros jogadores sul-americanos, em um comboio que os levou até Bucareste, na Romênia, De Pena voltou ao Uruguai e, de Montevidéu, garantiu que nunca mais pisaria na Ucrânia. Mesmo tendo contrato com o Dínamo, fará o que precisar para não retornar ao Leste Europeu.
Acertou-se com o Inter até o final de 2022 com possibilidade de extensão do vínculo. E há de se fazer justiça: sua indicação foi feita por Cacique Medina. Nas redes sociais e na interatividade dos torcedores, brinca-se que foi o grande legado do treinador de curta passagem no Beira-Rio.
Mano Menezes chegou e não só bancou o uruguaio como ainda adaptou-o a curinga no meio-campo. Depois de jogar de extrema, agora virou meia pela esquerda, aproveitando sua batida na bola, que proporciona bons passes e chutes, e a inteligência para interpretar os espaços. O técnico não poupou elogios ao jogador em sua última entrevista:
— De Pena tornou-se importante para o time a tal ponto que tivemos de cuidá-lo, deixar fora de boa parte do jogo (contra o Cuiabá). Ele vinha sentindo a parte física. Quando começa a repetir muito, cansa e perde a qualidade.
O uruguaio não passou trabalho para se adaptar. Sempre que pôde, reconheceu as oportunidades que recebeu e agradeceu ao treinador, como na última entrevista:
— A confiança dos treinadores é fundamental. Mano confiou em mim, me deu sequência e tento devolver isso ao técnico. Fiquei no banco (contra o Cuiabá), entendo, porque na semana que vem já tem outra partida importante.
Esse reconhecimento também vem das arquibancadas, quando De Pena é sempre um dos jogadores mais aplaudidos no anúncio da escalação, e da crítica.
— De Pena tem ênfase do meio para a frente, com talento para se movimentar, finalizar, tem bom chute de fora da área, dialoga com Wanderson pela esquerda e ajuda os demais jogadores do meio e até do ataque — opinou o comentarista Diogo Olivier, da Rádio Gaúcha, colunista de GZH.
É esse ímpeto ofensivo que o Inter precisará para vencer os equatorianos no Beira-Rio. De preferência, com goleada.