A carreira de Andrés D'Alessandro terá seu último capítulo escrito neste domingo (17). Contra o Fortaleza, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, o argentino vai fazer sua despedida do Inter e da vida de atleta profissional onde escolheu: dentro do Beira-Rio diante da torcida colorada.
O Inter e o Beira-Rio foram a casa de D'Alessandro nos últimos 14 anos. Mesmo nas temporadas em que esteve longe — em 2016 defendeu o River por empréstimo e atuou no Nacional-URU no ano passado —, o argentino nunca deixou de manifestar seu carinho pelo clube gaúcho.
1) A estreia justo em Gre-Nal (Sul-Americana de 2008)
Foi na noite de 13 de agosto de 2008 que D'Alessandro defendeu o Inter pela primeira vez. O Beira-Rio recebeu o argentino e os outros 21 protagonistas em um Gre-Nal válido pela primeira fase da Sul-Americana. O clássico estava na sua edição de número 371, mas era a segunda vez em que a Dupla se enfrentava em torneios continentais. O empate em 1 a 1 acabou sendo suficiente para o Colorado, que obteve a classificação na volta, no Olímpico, com outro empate, dessa vez por 2 a 2, e seguiu seu caminho rumo ao título.
2) O primeiro gol em Gre-Nal
Dois Gre-Nais depois, o de número 373 teve o primeiro gol de D'Alessandro no clássico. O Grêmio chegou ao Beira-Rio naquele dia carregando a liderança do Campeonato Brasileiro, mas quem dominou as ações foi o Colorado. Com D'Ale como puxador, Alex, Magrão, Guiñazu, Nilmar e Índio tiveram atuações destacadas.
O grande desempenho do argentino foi coroado pelo golaço de perna esquerda, carimbando um quase voleio da entrada da área depois de um cruzamento de Alex mal afastado pela zaga tricolor. Assim o placar foi aberto para a goleada de 4 a 1 que viria. Esse foi apenas o primeiro gol de D'Alessandro em Gre-Nais. O número total ficou em nove, o tornando o maior artilheiro do clássico neste século.
3) Final contra argentinos
Aquela campanha de Sul-Americana que marcou a estreia de D'Alessandro teve como prêmio final a taça. D'Ale, Tite, Nilmar, Magrão, Guiñazu, Bolívar, Índio, Alex e cia queriam aquele título que determinaria: Inter campeão de tudo. Na final, dois jogos complicados contra o Estudiantes de Juan Sebastián Verón que no ano seguinte viria a ser campeão da Libertadores. Alex fez o gol da vitória de 1 a 0 em La Plata, mas os argentinos devolveram o placar no Beira-Rio. Na prorrogação, D'Alessandro bateu o escanteio que terminou com Nilmar marcando o gol do título. Taça na mão e uma sorridente volta olímpica no Beira-Rio, no primeiro título conquistado por D'Ale no Inter, antes mesmo de completar cinco meses no clube.
4) Primeiro Gauchão
No Rio Grande do Sul não basta penas ganhar títulos fora do Estado. É preciso mandar no seu território. E logo em seu primeiro Gauchão, D'Alessandro foi campeão. Em 2009, Alex saiu e Taison para formar com Nilmar e D'Ale um trio ofensivo que está na memória de todo colorado. Invicto e vencendo três Gre-Nais, o Inter sagrou-se campeão sem a necessidade de uma final já que conquistou os dois turnos.
A decisão do segundo turno teve um placar para não deixar dúvidas sobre o merecimento do título: um 8 a 1 sobre o Caxias no Beira-Rio. D'Alessandro, claro, deixou sua marca.
5) Decisão na Libertadores
Formado no gigante argentino River Plate e com passagem pelo San Lorenzo em seu país, D'Alessandro realizou o sonho de ganhar uma Libertadores no Inter. Em 2010, ele foi protagonista do time que chegou ao título sob o comando de Celso Roth.
Antes da final contra o Tigres, o Inter reviveu o confronto com da decisão de 2006 com o São Paulo na semifinal e D'Ale foi protagonista. Após uma grande atuação no Beira-Rio, ele bateu no Morumbi a falta que Alecsandro desv iou para marcar o gol que colocou o Colorado na final. Na decisão, D'Alessandro teve duas atuações destacadas diante do Chivas, adversário derrotado pelo Inter nos dois jogos para a festa no Beira-Rio. Inter bi da Libertadores e D'Ale pela primeira vez com a taça mais importante do continente em suas mãos.
As boas atuações, principalmente na reta final daquela Libertadores, colocoram os holofotes do continente em D'Alessandro. No final daquele ano, o argentino foi coroado com o tradicional prêmio de Rei da América, dado pelo jornal El País do Uruguai. D'Ale superou o compatriota Verón e o brasileiro Neymar para ficar com o troféu de melhor jogador do continente em 2010.
6) Mais um bi continental
D'Ale e Damião em grande fase levaram o Inter à reconquista da Recopa Sul-Americana, em 2011, quatro anos depois do primeiro título. Mais uma vez encarando compatriotas, o camisa 10 liderou a equipe colorada. Teve bola na trave em troca de passes com o centroavante, cruzamentos para os atacantes, além, é claro, de acompanhar de perto todas aproximações dos jogadores do Independiente ao árbitro. D'Alessandro aguentou o ritmo intenso da entrega até os 18 minutos do segundo tempo. Caiu sentindo lesão, levantou tentando continuar, mas deixou o gramado três minutos depois.
7) O último título do Olímpico
Em 2011 a Arena do Grêmio já estava sendo construída, mas ninguém imaginava que o último título do antigo estádio do rival seria carregado e levantado por D'Alessandro. O argentino abasteceu o ataque como sempre e marcou o terceiro gol colorado na partida, de pênalti, garantindo o 3 a 2 que levou a decisão do Gauchão daquele ano para as cobranças alternadas da marca de cal. O técnico Falcão superava Renato Portaluppi e o meia argentino fazia a festa na frente de uma multidão de torcedores gremistas. Em dezembro do ano seguinte, Olímpico desativado, Grêmio se mudando para a Arena, e a última taça do velho casarão foi vermelha.
8) Golaço contra o Atlético-MG na Libertadores
Quatro anos depois, o goleiro Victor, camisa 1 do Grêmio na maioria dos gols feitos por D'Ale em Gre-Nais, reencontrou o argentino pelo Atlético-MG, na Libertadores. O Inter de Diego Aguirre superou o Galo nas oitavas de final. Empate por 2 a 2 em Minas Gerais e vitória por 3 a 1 em Porto Alegre, com direito a golaço de D'Alessandro. O argentino recebeu de costas para o gol, girou e finalizou com a canhota. Acertou o ângulo de Victor. Golaço e mais uma classificação dos pés do camisa 10 com a cara dele.
9) Reinauguração do Beira-Rio
Foi um amistoso contra o Peñarol, não havia a pressão por uma taça nem uma busca por vaga que aproximasse o Inter de alguma conquista inédita, nada da competitividade que D'Alessandro historicamente usou para crescer em campo, mas mesmo assim o camisa 10 soube brilhar no momento histórico do clube. Foi de D'Ale o primeiro gol do Beira-Rio após as obras para a Copa do Mundo de 2014. O choro do argentino comemorando a inauguração do novo placar mostrava que para ele aquele momento era tão especial quanto para os milhares de torcedores que gritavam das modernas arquibancadas.
De todas as emoções do então novo estádio, D'Alessandro ficou. Seis anos depois, voltará pela última vez como jogador do Inter ao Beira-Rio neste sábado. Sem poder dividir presencialmente as lágrimas com ninguém, caberá aos colorados, de casa, guardar detalhes de cada uma das 516 partidas dele na memória que o camisa 10 construiu.
10) O gol no retorno
D'Alessandro deixou o Inter duas vezes nestes 14 anos. Depois da passagem por empréstimo pelo River Plate em 2016, ele atuou na temporada 2021 pelo Nacional. Aos 40 anos, ele decidiu que a carreira estava próxima de terminar, mas quis retornar ao Inter para um contrato de quatro meses de sua despedida.
Esse retorno teve também gol. E foi logo no primeiro jogo no Beira-Rio. em 29 de janeiro, o camisa 10 precisou de apenas 19 minutos em campo para balançar as redes. Ele entrou quando o Inter vencia o União-FW por 1 a 0 e passava por dificuldades. Bastou uma falta na frente da área para ele mostrar sua qualidade e mandar para o fundo das redes garantindo o triunfo do time de Alexander Medina por 2 a 0.
— Passa um filme. Quando mais preciso, alguma coisa acontece. Eu precisava jogar um pouquinho. Entrei. Claro que o gol é algo a mais. A família retornou ao Beira-Rio. O Gonzalo, meu filho pequeno, me viu jogar no Beira-Rio. Isso mexe comigo. O carinho do torcedor sempre. O mínimo que posso fazer — declarou emocionado na saída do gramado.