Entre admiradores e detratores, Eduardo Coudet não deixou ninguém indiferente durante sua passagem pelo Inter. Nesta terça-feira (9), completa-se um ano que o argentino trocou o comando colorado pelo do Celta de Vigo. Desde então, o Inter teve outros três treinadores e se distanciou muito daquilo que era visto em campo quando "Chacho" estava à beira do gramado.
O último jogo com Coudet foi o empate em 2 a 2 com o Coritiba, no Beira-Rio. Naquela partida, Musto foi mais uma vez titular do treinador. A titularidade do volante foi uma das escolhas mais criticadas durante a passagem do técnico por Porto Alegre. Com Galhardo, atualmente jogador de Coudet na Espanha, suspenso, Yuri Alberto formou o ataque ao lado de Abel Hernández.
O Inter esteve duas vezes à frente no placar, mas cedeu o empate. No segundo tempo, o argentino efetuou uma troca incomum: Yuri deixou o time para o ingresso de Rodinei, aos nove minutos do segundo tempo.
A relação de Coudet com a direção estava atritada, porque ele queria contar com um elenco mais robusto. Os comentários públicos do treinador de que o grupo era "curto" não agradavam a cúpula do futebol colorado. Uma das poucas contratações pós-parada da pandemia, Mauricio não empolgou o argentino.
— Não considero um reforço a curto prazo. É um jogador que tem boa condição, mas todavia não teve continuidade na primeira divisão — disse à época.
O contexto fez com que mesmo líder do Brasileirão, com mais pontos do que o Atlético-MG, mas com um aproveitamento pior — o Galo tinha um jogo a menos —, Coudet optasse por ir para a Espanha após 46 partidas, com 24 vitórias, 13 empates e nove derrotas.
Depois de 365 dias, veja o que mudou no Inter e na vida de Coudet.
1) Mudanças táticas
Sem Coudet, a solução encontrada foi Abel Braga. Após oscilar nas primeiras semanas de trabalho, o treinador encaixou uma formação com uma equipe que, na maioria dos momentos, fazia uma marcação mais recuada. A estratégia permitiu que o Inter disputasse o título até o último segundo do Brasileirão 2020.
Na virada entre as temporadas, desembarcou no Beira-Rio o espanhol Miguel Ángel Ramírez e seu jogo de posição. O time não engrenou e logo no começo do Brasileirão, o departamento de futebol buscou Diego Aguirre.
— Foram muitas mudanças. Há diferenças grandes entre ele e o Abel Braga, o Ramírez também e, agora, para o Aguirre. Com o Coudet, era um time que buscava mais a bola, mas com um estilo de ataque diferente do Ramírez. O time do Coudet tinha uma mobilidade maior e tinha movimentos mais bem pensados. A principal mudança é a marcação, que era muito forte no campo de ataca. Para mim, Coudet foi um dos melhores técnicos que o Inter teve nos últimos anos — avalia Rodrigo Coutinho, analista do portal UOL.
O esquema tático de Coudet não variava. Seu time sempre estava postado no 4-1-3-2. Porém, os nomes tinham alguma rotatividade.
2) Mudanças de nome
A fotografia colorada dos tempos de Coudet para a equipe atual tem mudanças significativas. O time base ideal do argentino tinha Marcelo Lomba; Saravia, Bruno Fuchs, Cuesta e Moisés; Musto; Edenilson, Boschilia (Rodrigo Lindoso) e Patrick; Galhardo e Guerrero.
No decorrer da temporada, algumas alterações foram necessárias. Fuchs foi vendido para o futebol russo. Zé Gabriel, por ter melhor saída de jogo, foi o escolhido para a vaga, com Rodrigo Moledo seguindo entre os reservas. Saravia sofreu lesão no joelho e precisou ceder espaço para Heitor. Mesma situação foi vivida no ataque, quando Guerrero e precisou passar por cirurgia. Yuri Alberto, Marcos Guilherme e Abel Hernández foram utilizados na posição.
A necessidade de mudar também se fez presente quando, em outubro, Boschilia ficou a cargo do departamento médico por lesão no joelho. Lindoso voltou a ganhar espaço. A decisão de ter o volante e Musto juntos em diversas partidas foi quando recaíram as críticas mais severas ao trabalho de Coudet.
Do time titular atual, Marcelo Lomba perdeu a titularidade para Daniel. Bruno Méndez se tornou o companheiro de zaga de Coudet. Musto deixou o Beira-Rio, e Rodrigo Dourado, recuperado de lesão, retornou à equipe. Galhardo foi chamado por Coudet em Vigo, enquanto Guerrero não encontrou sua melhor forma após a cirurgia e rescindiu o contrato. Hoje, o ataque é formado por Taison e Yuri Alberto.
Dos nomes que permanecem, um chama atenção....
3) Rodrigo Lindoso
Passou Abel, passou Ramírez e chegou Aguirre. Junto com o uruguaio veio um contexto semelhante. O atual treinador colorado encontrou a sua escalação ideal com Rodrigo Dourado, mais qualificado do que Musto, mas com características semelhantes, e Rodrigo Lindoso.
Porém, apesar de ter uma dupla de atributos semelhantes em campo, há algumas diferenças na formação.
— Agora Dourado e Lindoso jogam como dupla de volantes. O Inter de hoje passa mais tempo sem a bola do que com a bola, e a contribuição deles é mais defensiva. Quando jogam mais adiantados, eles não conseguem render — analisa Coutinho.
4) Resultados
Coudet partiu para Vigo com 61,5% de aproveitamento. O trabalho teve queda de rendimento no início da passagem de Abel Braga, culminando na eliminação para o América-MG, nas quartas de final da Copa do Brasil, e para o Boca Juniors, nas oitavas de final da Libertadores.
A vitória sobre os argentinos por 1 a 0 na Bombonera, com eliminação nos pênaltis, foi o marco da recuperação colorada. A partir dali, Abel empilhou vitórias e terminou o Brasileirão em segundo lugar. O ciclo do treinador terminou com 70,3% de aproveitamento.
Na sequência, veio Ramírez. O espanhol conquistou 54% dos pontos disputados. No currículo ficaram a perda do Gauchão para o Grêmio, queda para o Vitória na terceira fase da Copa do Brasil e uma arrancada ruim no Brasileirão.
Aguirre conseguiu fazer o Inter ascender na tabela, mas não evitou a queda nas oitavas de final da Libertadores para o Olimpia. Atualmente, o clube ocupa a sétima colocação no Brasileiro. Seu aproveitamento, no geral, é de 57%, em 27 partidas no comando.
5) No Celta
Do outro lado do Atlântico, Coudet assumiu um time na lanterna do Campeonato Espanhol. Seu trabalho fez o clube de Vigo saltar na tabela, terminando na oitava colocação. Na atual temporada, os resultados não são tão animadores. O Celta está na 15ª colocação, com 12 pontos em 13 jogos, com vantagem de um ponto para a zona de rebaixamento.
— A avaliação do trabalho é muito boa desde a chegada dele. Ele deu estabilidade ao time. Por isso, renovou contrato por três temporadas. Esta temporada não começou bem e voltou a ter dinâmicas dos anos passados, mesmo que o time esteja jogando bem — conta Jacobo Buceta, repórter da rádio Cadena Ser de Vigo.
O jornalista espanhol explica um dos problemas enfrentados por Coudet:
— O elenco é muito curto. São somente 23 jogadores, e alguns têm jogado poucos minutos.
Um ano depois, Inter e Coudet seguem enfrentando as mesmas dificuldades.