Só não dá para dizer que Matheus Cadorini é centroavante desde pequeno porque ele virou centroavante, justamente, por não ser pequeno. Aos 19 anos, o provável substituto de Yuri Alberto para enfrentar o Athletico-PR às 19h deste sábado tem 1m92cm. A altura tem sido uma aliada desde a adolescência e foi também por causa dela que chegou até aqui.
O pai de Matheus, Alfredo da Silva, garante que ele herdou alguma carga genética para ser centroavante. Alfredo foi camisa 9 no interior mineiro nos anos 1980, jogou no Pouso Alegre, sua cidade natal e fez alguns gols antes de entrar no exército. Deslocado para Taubaté-SP, percebeu que o filho tinha talento para a função e o incentivou a tentar a carreira de jogador. Era assim que o guri passava as tardes na Vila Militar. Chegava da escola, almoçava e saía a brincar com a bola.
— Eu era um exímio cabeceador — gaba-se Alfredo:
— Então, disse para o Matheus que deveria aproveitar a altura e se especializar nisso. Pois como foram os primeiros gols dele como profissional?
Foi subindo mais alto do que a defesa da Chapecoense, naquele domingo de manhã que marcou a volta da torcida ao Beira-Rio que Cadorini torneou de testa e marcou o quinto gol da goleada colorada. Era sua primeira experiência no time profissional. Alfredo estava na arquibancada.
A mãe, Rosângela, preparava um almoço no interior paulista. Explodiu de emoção. Seu celular começou e não parou mais de vibrar de tantas mensagens cumprimentando pelo sucesso do filho. Muitos amigos que estavam no Beira-Rio mandavam vídeos do lance.
— Até hoje não sei explicar o que senti. O som da torcida foi uma emoção inexplicável — conta.
A namorada, Myllena Moraes, estava trabalhando em Curitiba. A biomédica de 25 anos acompanhava de canto de olho a possível estreia de Matheus. Ouviu na TV que tinha saído o gol. No canal que assistia, o narrador informara que o gol tinha sido de Lindoso. Quando viu que era Cadorini quem comemorava, só conseguiu fazer uma coisa:
— Desmaiei.
Os dois se conheceram por causa das redes sociais. Em um jogo do Brasileirão sub-20, Cadorini havia se destacado contra o Coritiba, rival do time do coração de Myllena, eles trocaram likes e DMs, conheceram-se pessoalmente e desde então não se desgrudaram mais. Viraram até o casalzinho queridinho de colorados nas redes sociais. E como são apaixonados por futebol, boa parte do namoro envolve ver jogos na TV.
— Ele é fã demais do Cristiano Ronaldo. Eu adoro o Messi. Nos completamos — diverte-se.
Por falar nisso, antes mesmo de ter 20 anos, o centroavante já é ídolo de alguém. Matheus é o espelho de Eduardo Cadorini, nascido em 2017. Não só como jogador, mas como tio e padrinho.
— Matheus é o meu melhor amigo, a pessoa que mais tenho afinidade no mundo. Ele saiu de casa muito cedo, e mesmo assim seguimos ligados. Nos falamos todos os dias. Não tinha como ser outro o padrinho do meu filho — conta a irmã de Cadorini, Mariana, fisioterapeuta de 24 anos.
De fato, Matheus saiu cedo. Como gostava muito de futebol, os pais o colocaram na escolinha Craque Net, sempre em Taubaté. Ele se destacava nas partidas, ganhava jogos e torneios. Apareceu, então, uma peneira para o sub-15 do São José, de São José dos Campos. Entre os 400 meninos inscritos, estava Cadorini.
— Estava inscrito como meia, mas o treinador disse: "Com esse tamanho? Vai ser centroavante". Deu dois toques na bola, no segundo fez um gol. O olheiro apitou e disse para ele sair e esperar na outra fila. Estava contratado — conta Alfredo.
Disputou o Paulistão pelo São José e fez cinco gols. Ao final da primeira fase, seu time estava eliminado, mas ele foi chamado para jogar no Audax. Aos 14 anos, mudou-se para morar sozinho em Osasco.
Em 2019, fez 55 gols. Ganhou o prêmio de artilheiro do Campeonato Paulista sub-17. Disputou algumas partidas no profissional. A partir dali, era monitorado. Um dos olheiros representava o Inter.
Tinha um olheiro do Inter vendo os jogos, e Marcio Rivellino, seu empresário, articulou um empréstimo. Veio para Porto Alegre, quando começou a pandemia. Basicamente, sua vida no Rio Grande do Sul só começou há um ano. A mãe, agora, veio passar um tempo. Ela não pôde vir logo na chegada porque seus pais estavam doentes e ambos morreram no ano passado. Matheus fez uma tatuagem para homenageá-los.
— Ele fez aqueles gols para eles. Era muito apegado. Lamento que não tenham visto aqui — comenta Rosângela.
Coube a Alfredo a mãozinha inicial ao filho. E ele conta:
— Quando cheguei, fui procurar lugar para ele morar, encontramos um apartamento perto do Beira-Rio. Eu saía para caminhar no Parque Marinha e ficava pensando: "Será que o Matheus vai fazer um gol nesse estádio?". Pô, ele fez e logo na volta da torcida.