A construção das torres ao lado do Beira-Rio mobiliza Inter e prefeitura de Porto Alegre em um debate sobre a alteração das leis que falam sobre construções privadas em terrenos doados pelo poder público e o limite de altura em edifícios na região do estádio. Nesta quinta-feira (23), o projeto foi a debate em audiência pública virtual promovida pela Câmara de Vereadores. Ainda há a necessidade de análise e aprovação do tema em plenário na casa legislativa, sem data definida até o momento.
A audiência recebeu cerca de 100 pessoas e foi aberta às 19h06min pelas apresentações da Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) e do Inter. O evento seguiu com cinco pessoas dando sua opinião a favor da construção e outras cinco argumentando contra o projeto. Entre os inscritos para falar como cidadão: arquitetos e representantes comunitários manifestaram suas visões sobre o projeto.
Por parte dos vereadores também houve três manifestações de cinco minutos - duas contrárias, de Aldacir Oliboni (PT) e Karen Santos (PSOL), e uma favorável, de Cláudia Duarte (PSD).
Um dos itens analisados pela Smamus foi o impacto visual e de posição solar em relação ao Asilo Padre Cacique. A preocupação fez com que a prefeitura sugerisse que as torres sejam construídas o mais próximas possível da beira do Guaíba, visando diminuir a sombra no lar para idosos, em diferentes épocas do ano onde o sol não iluminaria o imóvel centenário.
— Houve uma ampla análise por parte do município. Todas questões foram analisadas. É um projeto importante, que qualifica nossa cidade e nossa orla — ponderou o secretário da Smamus, Germano Bremm.
O conselheiro João Pedro Lamana Paiva, então vice-presidente do clube quando o projeto foi apresentado, em 2019, relembrou o processo de doação do poder público ao Inter em 1956. A argumentação do ex-dirigente pretendia mostrar que a construção não será feita em terreno pertencente à prefeitura, mas sim ao clube.
— Era água, o espaço que o Inter recebeu. Ficou claro que o terreno foi criado pelo Inter — pontuou Lamana Paiva.
O Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) já foi aprovado pela Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento da prefeitura. Porém, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental ainda não emitiu parecer favorável à homologação de Sebastião Melo pois pediu, primeiro, a realização desta audiência que aconteceu na noite de quinta.
Concluída essa etapa, o Inter precisará assinar o Termo de Compromisso com a previsão de medidas compensatórias. Também terá que encaminhar projeto arquitetônico para novo trâmite na prefeitura. Somente depois de aprovado o projeto, a obra poderá começar. A contrapartida pública apresentada pelo Inter consiste em um píer público para o Catamarã ao lado do estádio, obras restauradoras no Asilo Padre Cacique, criação de uma faixa extra na avenida de mesmo nome, reforma da UBS Santa Marta e construção de uma escola infantil pública para 250 crianças, a ser definida pela prefeitura.
Opiniões sobre o projeto
O arquiteto Hermes Pulicelli, integrante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental (CMDUA), foi o primeiro a se manifestar contra a construção, no espaço disponibilizado para cidadãos em geral, e não como funcionário da pasta. Ele questionou o interesse de melhorar a cidade, apontando o lucro do clube como a verdadeira motivação do projeto.
Outra fala contrária foi a de Simaria Mombelli, moradora da região. Ela questionou o impacto ambiental, afirmando que apenas alguns estudos foram feitos, e não todos os necessários, como o que considera os riscos de aumento de temperatura quando se forma uma barreira de prédios altos onde o ar frio vindo do rio deveria resfriar a área urbana.
— Como que se negocia com uma entidade que já não entregou outras contrapartidas e promete outras contrapartidas de novo? Vão sentar comigo para negociar se eu não pagar meu IPTU? O Inter não entregou o básico que prometeu em outras concessões, e vocês estão negociando com uma entidade que já traiu Porto Alegre, o poder público e a sociedade — questionou.
Já a bióloga Adriana Trojan manifestou apoio ao projeto. Ela justificou sua defesa com o fato de a área ser pouco habitada no período noturno, mencionando, como exemplo, a dificuldade de encontrar comércio por parte de praticantes de esportes ao ar livre nas ruas próximas ao estádio:
— É uma obra positiva, vai trazer segurança, estrutura e beleza, aumentando ainda mais o movimento de revitalização do restante da orla. Vai fazer circular um maior número de pessoas por ali todos os dias da semana.
O arquiteto Maurício Santos, um dos diretores do Estúdio Hype, que desenvolveu o projeto, fez sua manifestação como um dos cinco participantes favoráveis à construção. Ele elencou estudos feitos pelo próprio escritório de arquitetura e ressaltou que tanto as praças que seriam construídas entre o estádio e as torres, quanto o mirante no último andar do prédio seriam de uso público de qualquer pessoa que quisesse ingressar nos espaços.
— Atualmente, o que há ali é um estacionamento totalmente privado na área. Queremos propor uma concentração de comércio que vai beneficiar a comunidade indiretamente. A sombra projetada será ao sul, onde há outro terreno, então não tiraremos luz do sol de ninguém — destacou.