Apesar de ainda estar tentando retomar o protagonismo no Inter, Paolo Guerrero segue sendo a principal referência futebolística em seu país. Por isso, os peruanos comemoraram sua reaparição em campo, depois de ter sido cortado da Copa América, mas logo lamentaram a suspensão que o impediu de atuar contra o Brasil, pelas Eliminatórias.
Pois, nesta semana, o capitão e goleador máximo da seleção peruana voltou aos holofotes da imprensa local. O jogador apareceu em fotos ao lado de um famoso médico peruano, chamado Luis Cotillo. Em uma das imagens, publicadas pelo próprio médico em suas redes sociais, o atleta colorado recebe uma injeção no joelho direito — operado duas vezes no ano passado.
— Este produto que eu coloquei no Paolo é Fibroquel, que é de origem mexicana. Conheci em 2015, quando falei com um médico do Pumas em um congresso técnico. Ele é usado para curar tanto lesões de joelho como dores musculares — declarou o próprio médico, em entrevista exclusiva a GZH. — É um produto mágico! Já falei com alguns médicos no Brasil, mas este produto não é vendido aí. Fui eu que o introduzi aqui no Peru há seis anos. E, para mim, foi uma honra tratar o capitão da seleção peruana. Guerrero é como se fosse o Neymar do Peru — complementou.
Conforme relatou à reportagem, Cotillo foi médico do Sporting Cristal e desde então tem atendido pacientes que vão desde atletas, a artistas e políticos do país. Assim, não teve dúvidas em indicar o mesmo tratamento ao centroavante do Inter.
De acordo com ele, o procedimento teria ocorrido na casa de Guerrero, na noite de terça-feira (7) da semana passada. O chamado foi feito pelo irmão do centroavante, Julio "Coyote" Rivera, que foi jogador de futebol nos anos 1990.
— Vi que Paolo não sentia segurança em relação ao seu joelho. No frasco, vem quantidade para quatro doses. Eu pus uma dose de ataque. Era 21h e ele viajaria de volta ao Brasil. No dia seguinte, ele me disse que se sentia melhor. Eu falei para ele que, no terceiro dia, estaria como um avião e, na segunda-feira, poderia jogar (contra o Sport). Segui monitorando ele, que me disse que alguns companheiros de equipe se interessaram para entrar em contato comigo — contou o médico peruano, sem saber citar o nome dos outros jogadores colorados referidos.
Por meio de nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o centroavante colorado desmentiu ter aplicado injeções em seu joelho: "o atleta Paolo Guerrero esclarece que o processo de recuperação da sua lesão no joelho foi todo conduzido pelo Departamento Médico do Internacional. Médicos e fisioterapeutas do clube foram e seguem sendo os únicos responsáveis pelo acompanhamento e tratamento do atleta".
O problema é que a intervenção médica, se de fato ocorreu, teria sido realizada sem a anuência dos médicos do Inter. Portanto, o camisa 9 estaria passível a receber uma multa do clube. Procurada pela reportagem, a direção afirmou que "o clube não tem nada a acrescentar no posicionamento dado pelo atleta".
Infiltrações
A aplicação de infiltrações no joelho não é uma novidade no cenário do futebol mundial. Pelo contrário, ocorre há décadas e tampouco é condenada como ilegal pela comissão de dopagem da CBF. A questão está na substância que é introduzida no corpo do atleta.
Apesar de admitir que o medicamento Fibroquel não é comercializado no Brasil, Cotillo é enfático ao afirmar que não há qualquer possibilidade de a pessoa submetida a este tratamento seja flagrada no exame antidoping.
— Não tem problema com doping. Uso (o produto) desde 2015 em vários jogadores. É colágeno puro. Usam há 35 anos no futebol mexicano — explica.
Depoimento semelhante é dado pelo ortopedista gaúcho Luiz Felipe Chaves Carvalho.
— Eu não uso colágeno, não tenho experiência com isso, mas não posso dizer que não dá certo. No México, eles usam bastante e já tem base científica. No Brasil, o medicamento que foi usado ainda não está autorizado. Mas, se o atleta fez isso no Peru, não vai trazer problemas para ele ou para o Inter. Não é doping. Eu mesmo recebo em meu consultório, em Porto Alegre, pacientes que vêm dos Estados Unidos para realizar tratamentos que lá não são feitos — conta.
Carvalho é conhecido no meio esportivo por já ter atendido atletas como o volante colorado Rodrigo Dourado, que voltou a jogar depois de ficar afastado por mais de um ano por complicações no joelho esquerdo operado. Além dele, também tratou o atacante Ferreira que, antes de subir para a categoria profissional do Grêmio, lutava contra uma fascite plantar crônica.
— Eu tenho usado ácido hialurônico e enxerto de medula óssea, que também fazem parte da medicina regenerativa. E tudo o que eu faço é certificado. O que a ortopedia precisa entender é que existem limitações e outra especialidade, que é a medicina regenerativa, tem adventos que são para ajudar. As pessoas precisam estudar. É resultado. E o clube precisa entender que o passe do jogador, por si só, não é nada. O ativo do clube é a saúde do atleta — argumenta o ortopedista gaúcho.
No caso de Guerrero, é a palavra do jogador contra a do médico peruano. Caso o centroavante continue entrando em campo, totalmente curado das dores no joelho, e volte a atuar em grande nível, pouco importa quem estava com a verdade.