Em meio à campanha de oito jogos invicto do Inter e 100% de aproveitamento nos três primeiros jogos do returno do Brasileirão, há algo que gera contestação entre torcedores. Ou melhor: alguém. Patrick, uma das peças mais importantes do time nas últimas temporadas, vive uma relação de amor e ódio com os colorados. No momento, de ódio.
Uma simples busca nas redes sociais com as palavras "Patrick Inter" é suficiente para ter uma ideia do sentimento. A maior parte das críticas se dá por um suposto sobrepeso e também por erros em campo. Sobre a questão física, clube e jogador garantem não ser um problema. A respeito do desempenho em campo, há números que atuam em favor do camisa 88.
Pode-se dizer muita coisa sobre Patrick, menos que ele não é participativo. Para o bem e para o mal, é um dos protagonistas da equipe. Ao mesmo tempo em que é o líder em desarmes do time que mais desarma no Brasileirão, é também quem mais perde a bola. E é quem mais perde a bola porque é quem mais tenta dribles. Por ser quem mais tenta dribles, é quem mais erra e acerta dribles. E quem mais sofre faltas.
Essa constante aparição vem acompanhada de inconstantes desempenhos. Na partida de domingo, deu lugar a Mauricio, e foi quando o time melhorou o desempenho.
— Ele está trabalhando, cumprindo suas funções táticas. Tem coisas que talvez é difícil ver, mas ele sempre ajuda e trabalha. Gosto de começar jogando com ele. Vamos ver o que acontece, mas agora temos que preparar o próximo jogo e o Patrick é, para mim, uma boa opção — declarou Diego Aguirre após a vitória sobre o Bahia.
Mas o que seria exatamente um jogador tático? Trata-se de alguém da confiança do treinador e que faz um trabalho valorizado pela comissão técnica e nem sempre reconhecido. O Inter teve um personagem assim em 2006, ano mais glorioso da história do clube. E é ele mesmo quem reconhece:
— Posso falar sobre isso porque realmente fui um atleta que sempre tive essas características — começa Michel, extrema pela esquerda no Inter de Abel Braga na campanha da Libertadores de 2006: — Patrick cumpre funções parecidas com as que eu fazia. São características diferentes, ele de mais força e potência, eu com mais velocidade e finalizações.
Segundo Michel, trata-se de uma "posição importantíssima em qualquer equipe", e que custa a ter um reconhecimento. Para ele, Patrick é criticado injustamente porque se trata de um protagonista, que não se esconde do jogo, tenta os dribles e ajuda na marcação.
— São poucos atletas brasileiros que têm entendimento tático e leitura do jogos. Esses jogadores, por se doarem muito, são soluções para problemas defensivos, mas acabam visados por torcedores e imprensa que não percebem como são fundamentais em um determinado modelo de jogo — completa.
Nesse modelo de jogo de Aguirre, um 4-2-3-1 variando para 4-4-2, Patrick é extrema pela esquerda. Tem liberdade para avançar por ali, por ser canhoto acaba procurando a linha de fundo e busca os cruzamentos. Mas também precisa dar uma força na marcação, especialmente quando encontra laterais ofensivos do outro lado. Não há, no grupo colorado, jogadores com características idênticas.
O técnico chegou a experimentar Léo Borges no setor, mas o jogador que se transferiu para o Porto por empréstimo não teve o mesmo desempenho. Há quem defenda que Paulo Victor poderia ser testado, mas internamente o consentimento é de que quem foi contratado para ser lateral precisa jogar como lateral. Assim, entre as opções que restam, há Mauricio, que é canhoto mas não tão dedicado na fase defensiva. Gustavo Maia chegou faz pouco e não tem a mesma força. Palacios demora na adaptação e custa a encontrar sua posição. E tem ainda Yuri Alberto, mas uma transferência de função lhe põe mais longe de sua especialidade (veja mais sobre as opções no quadro).
Por isso tudo, Patrick tende a seguir no time. Mas os altos e baixos fazem Aguirre pensar em alternativas tanto defensivas quanto ofensivas para as necessidades dos jogos.
Patrick no Brasileirão
42 desarmes — 1º do time
20 assistências para finalização — 2º do time
17 dribles certos — 1º do time
15 dribles errados — 1º do time
114 perdas de bola — 1º do time
34 faltas sofridas — 1º do time
Opções
Yuri Alberto
Prós: sua qualidade permite escalá-lo em mais de uma função que dá resposta boa
Contras: tira de sua posição preferida, centroavante, deixando-o longe do gol
Gustavo Maia
Prós: foi pouco tempo, mas mostrou ser um jogador insinuante e driblador, vertical
Contras: franzino, recém chegou e tem pouca experiência entre os profissionais
Palacios
Prós: já atuou por ali nos tempos de Chile, tem bom drible e passa mirando a frente
Contras: parece pouco adaptado, não consegue ter uma sequência de boas atuações
Mauricio
Prós: canhoto, tem o mesmo impulso de levar a bola para a linha de fundo e abrir campo
Contras: não é sua posição de origem, criou-se atuando pela direita ou centralizado