Agora não dá nem mais para dizer que Edenilson foi quebrar um galho na Seleção. O goleador do Brasileirão foi chamado para os três próximos jogos das Eliminatórias mesmo que Tite não tenha mais restrição para convocar jogadores que atuam no futebol inglês. O camisa 8 colorado, definitivamente, é um integrante do grupo que tem chance de buscar o Hexa daqui a um ano e dois meses. É a consagração do guri da Vila Farrapos, ex-office boy, cujo começo no futebol já se deu bem tarde na comparação com a maioria.
— Edenilson volta pelo que vem fazendo ao longo do Brasileiro. É versátil, moderno, trabalha em duas, três funções. Acompanhamos no Inter e nos trabalhos conosco. Quando observamos em algum período e nos jogos, também nos treinamentos. Em interações, pelo desempenho, enfim, ele se justifica por si só por essa versatilidade, pela qualidade e pelo grande momento que vive — explicou Tite.
O jogador, ao canal do Inter, comentou:
— Foi emocionante, estava em casa, ansioso, sabia da possibilidade, tinha essas questões burocráticas. Meu filho também ficou emocionado de novo. Estou honrado de representar nosso país, na melhor seleção do mundo, com os melhores jogadores.
Bem antes do Edenilson goleador do Brasileirão e convocado para Seleção, havia o Nil da escolinha do Tio Paulo, na Vila Farrapos. Foi no campinho irregular da zona norte de Porto Alegre que o camisa 8 colorado fez parte de um time pela primeira vez. Ao seu lado, tinha o irmão e inspiração Edmar — para a família, o verdadeiro Ed.
— Ele se espelhava muito em mim, queria ser meia-direita — relembra Edmar Andrade dos Santos, 35 anos, quatro a mais do que o irmão.
E Ed sempre acreditou que Nil faria sucesso. Ainda que o irmão não tivesse as características de um armador, Edmar enxergava desde cedo em Edenilson as qualidades que fizeram o volante ser chamado por Tite pela segunda vez nesta sexta-feira: um bom controle de bola, velocidade e explosão.
Muita coisa aconteceu entre a Vila Farrapos e a Granja Comary. Principalmente a falta de base. Aos 17, o futebol já parecia ter ficado para trás, e Edenilson foi trabalhar como office boy para garantir o sustento. Mas Edmar ainda acreditava e, figurinha carimbada no Interior, conseguiu levar o irmão para o Guarani-VA, treinado por Mazaropi.
O recomeço em Venâncio
Em Venâncio Aires, o volante treinou muito mais do que jogou. Só que em uma das poucas oportunidades que recebeu chamou a atenção do Caxias e foi chamado para fazer parte do grupo que disputaria o Gauchão do ano seguinte. Foram três temporadas na Serra, com destaque para o prêmio de melhor segundo volante do Campeonato Gaúcho de 2011. De lá, seguiu para o Corinthians, treinado por Tite, o que realmente mudou sua vida. Foi campeão brasileiro, da Libertadores e do Mundial. Transferiu-se para a Itália (Udiense e Genoa) e retornou ao Brasil para vestir a camisa colorada.
— (A chegada no Inter) Foi gratificante para a família. Somos um monte, só a minha avó teve 10 filhos. Ver ele jogando aqui, pertinho da gente, é a melhor coisa — comemora Edmar.
Talvez esteja aí um dos segredos para os quatro anos em alto nível de Edenilson no Beira-Rio. A proximidade da família que o ajudou a dar os primeiros passos no esporte, a paixão pelo clube que defende. Tudo isso se somou ao talento do guri que foi criado chutando bola na Vila Farrapos. No final de agosto, quando foi chamado para a Seleção Brasileira pela primeira vez, os Dos Santos fizeram a festa nos grupos de conversa.
— Quando escutei no rádio, liguei para a mãe na mesma hora. Ela disse: "Teu pai tá escutando há horas e não ouviu nada". Depois confirmaram, ficamos muito faceiros. Colocamos no direto no grupo da família. Ele queria muito essa convocação — relembra.
Ed dá pitacos nas atuações do irmão
Como colorado, Edmar tem o privilégio que já foi sonho de todo torcedor: dar pitaco nas atuações do jogador do seu time. Para ele, o irmão segue sendo o mesmo Nil de sempre, e os dois trocam ideias sobre os erros e acertos do volante colorado — não há como provar que as dicas ajudam, mas não parecem atrapalhar em nada.
— Eu comento, digo que poderia ter chutado de outra forma, colocado diferente. "Essa bola tu podia ter batido de frente", essas coisas. Quando ele fez o gol contra o Fortaleza, mandei mensagem: "Esse tu achou no finzinho". Ele me respondeu: "Meu, quando vi que o goleiro fechou a mão, dei no cantinho". Depois, ele veio almoçar aqui na mãe e comemoramos juntos — revela Ed.
No domingo, Inter e Edenilson voltam a campo pelo Brasileirão, competição que tem seu nome no topo da lista de artilheiros. Além disso, é responsável direto por 14 dos 24 gols da equipe, seja marcando ou assistindo. Conta, para isso, com a parceria de Yuri Alberto.
— Ele vive um momento muito especial na carreira. Fico muito feliz também. É um cara que se entrega demais para o time e é o nosso batedor de pênalti. Então, ele tem feito gols e nos ajudado bastante. Mas eu estou na cola dele, hein? — brincou o atacante, autor de seis gols:
— Não temos nenhuma aposta, não. A gente sempre tenta se procurar nos jogos. Eu tenho seis gols no Brasileiro e a maioria é com assistências do Edenilson. A gente se acha dentro de campo, tem um entrosamento muito bom e espero que isso continue até o fim do campeonato. Eu ou ele sendo o artilheiro, a gente só quer que o Inter esteja em uma melhor posição — emendou Yuri Alberto, em entrevista coletiva.
Para isso, vencer o Bahia é fundamental. Tite estará de olho. Edmar também.