A marcação da partida contra o Aimoré para quarta-feira dará a Miguel Ángel Ramírez dois períodos de 10 dias para o aprimoramento da saída de bola da defesa, um dos principais aspectos a serem melhorados. O treinador mandará seu time a campo no dia 14 e depois em 25 de abril, nas partidas válidas pelas últimas rodadas da fase classificatória do Gauchão. A meta é reduzir a participação do goleiro, o que deixa o jogo lento demais. No Gre-Nal, Marcelo Lomba recebeu nada menos do que 40 passes.
Os dados são do Footstats. A maior parte desses toques vieram dos zagueiros. Cuesta recuou 14 vezes, Lucas Ribeiro, 12. Assim, em 26 oportunidades, os defensores optaram pela segurança de jogar para o goleiro do que o risco de um passe mais vertical.
O tema foi extensamente abordado nos programas esportivos desde o apito final do Gre-Nal. O comentarista Maurício Saraiva chegou a usar o adjetivo paquidérmico para classificar a saída de bola.
Figuras de linguagem à parte, lembra-se que o jogo de posição, filosofia de futebol da qual Ramírez é um dos expoentes na América do Sul, exige manutenção da posse. Por isso, usar o expediente de colocar o goleiro no jogo é considerado mais produtivo do que simplesmente dar um chutão para o centroavante e buscar um rebote.
Tanto é que o treinador tem usado Marcelo Lomba, Danilo Fernandes, Daniel e Vitor Hugo nos treinos com os atletas de linha, em busca do aprimoramento de suas capacidades técnicas. De fato, Lomba não errou nenhum lance com os pés no clássico.
Mas eles não têm de ser a prioridade dos companheiros. Em tese, deveriam ser a alternativa final, quando não houvesse mais o que fazer. Afinal, apenas reter a bola não adiantará nada se não houver avanço. O espanhol Agustín Peraita havia reforçado que, para executar o jogo de posição, não basta controlar a bola, é necessário criar vantagens, avançar em conjunto.
O scout e analista de desempenho Higor Santos, da Mundial Scouting, empresa que observa jogadores e partidas em diversos campeonatos, aponta que os problemas do Inter se deram nas referências individuais do Grêmio sem a bola. Como não achava o jogador de linha em boa condição, retrocedia suas jogadas em busca de superioridades na hora de avançar. Reiniciava com os zagueiros, com o goleiro, tentando atrair a pressão e criar espaços nas costas dos jogadores do Grêmio que eventualmente subissem.
Segundo ele, isso faz parte da estratégia de Ramírez. Quando não há um jogador desmarcado, recomeça e tenta fazer o adversário se mexer.
— Contra o Grêmio, o Inter dificilmente conseguiu desmarcar um dos três jogadores da construção, já que Pinares e Diego Souza fizeram um bom trabalho na orientação defensiva para fechar linhas de passe. Ramírez fez um pequeno ajuste no posicionamento de Edenilson, porém, Maicon, depois Darlan, e Matheus Henrique conseguiram controlar suas referências, e o Inter só encontrou o jogador livre quando um dos laterais se desmarcou — explica Higor.
Soma-se a essa marcação a carga emocional do Gre-Nal, um clássico que costuma ser cruel com quem erra, e está claro o resultado. O medo de entregar um gol tirou a coragem de arriscar e deixou o time previsível demais.
Para evitar esse cenário, que deve voltar a aparecer à medida que o Inter enfrentar adversários mais fortes, que não fiquem tão retrancados ou pelo menos esperem os avanços, será necessário reforçar os deslocamentos. Higor amplia:
— A alternativa é que os jogadores da linha da frente do meio-campo façam mais movimentos nas costas dos adversários. Precisa haver maior coordenação entre meias e laterais para ocupar e desocupar as zonas.
Restam mais cinco treinos para Ramírez aprimorar os movimentos de seus meias e dar mais segurança para que arrisquem as jogadas. A ideia está clara, resta lapidar a execução.