O Gre-Nal deste domingo (24) escreverá um capítulo até então inédito na centenária história da rivalidade. Embora estejam entre os técnicos que mais comandaram Inter e Grêmio, Abel Braga e Renato Portaluppi jamais se enfrentaram no clássico gaúcho. Campeões mundiais em Porto Alegre, os dois até enlaçaram uma amizade nos tempos de Rio de Janeiro, e agora se colocarão frente a frente pela primeira vez.
Depois de reassumir a liderança do Brasileirão com uma goleada sobre o São Paulo, em pleno Morumbi, o Colorado chega em viés de alta sob o comando do mesmo treinador que o levou ao título mundial em 2006. Mas há um Gre-Nal no caminho, e tudo pode mudar.
Mandante do clássico, o Inter enfileirou sete vitórias consecutivas que o fizeram sonhar com o tetracampeonato nacional. E, apesar de estar próximo de alcançar o mesmo feito da geração de 1970 que conquistou o tricampeonato, o time de Abel Braga está longe de representar uma continuidade daquele futebol acadêmico, de encantamento e beleza plástica. Até mesmo para construir os 5 a 1 da última quarta-feira, o Colorado se destacou pela marcação agressiva e eficiência no ataque.
— Se buscar um espetáculo, uma atuação maravilhosa, não vai encontrar. Vejo o time trabalhando pelo resultado, não se preocupando em ter desempenho. Isso depois vai acontecer naturalmente, com a confiança que se vai adquirindo pelos resultados positivos. Então, me parece que o Inter chega com moral na hora decisiva. Não estou querendo dizer que é favorito, mas acho que teremos um dos grandes Gre-Nais dos últimos tempos, pois o Grêmio também precisa dar um passo diferente em relação aos últimos jogos — destaca Cláudio Duarte, lateral campeão brasileiro em 1975 e 1976 e ex-treinador.
Com a troca no comando técnico, em novembro, foi interrompida a filosofia que vinha sendo implementada no Beira-Rio ao longo de 2020. Se antes a ordem era jogar com zagueiros em linha alta, trocando passes e propondo o jogo, o cenário agora é diferente. Não há vergonha alguma em apostar na bola parada e nos contra-ataques até mesmo dentro de casa, diante de adversários de menor expressão, como Goiás e Fortaleza. Os números comprovam isso. Nos 20 jogos com Eduardo Coudet, a equipe teve média de 54,8% de posse de bola, segundo dados do site SofaScore. Nos 11 jogos com Abelão, a média é de 45,5%.
Se buscar um espetáculo, uma atuação maravilhosa, não vai encontrar. Vejo o time trabalhando pelo resultado, não se preocupando em ter desempenho
CLÁUDIO DUARTE
ex-lateral e treinador
— O Coudet tentou implementar uma situação que é da preferência pessoal dele. O Abel tem uma característica diferente. Quarta-feira, todos esperavam que ele jogasse fechado, por uma bola, e não foi isso. Toda vez que teve condição, o Inter marcou alto e pressionou a saída de bola, porque se sabe que o outro time não gosta de dar chutão. É uma nova cara. O Abel soube explorar isso e induziu o São Paulo ao erro. Então, ele pode ter este mesmo posicionamento no clássico. Mas aí depende do Grêmio deixar isso se repetir ou não — analisa Claudião.
É nesta mudança de proposta de jogo que recai a aposta colorada para interromper o incômodo jejum em Gre-Nais. A trinca de meio-campo — com Rodrigo Dourado, Edenilson e Praxedes —, que dá sustentação ao 4-1-4-1, será mantida. A única alteração será na nominata, já que Caio Vidal recebeu o terceiro cartão amarelo. Neste caso, o subsitituto deve ser o garoto João Peglow, que já executou a mesma função no Morumbi. Um eventual retorno de Thiago Galhardo poderia acarretar no desajuste de Yuri Alberto. E, convenhamos, depois dos três gols marcados por ele na capital paulista, mexer no centroavante seria loucura.