Os últimos dias de Matheus Guimarães, 27 anos, têm sido duros. Integrante da lista de candidatos ao conselho deliberativo do Inter pela Chapa 7 (Inter sem fronteiras), o assessor do Ministério Público de Viamão, na Região Metropolitana, mal pode abrir suas redes sociais tamanha a quantidade de mensagens de ódio e ameaças que recebeu depois que teve vazadas postagens antigas na qual apoiava o Grêmio. Mas a história é bem mais complexa do que se poderia imaginar, não é apenas um caso raro de vira-casaca. Ele conversou com a reportagem de GZH para dar sua versão.
Como assim, ex-gremista?
Em primeiro lugar, quero agradecer por vocês terem me procurado. Estão dizendo muita coisa sobre mim que não é verdade. Nasci em 1993, filho de um pai de 17 anos e de uma mãe de 15. Isso não era normal naquela época, ser filho de adolescentes. Quem me criou foi minha avó materna, e fiquei muito próximo de um tio gremista, que foi uma figura paterna na minha vida. Meu pai é colorado fanático, referência na região aqui. Para ter uma ideia, tinha 90 pessoas em casa para ver a final do Mundial em 2006. Meus avós paternos estão nas imagens da construção do Beira-Rio, é só colocar no Google.
Foi essa relação com o tio que te fez ser gremista?
Em 2007, me reaproximei do meu pai, era uma situação complicada entre as famílias, por causa da gravidez na adolescência. Quando voltei a falar com ele, íamos escondidos ao Beira-Rio. Isso me fazia sofrer, porque não queria decepcionar meu tio, porque foi ele quem me criou. Mas em 2011 não consegui mais segurar. Me libertei e revelei que era colorado.
Desculpa perguntar isso assim, mas é que tu és o primeiro caso que conheço de alguém que trocou de time. No fundo, no fundo, tu sabias que eras colorado?
Ia ao Olímpico com meu tio, acompanhava o Grêmio, mas sentia uma espécie de empatia pelo Inter. Mas depois que me libertei, que parei de me enganar, que pude assumir ser colorado, senti que aquilo não era torcer. Era ruim desapontar meu tio, mas aquele mundo azul não era meu.
Deves estar acompanhando nas redes o que dizem sobre ti. O que parece é que serias um gremista "infiltrado", digamos assim.
Quem está fazendo isso são adversários políticos, e curiosamente os que mais me apoiaram na época em que revelei. Eles não levam em consideração a evolução que tive, que foi me libertar daquele sentimento. A maioria de quem está me expondo, me crucificando, comia churrasco comigo antes dos jogos, no Parque Gigante. Por isso agradeço o contato. Quem me conhece sabe que sou colorado, que trabalho no consulado de Viamão, não importando quem é o cônsul. Trabalho para o Inter, e não para pessoas.
Como teu tio reagiu depois da mudança?
No início, ele ficou triste, né? Mas hoje em dia está na boa, ele me dá camiseta do Inter de presente.
Tu disseste que tua mulher está grávida de um guri. Como vai ser? Ele pode escolher o time?
O nome do meu filho ia ser Andrés (como D'Alessandro). Mas resolvemos mudar pela dificuldade de falar, sabe como é o Brasil e o brasileiro, então trocamos para Heitor. Ele vai sair do hospital vestido de vermelho, aquela coisa de pai, quero que seja colorado. Se quiser mudar, não tem problema. Vai pagar o próprio leite, as roupas (risos).