Em sua última passagem pelo Inter, em 2014, Abel Braga reforçou o status de idolatria com a torcida colorada. Conquistou um título gaúcho e terminou o Brasileirão em terceiro lugar, classificando o clube à Libertadores do ano seguinte. Entretanto, não permaneceu no Beira-Rio.
Incomodado por ter sido relegado por Vitorio Piffero — vencedor das eleições presidenciais ao final daquele ano —, o técnico campeão mundial de 2006 não aceitou sequer conversar para uma renovação de contrato quando procurado após a negativa de Tite, preferido da gestão que assumia o clube.
Quase sete anos anos depois, ele está de volta a Porto Alegre após ter passado por cinco clubes diferentes, colecionado trabalhos frustrantes, poucos títulos e um drama familiar.
2015: Al-Jazira
16 jogos (3 vitórias, 6 empates e 7 derrotas)
31,2% de aproveitamento
Após o desacerto com a nova gestão colorada, Abel definiu seu retorno ao Al-Jazira, dos Emirados Árabes Unidos, onde havia sido campeão nacional em 2011. Porém, a passagem não foi tão exitosa como anteriormente. Ele acabou demitido ao sofrer uma goleada de 5 a 1 para o Al-Fujairah.
Na ocasião, o jornal The National, de Abu Dhabi, chegou a classificá-lo como o "pior retorno" da temporada: "O reinado de Braga foi lamentável, os métodos do brasileiro, desatualizados, e as táticas, facilmente ultrapassadas. Quando foi demitido em dezembro, o Al-Jazira havia vencido três partidas de 16, sofrendo 38 gols, e estava em 11º na tabela. E o pior é que Braga recebia um salário significativo. Um erro caro, de fato".
2017-2018: Fluminense
109 jogos (43 vitórias, 29 empates e 37 derrotas)
48,3% de aproveitamento
Demitido pelos árabes, Abel não voltou a trabalhar em 2016, pois uma cláusula contratual impedia que ele assumisse outro clube até a metade do ano. Assim, só foi retomar a carreira em 2017, no Fluminense. Permaneceu no cargo por um ano e meio, conquistando somente a Taça Guanabara de 2017 e a Taça Rio em 2018, equivalentes a um turno do Campeonato Carioca.
Na sua primeira temporada, porém, viveu um drama pessoal: a perda do filho João Pedro, de 18 anos, que morreu ao cair da janela do apartamento da família, no Leblon, no Rio de Janeiro.
— No fim de 2016, ele voltou ao clube para sua terceira passagem. Naquela ocasião, o Fluminense foi até bem no Estadual, perdendo o título para o Flamengo. Mas, com a perda do filho em julho, o trabalho do Abel caiu de produção. O time lutou contra o rebaixamento e conseguiu se livrar na antepenúltima rodada. Ele continuou no clube em 2018, mas entregou o cargo na paralisação para a Copa do Mundo. Apesar disso, o carinho da torcida segue sendo muito grande — comenta Gérson Júnior, repórter da Rádio Brasil, do Rio de Janeiro.
2019: Flamengo
32 jogos (19 vitórias, 8 empates e 5 derrotas)
67,7% de aproveitamento
Em 2019, o treinador virou o plano B do Flamengo, que não conseguiu tirar Renato Portaluppi do Grêmio. Iniciou a temporada com o título da Florida Cup, nos Estados Unidos, depois de enfrentar o Ajax e o Eintracht Frankfurt-ALE. Também conquistou o Campeonato Carioca, nos pênaltis, sobre o Vasco.
Entretanto, as atuações não agradavam a imprensa, a torcida e os dirigentes. Além disso, foi bastante criticado por dizer que o Beira-Rio era o estádio mais bonito do país após derrota para o Inter, em Porto Alegre. Em maio, após descobrir que o clube havia contatado o português Jorge Jesus, Abel entregou o cargo, mesmo estando em sexto lugar no Brasileirão e na liderança do grupo da Libertadores. Sem ele, o time conquistou os títulos nacional e sul-americano.
— O que não gostei quando saí do Flamengo foi que não houve verdade. O Flamengo tinha todo o direito de me comunicar de forma clara que estava procurando outro treinador. Achei deselegante e pedi demissão — explicou o próprio treinador, em sua apresentação ao Inter na terça-feira. — Saí e chegaram Rafinha, Marí, Filipe Luís e Gerson. Acho que não tenho o que falar — destacou.
2019: Cruzeiro
14 jogos (3 vitórias, 8 empates e 3 derrotas)
40,4% de aproveitamento
Em setembro de 2019, Abel foi anunciado como o substituto de Rogério Ceni no Cruzeiro. Chegava com a missão de tirar o time da zona de rebaixamento do Brasileirão. Dois meses depois, deixaria Belo Horizonte sem ter contribuído para isso.
— A sensação que Abel deixou na passagem pelo Cruzeiro é que ele aceitou o desafio muito pela amizade que tem com vários jogadores daquele elenco, na esperança de repetir com eles o trabalho que fizeram no Fluminense em 2012. O nome dele foi endossado por lideranças como Fred e Thiago Neves. Chegou a emplacar uma sequência invicta de 11 jogos, mas com oito empates nesse período. Alguns tropeços que complicaram a campanha, como a derrota para o CSA, no Mineirão, que causou a demissão dele e é tido como o jogo do "rebaixamento moral" do Cruzeiro. Taticamente, era um time mais simples do que o de Rogério e defensivamente mais organizado. Mas a sensação é que sempre faltou a energia necessária ao treinador para buscar a salvação dentro de campo — analisa o comentarista do SporTV Henrique Fernandes.
2020: Vasco
14 jogos (4 vitórias, 5 empates e 5 derrotas)
40,4% de aproveitamento
O último trabalho de Abel foi à frente do Vasco, onde abriu o ano, mas só permaneceu até metade de março, quando pediu demissão. Quando saiu, já havia sido eliminado na primeira fase da Copa Sul-Americana pelo Oriente Petrolero, estava na terceira fase da Copa do Brasil, após passar por Altos-PI e ABC-RN, e tinha campanha irregular no Campeonato Carioca.
— Apesar de ser multicampeão, chegou com uma expectativa baixa, porque vinha de trabalhos não muito bons. Era amigo do presidente e deu estofo político, mas muito pouco deu certo em seu trabalho. Nada fluiu — avalia Felippe Rocha, do jornal Lance!. — Ele não tinha um meia de ofício, testou alguns jovens, e outros jogadores estavam em um momento técnico ruim. Mas ele fez escolhas ruins, preservando jogadores até mesmo em clássicos, sem vencer nenhum. Em um deles (contra o Fluminense, de Odair Hellmann), foi seu último jogo. Com todo o respeito ao Abel, mas ele não deixou saudade nenhuma no Vasco. A gente ficou até surpreso pelo Inter tê-lo escolhido — concluiu.