Mudar o cenário favorável do Grêmio nos últimos anos no maior clássico gaúcho é o desafio colorado no Gre-Nal 428 deste sábado (3), na Arena. O time de Eduardo Coudet vem de uma sequência de quatro jogos sem vitória somando Brasileirão e Libertadores. Mas o momento de dificuldade nem parece ser o maior problema. Se agora a sequência não é boa, o Inter chegou aos outros clássicos da temporada em melhor situação e mesmo assim não pôde superar o rival.
Os aspectos táticos e técnicos, claro, são sempre os mais destacados no futebol. A estratégia de Renato Portaluppi, o chute de Pepê, o cabeceio de Diego Souza, o desarme de Geromel. Tudo isso fez diferença a favor do Grêmio. O gol perdido por Galhardo, a bola não tirada por Cuesta, o desvio em Moisés, a demora nas trocas de Coudet.
Fatores que pesaram no lado vermelho. Cada resultado negativo, porém, eleva a pressão no Beira-Rio, o que faz o fator psicológico um inimigo a mais diante do rival. A véspera de Gre-Nal, por exemplo, foi de protesto. Na sexta-feira (2), um grupo de mulheres coloradas se manifestou no lado de fora do CT Parque Gigante cobrando a vitória sobre o Grêmio.
A dificuldade no aspecto mental foi admitida por Eduardo Coudet após a derrota na final do segundo turno do Gauchão, na Arena, no começo de agosto.
— Não gostei do jogo. Não levamos ao campo o que preparamos. Seguramente tem um lado mental e psicológico para trabalhar. É responsabilidade minha quando os jogadores não vivem da maneira que, pelo menos, eu creio que se tem que viver um clássico — afirmou o argentino à época.
Nesta sexta-feira, antes do treino e do protesto no lado de fora do CT, o atacante Thiago Galhardo tentou minimizar essa questão e citou a boa campanha do Inter no Brasileirão e também na Libertadores, onde está perto de confirmar a vaga nas oitavas de final.
— Nosso psicológico está o melhor possível. Somos vice-líderes (no Brasileirão), encaminhamos nossa classificação na Libertadores. Só uma tragédia para nos tirar das oitavas. É normal a oscilação que estamos tendo durante o ano, já que tivemos uma pandemia e encurtaram ainda mais o nosso calendário. Todos os times do nosso país e do mundo estão passando por isso. Se você ver, só o Atlético-MG tem apenas uma competição. Eles terão uma tranquilidade maior — pontuou.
A psicóloga e membro da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp) Kayane Zanini ressalta que uma série de resultados negativos como a do Inter em Gre-Nais pode causar efeito mesmo em atletas experientes.
— Corpo e mente não são dissociáveis. Quando a mente não está bem, o corpo sente. Isso pode vir da falta de oportunidades no campo, uma lesão grave, questionamento do trabalho ou sequência de resultados ruins, como essa do Inter. Por si só, o Gre-Nal já tem um status diferenciado e traz uma cobrança maior. Diante de uma sequência dessa grandeza, o aspecto emocional se amplifica. É uma pressão que vem de todos os lados, também do próprio jogador, que se sente responsável — reforça a psicóloga.
Com a experiência de mais de cinco décadas de Gre-Nal como jogador, treinador e comentarista, Cláudio Duarte viveu os dois lados do clássico. Ele ressalta que a concentração no jogo é um fator decisivo que está ligada à força mental dos atletas.
— Um jogo se define 50% pelo que foi treinado, organizado e combinado. Metade foge disso, acontece pelas situações treinadas que não funcionaram porque o outro time não permitiu acontecer. Quando um adversário bloqueia algo, já é o aleatório, como o passe errado ou uma cobertura mal feita. Quem reagir melhor a isso leva a vantagem. A atenção faz parte do mental — salienta.
Dentro desse cenário, a psicóloga Kayane Zanini reforça que o ideal é ter um trabalho mental além do feito pela comissão técnica.
— Muito se fala no treinador que tem o comando do vestiário, do psicológico dos jogadores, mas ele não é um profissional com a habilitação específica para esse tipo de abordagem que, precisa, sim, ter o auxílio de um especialista. É um trabalho multidisciplinar, que envolve o treinador em algum grau, mas a abordagem psicológica deve vir de um psicólogo — ressalta.
Dentro de uma estratégia que envolve questões técnicas, táticas e psicológicas, o Inter irá à Arena tentar quebrar a seca em clássicos e devolver a tranquilidade no Beira-Rio após as perdas das lideranças do Brasileirão do Grupo E da Libertadores.