A parada no futebol brasileiro, forçada pela pandemia de coronavírus, ocorreu em momento de ascensão do Inter, quando o time começava a mostrar algumas características que levaram os dirigentes colorados à Argentina para contratar Eduardo Coudet ainda em 2019. Um dos símbolos do trabalho do treinador é Zé Gabriel. Volante utilizado em apenas duas partidas em 2019, o garoto de 21 anos virou zagueiro nesta temporada e deu boa resposta quando chamado no Gauchão.
O versátil jogador, que chegou a atuar como atacante na base, conversou com GaúchaZH sobre seu início de temporada. Isolado em sua residência, em Porto Alegre, em razão da pandemia, ele tenta manter a forma seguindo os treinos orientados pela comissão técnica com o objetivo de ganhar ainda mais espaço no elenco colorado quando a bola voltar a rolar. Confira a entrevista: d di
Como tem sido esse período de quarentena em que é preciso ficar em casa?
A rotina é ficar isolado, vídeo game e treino. Os dias se resumem a isso. Sabemos que não dá para arriscar sair de casa. Esteira, bicicleta, precisamos manter a forma física adquirida neste começo de temporada. A parada é dura, mas temos de manter a parte aeróbica treinando em casa.
Vocês, jogadores, conversam sobre o que tem acontecido no mundo pela pandemia?
A gente está um pouco assustado ainda, principalmente os que moram com os pais, com pessoas mais velhas, os que têm filhos também. A preocupação é grande entre todos. Sempre perguntamos um para o outro como está em casa. Os que têm filhos, são os mais preocupados. O momento é de ficarmos em casa e isolados. Temos de passar por essa dificuldade.
A parada veio em um momento bom do Inter e seu também. Esperava ganhar espaço logo no começo da temporada?
Foi uma pena ter parado porque estávamos em uma sequência boa. Não falando apenas de mim, mas penso que o grupo inteiro estava adaptado a esse novo jeito de jogar. Ainda é difícil projetar como será a volta porque não temos nem uma ideia de quando vai ser. Temos de seguir treinando para, quando voltamos, estarmos o mais próximo possível do nível que vínhamos apresentando.
Te surpreendeu ser utilizado como zagueiro pelo Coudet?
Ele falou sobre me utilizar como zagueiro desde a primeira semana (de treinos). Teve uma conversa no pré-jogo (empate em 0 a 0 com o Ypiranga) em que ele perguntou como eu estava. Eu vinha treinando como zagueiro e isso facilitou, pois não foi algo de última hora. Assim que soube que iria jogar liguei para os meus pais. O Coudet me falou para desfrutar do momento porque eu estava preparado. Então fui tranquilo para o jogo.
Como foi a adaptação à nova posição?
Na época do Corinthians joguei como atacante. Joguei de 9 e também pelos lados. Cheguei até a ser convocado para a seleção brasileira sub-17 (para um período de treinos). Eu conheço muitas funções. É do futebol. Hoje, eu posso jogar em qualquer uma do meio para trás. Sempre tive facilidade para me adaptar e não tive dificuldade.
O Coudet tem vários desfalques na defesa e também no meio-campo para o próximo jogo pela Libertadores. Você pode brigar por um lugar mais adiantado também?
A função do Lindoso e do Nonato eu posso fazer. É um cara que faz o vai e vem. O nosso primeiro volante recua, e quem joga ali vira praticamente um volante. É uma função que posso fazer. O importante é poder ajudar o grupo independente da posição.
Ano passado, você recebeu a chance de ser titular diante do Fluminense, no Maracanã, e depois não foi mais utilizado. Como foi lidar com isso?
Foi um momento de frustração porque a gente sempre almeja e cria expectativas. Mas foi algo do momento. Depois, segui procurando trabalhar o máximo. Eu sabia que tinha que me preparar para estar pronto quando aparecesse uma nova oportunidade. Treinei bastante, até durante as férias. Curti a primeira semana com a minha família, e depois passei a treinar, porque sabia a importância do início do ano para mim. Me preparei e as coisas deram certo.
"Treinei bastante durante as férias porque sabia a importância do início do ano para mim"
ZÉ GABRIEL
Volante que virou zagueiro
O que você vê como mais necessário evoluir para seguir como zagueiro?
A gente precisa estar em constante evolução. Eu procuro muito conversar com o Cuesta e com o Moledo, os zagueiros mais experientes do grupo. Converso também com o Bruno (Fuchs). É mais sobre as movimentações da posição, para ficar mais no automático, mais natural. A movimentação do campo muda do volante para o zagueiro, mas não tenho tido dificuldade. Tenho buscado melhorar para me adaptar cada vez mais.
Você saiu cedo da casa dos seus pais. Foi um período difícil até virar profissional?
Comecei no Bahia, com 13 anos. Ali era perto, então os meus pais me visitavam a cada 20 dias. Quando fui para o Corinthians (aos 15 anos), o começo foi sofrido, tive de me adaptar. Hoje, o meu maior objetivo é ter os meus pais e a minha irmã próximos (família ainda mora na pequena cidade de Carmópolis, de 15 mil habitantes, no Sergipe).