Parece piada (de mau gosto), mas, restando dois dias para a decisão da quarta vaga do Chile à Libertadores, aquela que indicará o primeiro adversário do Inter na fase qualificatória do torneio, nem os chilenos sabem se haverá jogo entre Universidad de Chile e Unión Española.
Tudo aponta para o W.O., pois o Unión Española segue se negando a ir a campo, em protesto à decisão da Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile (ANFP), que em 29 de novembro decidiu abortar a temporada, após mais de um mês de paralisação devido à convulsão social na qual o país mergulhou nos últimos meses.
A partida, válida pela semifinal da Copa Chile de 2019 (a versão local para a Copa do Brasil), está marcada para as 20h30min deste sábado, no estádio La Portada, na cidade de La Serena, distante quase 500 quilômetros da capital, Santiago — de onde são os dois clubes. Ou seja: com um voo de 55 minutos, é possível desembarcar no local do jogo horas antes da partida.
Em caso se arrependimento (ou de "fator surpresa"), a delegação do Unión Española pode embarcar à tarde para jogar. O Inter deverá descobrir no sábado quem será o seu adversário em 4 de fevereiro, no Chile. A outra semifinal será realizada entre Universidad Católica e Colo Colo — ambos já classificados à fase de grupos da Libertadores, junto com o Palestino.
— Seguimos mantendo a posição de não jogar. Não vamos a La Serena — disse a GaúchaZH o gerente-geral do Unión Española, Luis Baquedano, sem responder, porém, se a postura do clube mudará nas próximas horas. — Os atletas querem jogar, mas entendem a decisão do clube — acrescentou.
— Estamos preparados para jogar no sábado. Para nós, se trata de uma partida muito importante. Não pensamos que eles (Unión Española) não jogarão. Estamos preparados e mentalizando a partida. Esperamos que haja a partida e que consigamos uma vitória que nos permita enfrentar o Inter — assegurou Sergio Vargas, diretor de futebol da Universidad de Chile, em resposta à reportagem.
Se o Unión Española não se apresentar para o jogo, a delegação de La U embarcará nesta sexta-feira à tarde para a La Serena. Em caso de W.O., a Universidad de Chile será declarada finalista do torneio, e ficará como "Chile 4" para a Conmebol, se credenciando, assim, para ser a adversária do Inter no primeiro mata-mata da Fase 1 da pré-Libertadores.
Mas o Unión Española não ficará sem punição. A ANFP — que lavou as mãos diante do protesto "de los hispanicos", afirmando que o jogo estava marcado e que, portanto, deverá ser disputado pelos dois clubes — prevê uma exclusão por cinco temporadas para o Unión Española, em caso de W.O., além de multa de 15 milhões de pesos (cerca de R$ 80,5 mil).
A direção do Unión Española projeta ingressar no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS, a sigla em inglês), caso seja alijado da pré-Libertadores e punido se não for a campo em La Serena. Para isso, porém, há um obstáculo quase intransponível: a autorização do Conselho de Presidentes da ANFP, o que não ocorrerá. Ou seja: a tendência é de que o Inter enfrente La U.
Independentemente de adversário, o Inter terá pela frente um time que não joga uma partida oficial desde outubro. A pré-temporada foi retomada depois do Natal. La U e Unión Española mantiveram os seus treinadores, e poucos reforços foram apresentados.
— As equipes chilenas que jogarão a Libertadores vão chegar com cerca de três meses sem atividades, o que é uma clara desvantagem em um país que já foi muito mal nas copas internacionais. A única segurança para o Inter é que seu rival jogará na capital do Chile — aponta o repórter Carlos Madariaga, da Rádio ADN, de Santiago.
O técnico da Universidad de Chile, Hernán Caputto, recebeu o meia Walter Montillo (ex-Cruzeiro e ex-Botafogo), 35 anos, que enfrentou o Racing de Eduardo Coudet pelo Tigre, na decisão do Troféu dos Campeões, em dezembro, a última conquista de Coudet no clube argentino. Além de Montillo, outro argentino, o veterano atacante Joaquin Larrivey, também de 35 anos, foi contratado ao Cerro Porteño.
O sangue novo do time é o atacante Pablo Aránguiz, 22 anos, irmão de Charles (com quem o Inter ainda sonha assinar para 2020. Aqui, uma curiosidade: Pablo é prata da casa do Unión Española, foi vendido ao FC Dallas (clube do ex-zagueiro gremista Bressan), no ano passado esteve emprestado justamente ao seu ex-clube, e, agora, foi emprestado a La U (time que revelou o seu irmão, Charles Aránguiz). Porém, cedido à seleção sub-23 para a disputa do Pré-Olímpico de Tóquio, Pablo só voltará ao clube na segunda semana de fevereiro.
Já o Unión Española do técnico Ronald Fuentes, também em pré-temporada, ganhou os reforços do zagueiro panamenho Harold Cummings e do atacante uruguaio Cristian Palacios. Enquanto que La U só não ficou na zona de rebaixamento em 2019 porque teve um saldo de gols melhor do que o Deportivo Iquique, o Unión ficou na nona colocação, mas quase 20 pontos atrás da campeã Universidad Católica.
— Não vamos jogar porque isso foi o que disse Don Segovia (Jorge Segovia, o dono do clube, e ex-presidente da ANFP) — afirmou, em entrevista coletiva, o goleiro e capitão do Unión Española, Carlos Sánchez. — É uma lástima, pois estávamos nos preparando para ganhar e para ingressarmos na Libertadores — acrescentou.
O vencedor do mata-mata entre Inter e "Chile 4", com jogos nos dias 4 e 11 de fevereiro — com decisão no Beira-Rio —, enfrentará um segundo mata-mata pela Pré-Libertadores, diante do ganhador de Macará (EQU) e Deportes Tolima (COL) e, quem passar adiante, estará classificado para o Grupo E da Libertadores, composto por Grêmio, América de Cáli (COL) e Universidad Católica (CHI).
As equipes
Universidad de Chile
- Time-base: 4-3-1-2
De Paul; Rodríguez, González, Del Pino Mago e Jean Beausejour; Espinoza, Galani e Cornejo; Rojas (Walter Montillo); Larrivey e Henriquez
Unión Española
- Time-base: 4-3-3
Sánchez; Juan Pablo Gómez, Mancilla, Cummings e Pavez Muñoz; Méndez, Dávila e Mejía; Carlos Palacios, Felipe Fritz e Rafael Arace