O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), por meio da Promotoria de Justiça do Torcedor e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), cumpriu nesta sexta-feira (17) mandados contra torcedores do Inter que se envolveram na partida contra o Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro, no dia 8 de dezembro. Até agora, 12 pessoas foram presas na ação.
O MP tinha 16 mandados para cumprir ao longo do dia. Quatro pessoas com mandados de prisão expedidos não foram encontradas, mas ainda podem ser detidas. A operação foi a maior realizada contra torcedores violentos no Estado. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados pelo Ministério Público em razão da nova lei de abuso de autoridade, que entrou em vigor no dia 3 de janeiro.
Os alvos da ação são membros da Guarda Popular, Camisa 12 e Só Eles (uma dissidência da Camisa 12). O poder judiciário suspendeu provisoriamente as três torcidas dos jogos do Inter dentro e fora do Beira-Rio por 120 dias. A punição vale para partidas do Campeonato Gaúcho, Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão.
— As torcidas ficarão proibidas de acessarem ao estádio na condição de integrantes, devendo, inclusive, ser bloqueado o sistema de acesso biométrico de todos os integrantes, que ficarão proibidas de portar bandeiras, camisetas, faixas, bandeirões e instrumentos musicais, que identifiquem as torcidas — diz trecho do despacho do juiz Marco Aurélio Martins Xavier, da 14ª Vara Criminal e Juizado do Torcedor e Grandes Eventos.
Conforme o despacho, as torcidas só poderão voltar a atuar normalmente após a conclusão do processo de apuração plena dos fatos, bem como após e, se ocorrer, da conciliação das organizadas em confronto. Caso as recomendações sejam descumpridas, as organizadas terão de pagar multa R$ 5 mil. O Inter teria de arcar ainda com R$ 10 mil em caso de descumprimento.
De acordo com o promotor Rodrigo da Silva Brandalise, da Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor, as imagens analisadas pelo MP-RS mostram inúmeras pessoas alheias ao tumulto expostas ao risco de serem atingidas. Houve ainda atos de violência contra profissionais de imprensa que cobriam o ocorrido.
Ainda de acordo com o MP, há risco de envolvimento desses torcedores em novas confusões, entre si e com outras torcidas, em jogos do clube desta temporada. A estreia do Inter no Gauchão está marcada para o dia 23, em Caxias do Sul, contra o Juventude. O primeiro jogo no Beira-Rio será no dia 26, diante do Pelotas.
A confusão
A confusão entre torcedores ocorreu no pátio Beira-Rio após a partida entre Inter e Atlético-MG, a última do clube em 2019. Foram duas brigas envolvendo membros das três torcidas, de acordo com Brigada Militar e MP. A primeira foi logo após o apito final do jogo, quando duas pessoas foram detidas pela BM. Cerca de duas horas depois, membros dessas torcidas voltaram a brigar. Quatro pessoas ficaram feridas e precisaram de atendimento hospitalar.
Inter apoia ação
O Inter se manifestou a favor da operação do Ministério Público que prendeu os torcedores violentos e se posicionou disposto a cumprir as determinações da justiça. O presidente Marcelo Medeiros ressaltou que o clube ajudou nas investigações fornecendo imagens de segurança e informações sobre os membros das torcidas organizadas.
— O episódio de hoje (sexta-feira) teve a colaboração do Inter com as entidades públicas para a identificação das pessoas. O Inter sofreu em um treino um protesto, o que é natural, mas não é natural que se jogue uma tesoura de cortar grama em direção aos funcionários do clube, como ocorreu. No dia seguinte, o dia do jogo, a Brigada Militar fez uma operação e dez torcedores com soqueiras foram flagrados. Quem vai para o estádio com soqueira não é torcedor. O clube não pode ser conivente com isso — afirmou Medeiros durante participação no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, citando casos ocorridos por membros de organizadas em novembro do ano passado.
O vice-presidente de relacionamento social colorado Norberto Guimarães lembrou que o clube criou o departamento de torcidas ainda em 2017 para cuidar da relação com as organizadas. Ele garante que desde então o Inter tem tomado medidas punitivas em casos de violência.
— O Inter apoia e sempre vem trabalhando em conjunto com os órgãos de segurança buscando maior controle e um resultado mais efetivo na relação com as organizadas. Para alguém ser membro de torcida organizada, precisa ser obrigatoriamente sócio do clube e passar pela biometria para ter a identificação facilitada caso haja algum problema — citou.
O que dizem os envolvidos
A reportagem de GaúchaZH entrou em contato com líderes das torcidas organizadas envolvidas. A Camisa 12 disse que a briga ocorrida em 8 de dezembro não envolveu associados da torcida e afirmou que está disposta a colaborar com MP e Brigada Militar. A Guarda Popular optou por não se manifestar. O Só Eles disse que seus integrantes foram vítimas de uma emboscada.