O Inter conseguiu entrar em crise a nove dias do fim do ano. Os tropeços em casa para Fortaleza e para Goiás, justamente quando mais precisava vencer os dois adversários, pode ter comprometido o que restava de esperança para colocar o clube na Libertadores outra vez. O primeiro reflexo foi a saída do vice de futebol Roberto Melo, responsável direto pela demissão do técnico Odair Hellmann – algo que jamais foi bem aceito pelo vestiário. É nesse clima que o Inter volta a campo neste sábado (30), às 19h, para enfrentar o Botafogo, no Engenhão, tentando assegurar ao menos a classificação à pré-Libertadores – já sob ameaça, após os recentes tropeços. D'Alessandro, suspenso mais uma vez por reiteradas reclamações, está fora.
A temporada do Inter se divide em antes e depois do Athletico-PR. Tudo ia razoavelmente bem até as finais da Copa do Brasil. As duas derrotas para os paranaenses implodiram uma equipe que jamais se consolidou com conquistas, mas que ao menos fazia boa campanha.
A demissão de Odair Hellmann, depois da entrevista-bomba do vice de futebol Roberto Melo, em Maceió, foi a pancada que faltava no processo de demolição do 2019 colorado. Os jogadores receberam mal a saída do seu treinador e os resultados, que já não eram bons desde a derrota para o Athletico, ficaram piores ainda. O Inter tem apenas 18 pontos e 37% de aproveitamento no returno do Brasileirão. No primeiro turno, mesmo dividido em três competições, somou 33 pontos e 57% de aproveitamento. Trinta e três também é a diferença de pontos do campeão Flamengo para o oitavo colocado Inter.
A cada mês, R$ 15,8 milhões deixam os cofres colorados para bancar todo o futebol do clube. Um investimento pesado para quem tem poucos recursos. Mas, quando se necessita de qualidade para virar jogos, as alternativas são novatos da base ou jogadores que jamais foram diferenciais por onde passaram.
Dois pontos atrás do Corinthians, e ocupando a última vaga à pré-Libertadores, o Inter também passa a ser acossado por Goiás e por Fortaleza. Um novo tropeço, agora no Rio, poderá representar até mesmo saída do G-8. Sem D'Alessandro, e mantendo sempre os treinos fechados, o técnico Zé Ricardo pode escalar Sarrafiore ou Neilton ou até mesmo Rafael Sobis na vaga do camisa 10.
— A gente tem se desorganizado de forma muito fácil, especialmente nos jogos em casa. Tomamos gols que não são costumeiros e estamos começando perdendo os jogos, o que é ruim, porque aí temos de correr atrás — reconheceu Edenilson. — Podemos pegar de exemplo os times que vieram aqui. Com todo respeito, não vou dizer que vamos ser o Fortaleza ou Goiás. Mas eles vieram aqui organizados e aproveitaram os espaços. É isso que temos que fazer fora também — finalizou o meia, a respeito da partida contra o Botafogo.
GaúchaZH analisa setor por setor, a fim de tentar responder à pergunta: por que o Inter parou no returno do Brasileirão?
O exército de um homem só: Marcelo Lomba
Daniel Pavan transformou Marcelo Lomba no melhor goleiro do Brasileirão de 2018. Apesar de erros pontuais na atual temporada, Lomba seguia salvando a equipe, como no pênalti defendido já nos acréscimos no 2 a 2 com o Fortaleza. A desastrosa partida contra o Goiás, porém, acionou um sinal de alerta. Lomba seguirá como titular, mas estará em observação e, dependendo do que acontecer no Engenhão, não será surpresa se Danilo Fernandes encerrar a temporada como titular. A média de gols sofridos por Lomba no returno é de 1,13 por jogo (foram 17 gols em 15 partidas). Uma média mais alta do que a sua anual, que é de 0,86 gol por partida.
— O ideal seria que o Inter tivesse um psicólogo do esporte trabalhando com a equipe o ano todo, para poder ensinar estratégias de enfrentamento que pudessem ser empregadas em momentos de maior pressão e desgaste emocional — entende a psicóloga do esporte Juliane Fechio. — Os trabalhos pontuais não têm o mesmo efeito, mas diante de uma situação como essa, o melhor seria fortalecer o grupo, a fim de lhe dar maior segurança. Atletas seguros ousam mais. Sem um psicólogo, quem pode fortalecer a confiança dos jogadores é o técnico — acrescenta ela.
Solução emergencial: Danilo Fernandes
A defesa exposta
Gols em contra-ataques, laterais e zagueiros expostos o tempo todo. Não raro, no sistema defensivo do Inter, à frente de Marcelo Lomba, se vê Moledo e Cuesta correndo atrás de atacantes ou tentando evitar um drible no mano a mano. Na derrota para o Goiás, o segundo gol mostra Michael entortando Heitor e Uendel – que estava ajudando na cobertura –, antes de ficar cara a cara com Lomba e marcar. Apesar de falhas individuais, como a de Lomba no primeiro gol goiano, ou como a de Uendel no primeiro gol do Fortaleza, meias e volantes têm deixado os defensores fragilizados jogo após jogo.
Solução emergencial: dar cobertura aos laterais ou trocá-los (mais uma vez).
O meio-campo mudou. Para pior
— Uma característica do meio-campo do Inter, sob comando do Odair, era a compactação defensiva e a entrega, sobretudo, dos volantes. É uma característica que já não se vê mais e o reflexo é um time que toma muitos gols — opina Vinícius Fernandes, analista do Footure. — A crise técnica e tática no time não é setorizada, é generalizada. Isso porque é uma crise psicológica. Reflexo de um elenco que não absorveu bem a reversão de expectativa da final da Copa do Brasil. Atletas do meio-campo, como Edenilson, Patrick e D'Alessandro, antes referências técnicas, estão em claro declínio — acrescenta.
Solução emergencial: ela passa menos pela mudança de nomes no setor, e mais pela remobilização do grupo. O ingresso do Nonato pelo lado esquerdo, colocando o Patrick na lateral, poderia ser uma adição interessante. Daria mais poder de controle ao time.
O ataque de Guerrero
Com investimentos modestos desde a volta à Série A, Paolo Guerrero foi um lance ousado do Inter. O camisa 9, porém, passou boa parte do ano desabastecido. Mas, desde o advento Zé Ricardo, ele voltou a marcar gols. Em oito partidas com o novo treinador, Guerrero balançou as redes cinco vezes.
— A equipe teve uma baixa técnica e psicológica. O novo treinador dá uma motivação extra no começo, mas, logo depois, já volta àquela situação de derrota na Copa do Brasil. Perder em casa para o Goiás ajuda a dar um abatimento a mais. Foco e união nas últimas três rodadas pela vaga à Libertadores, mesmo que seja somente para a pré-Libertadores — entende Christian, ex-centroavante do Inter.
Solução emergencial: na prática, não há. William Pottker, mais uma vez lesionado, e fora da temporada, era a opção de gols para o ataque. Nico López, com um pé fora do Beira-Rio, não marca um gol desde desde a final da Copa do Brasil – lá se vão mais de dois meses. Sobis também vive uma longa seca, e Pedro Lucas não surge como opção viável para ser o goleador do time. Sem Guerrero, o Inter dependeria da chegada à área de jogadores como Edenilson, Patrick, Nonato e Sarrafiore. Mas talvez seja bom os colorados se acostumarem à vida sem Guerrero. Tudo indica que o Boca Juniors o deseja com força.
As falhas da direção
De contratações equivocadas de jogadores à demissão de Odair Hellmann, sem que se tivesse uma solução imediata para assumir o time, a direção de futebol do Inter errou bastante em 2019. Com o pedido de demissão de Roberto Melo, Rodrigo Caetano passa a ter carta branca para comandar o futebol colorado. Caetano foi voto vencido na demissão de Odair, e o vestiário sabe disso – ainda que Zé Ricardo tenha sido uma escolha pessoal de Caetano. Agora, em três rodadas, o executivo terá de mostrar poder de mobilizar o grupo em busca não apenas da vaga à pré-Libertadores, mas, também ao prêmio do Brasileirão, que dá ao oitavo colocado (onde o Inter se encontra, no momento) R$ 21,4 milhões.
— Odair não deveria ter saído — acredita o ex-treinador do Inter Muricy Ramalho. — Mas Marcelo Medeiros e Rodrigo Caetano conhecem futebol. Odair já conhecia o time, o que sempre dá maiores chances de acerto. Naquele momento, trocar o técnico não surtiria muito efeito. A partir de agora, a essa altura, depende muito mais dos jogadores do que qualquer outra coisa, eles é que devem levar o Inter à Libertadores — finaliza Muricy.
Solução emergencial: já foi tomada. A saída do vice de futebol Roberto Melo.