O sentimento colorado após a derrota na final da Copa do Brasil varia entre a "terra arrasada" e o "caminho certo". De torcedores no estádio, nas ruas e nas redes sociais a dirigentes, comissão técnica e jogadores, os diagnósticos para a queda diante do Athletico-PR e as soluções para um futuro que devolva os troféus ao clube apareceram em profusão.
Houve quem culpasse a direção pelas contratações ou pela falta de opções para substituir D'Alessandro, por exemplo, que ficou de fora da decisão por lesão muscular. Também apareceram críticas à atitude de jogadores, simbolizada no segundo gol do Athletico-PR, no qual Marcelo Cirino ultrapassou Rafael Sobis, Edenilson e Rodrigo Lindoso com facilidade, deixando todos sem reação para dar o bote nos instantes finais da partida. E, claro, Odair Hellmann também foi personalizado como vilão, pelas escolhas na partida, substituições e, não menos importantes, atuação acanhada na primeira partida, em Curitiba.
Por outro lado, há ponderações de que os mesmos dirigentes, comissão técnica e jogadores levaram o Inter, de novo, à final de uma Copa do Brasil — o que não ocorria há 10 anos —, à Libertadores e ao quarto lugar no primeiro turno do Brasileirão, em muitas rodadas com time reserva. E foram, também, os herdeiros de um clube sem dinheiro, na Série B e investigado pelo Ministério Público.
Entre os extremos de "terra arrasada" e "caminho certo", GaúchaZH tenta encontrar o meio termo.
A comissão técnica
Como já era de se esperar, pela cultura do futebol brasileiro, de todos os "culpados" pela perda do título da Copa do Brasil, Odair Hellmann foi o mais citado. Há contestações sobre o trabalho do técnico do Inter, principalmente esbarrando na falta de conquistas em sua segunda temporada à frente da equipe. Na hora da decisão, faltou o algo a mais para o time, e esse algo a mais, para muitos, é responsabilidade do treinador.
A contestação espalha-se nas redes sociais. Seu nome frequentou, ao longo do dia, os assuntos mais citados, ao lado de outros técnicos, como Roger Machado, Marcelo Gallardo, Eduardo Coudet e Diego Aguirre — os quatro últimos apontados como bons profissionais para substituir o atual comandante colorado. Há, claro, quem o defenda, lembrando que, apesar do fracasso na final, foi Odair o principal responsável por conduzir o Inter até a decisão da Copa do Brasil, feito atingido apenas por Antônio Lopes (1992) e Tite (2009).
Mais até do que a decisão de quarta-feira, a crítica maior ao treinador se dá pela campanha fora de casa. O Inter de quase 80% de aproveitamento no Beira-Rio custa a repetir o desempenho longe de Porto Alegre. No Brasileirão, competição que resta até o final do ano, a equipe venceu apenas dois jogos e perdeu seis fora das divisas gaúchas. Claro, há de se descontar, na maior parte das vezes foram usados reservas, já que a equipe titular estava envolvida nos mata-matas de Copa do Brasil e Libertadores.
— As derrotas fora de casa fizeram o Inter pagar o preço em Porto Alegre. Faltou ousadia como visitante — afirmou Mauro Beting, comentarista do Esporte Interativo.
A visão do jornalista paulista é compartilhada por Giovanni Luigi, presidente do clube de 2011 a 2014. Para o ex-dirigente colorado, o trabalho de Odair Hellmann vem sendo bem feito:
— Minha opinião é respaldada pela torcida. Basta ver a quantidade de torcedores que têm frequentado o Beira-Rio, com alta média de público e não só nas copas. Esses resultados chegam logo após retornar da Segunda Divisão, o time está em quarto lugar no Brasileirão, chegou às quartas de final da Libertadores e à final da Copa do Brasil.
As derrotas fora de casa fizeram o Inter pagar o preço em Porto Alegre. Faltou ousadia como visitante"
MAURO BETING
Comentarista do Esporte Interativo
Do outro lado do espectro, o ex-vice de futebol Luciano Davi, que se opôs a Marcelo Medeiros na última eleição, também vê méritos na direção e no trabalho da comissão técnica:
— Não gosto de oportunismo de falar nessa hora, de querer aparecer na hora ruim. Por isso, quero frisar aqui que considero o trabalho bem feito. Acho que o Inter deve apostar na sequência do Odair para aproveitar a categoria de base. Deve ser o principal desafio, rejuvenescer o grupo e aproveitar os meninos.
Lauro, atualmente no Novo Hamburgo, era o goleiro do Inter na campanha da Copa do Brasil de 2009. Naquela ocasião, o time de Tite caiu para o Corinthians nas finais — o segundo jogo foi no Beira-Rio — e também precisou lidar com a frustração.
— Perdemos a Copa do Brasil e a Recopa, e aquilo balançou muito com o Tite, que acabou saindo. Tenho convicção de que, se ele tivesse permanecido, teríamos mais chances de ser campeões brasileiros, e ficamos com o vice. Se apostou no Odair, precisa seguir acreditando.
Jogadores
Pessoalizadas em Rafael Sobis e Edenilson pela cena do segundo gol, as críticas aos jogadores respingaram também em Patrick, Uendel, Nico López e até Paolo Guerrero (ainda que tenha sido ponderado que pouco foi abastecido). A atitude dos jogadores na decisão foi bastante contestada, mas até mais do que isso, há um fator sobre os atletas que não se restringe somente a eles, mas à comissão técnica e à direção também: o pouco aproveitamento de jovens.
Nonato e Heitor, oriundos da base, Zeca e Sarrafiore, contratações recentes, são constantemente pedidos pelos torcedores e por alguns analistas. As atuações dos dois primeiros no Brasileirão aumentam as solicitações.
— Vejo essa utilização como parte das pequenas correções de rumo a serem feitas — aponta Giovanni Luigi, mas evitando citar nomes de jogadores.
Luciano Davi concorda com essa opinião. Ele lembra que, em 2017, a média de idade do Inter era de 27 anos, enquanto agora subiu para mais de 30 — os dois principais jogadores do grupo têm 38 anos (D'Alessandro) e 35 (Guerrero)
Aproveitamento de garotos à parte, a hora é de reação para quem esteve em campo na quarta-feira. Nesta sexta-feira, o time se reapresenta para treinar e se preparar para enfrentar a Chapecoense, às 11h de domingo, no Beira-Rio. Para o jogo, inclusive, a direção abriu mão de cobrar ingressos de sócios, que entrarão no estádio mediante apenas check-in.
— Os jogadores já têm a oportunidade de dar resposta agora. É importante aproveitar. Nessas horas, lideranças fortes de vestiário precisam agir para conseguir se recuperar e fazer um grande jogo. Uma boa sequência devolve a confiança. Independentemente de críticas, somos profissionais e precisamos seguir — aponta o ex-goleiro colorado Lauro, recordando que, depois da crise por ter perdido a Copa do Brasil, o Inter conseguiu dar a volta por cima e ficou com o vice-campeonato brasileiro de 2009.
Dirigentes
Dirigentes também estão sempre na alça de mira das análises, mais ainda quando há derrotas fortes como a de quarta-feira. Marcelo Medeiros, reeleito presidente, manteve Roberto Melo na vice-presidência de futebol do clube, e houve o investimento em Rodrigo Caetano para profissionalizar o futebol. Juntos, os três comandam a estrutura do esporte. E mantêm a aposta em Odair Hellmann e sua comissão há mais de um ano e meio.
À parte críticas justamente por essa manutenção de treinador, comuns nas quedas, e elogiadas quando ocorre a sequência de vitórias, eles também respondem por eventuais contratações pouco aproveitadas e o acúmulo de nomes para as mesmas posições. O ataque é o exemplo mais claro. Só de extremas, o Inter tem Nico López, Wellington Silva, Rafael Sobis, Neilton, Guilherme Parede, Pottker e Neilton. Dá para acrescentar ainda Sarrafiore, que é um meia constantemente usado nessa função. Por outro lado, não há um substituto para D'Alessandro.
— O Inter apostou em uma estrutura, digamos carvalhista (em alusão ao ex-presidente Fernando Carvalho), de primeiro marcar para depois atacar. Prefiro um pouco mais aberto. Mas isso é preferência. Vejo que houve um time, uma formatação e isso é um elogio à direção. Agora, falta um camisa 10 urgentemente. Quarta-feira ficou claro que D'Alessandro ainda faz muita falta — opina Davi, que também sugeriu a renovação do contrato de Rodrigo Caetano pelo menos até o final do próximo ano: — Somos dirigentes políticos. Entramos, saímos e o clube continua. O que precisamos deixar é um trabalho permanente. Essa profissionalização precisa continuar.
Aliás, além de Caetano, a direção do Inter terá o segundo turno para avaliar as situações de alguns jogadores. D'Alessandro, Bruno, Keiller, Emerson Santos, José Aldo, Galdezani, Rithely, Guilherme Parede, Neilton, Tréllez, Nonato e Rafael Sobis têm contrato expirando ao final do ano.
O caso do camisa 10 deverá ser tratado apenas no encerramento da temporada. Sobis deverá ter o contrato renovado e Nonato será comprado, já que pertence ao São Caetano. Ao longo do ano, a direção colorada se antecipou e tratou da antecipação da renovação de alguns vínculos, como nos casos de Rodrigo Moledo, Edenilson e Nico.
Afora o futebol, o ex-presidente Giovanni Luigi vê outras razões para não fazer terra arrasada com a derrota. Segundo ele, investimentos alheios ao do time profissional poderão dar resultado em pouco tempo.
— Em poucos dias, o Inter terá a aprovação da cessão da área para a construção do CT de Guaíba. Isso nos fará melhorar a estrutura e aumentar nossa possibilidade de revelar novos jogadores, o que sempre foi nossa marca. Além disso, a possibilidade de construção das duas torres na área do Beira-Rio dará uma nova possibilidade de buscar dinheiro e aumentar nossa receita. São boas ações que se refletem no recorde de sócios registrados na semana passada — finaliza.