Grêmio e Inter estão muito perto de Gre-Nais inéditos, valendo um título nacional. Na próxima quarta-feira (4), ambos precisam administrar as vantagens construídas nos jogos de ida das semifinais da Copa do Brasil. Ao Colorado basta empatar com o Cruzeiro em casa, enquanto o Tricolor pode até perder por um gol em Curitiba para o Athletico-PR.
Dentro do espírito do projeto "Copa do Gaúchos", GaúchaZH convocou dois mestres da literatura para tratar desta iminente nova "Revolução Farroupilha". Se ocorrerem, os clássicos serão em setembro (dias 11 e 18). Eduardo Bueno, o Peninha, deixou pulsar sua veia de historiador e seu coração azul. Fabrício Carpinejar misturou seu sangue vermelho ao seu dom poético. Narram sentimentos das torcidas, sedentas por escrever um capítulo vencedor na história do futebol do Brasil.
Vermelho farroupilha
Somos crentes da aurora
do Beira-Rio.
O Guaíba é o pavio
da nossa épica loucura.
Não há margens para derrotas,
Poncho Verde, azul celeste,
mágoas.
Viemos da chama do crepúsculo,
das ruas de fogo sobre as águas,
fazedores do absurdo.
Amigos, não nos peçam acordos.
Como herdeiros da guerra,
honramos o Clube do Povo
Que o jogo nos livre do jugo.
O Rio Grande sempre foi
do lenço vermelho,
do colorado aos maragatos,
da camisa sanguínea, cardíaca,
de carne viva
a reparar as injustiças.
Inter é sangue Farroupilha,
doação, canção, independência
das forças imperialistas.
Amamos cada partida
com a gravidade de um tango,
para festejar as vitórias
na irreverência de um fandango.
Lomba é o paredão,
o começo do Gigante.
Ele se garante
diante dos levantes.
Cisca o céu, acotovela as nuvens,
galo de rinha, bom de briga,
no calor do entrevero.
Nem as traves perdem tinta,
cai sem dar um berro,
prevenindo erros,
transformando vinagre em vinho,
como se o milagre
fosse fácil e repentino.
Em sua área, não dá licença:
é uma pala larga,
porteira fechada.
Ao bochincho da torcida,
General Cuesta não cochila,
não dorme em serviço,
impõe-se Neto que jamais extravia a sua alma.
Soberano da zaga,
nem precisa de falta, antecipa-se,
por telepatia, às tropas inimigas.
Moledo sobe mais alto
que um pé de guamirim.
Tem fôlego de guri, mirim,
saindo ileso do chinaredo.
Ninguém enxerga direito
como se safa do ambiente fumacento.
Rei do rodeio,
depois de talonaço de cabeça,
troteia, soberbo, em cancha reta.
Arisco, espanta os afobados e tolos
de seus caminhos, não deixando o time correr nenhum risco.
Abre alas ao figurão
de todas as medalhas do coração:
Andrés Nicolás D'Alessandro.
Nenhuma idade para o malandro
de ser campeão.
De sua goela,
vem o grito de ordem,
a marcação se escabela
com as suas frestas e janelas.
Tem um 38 engatilhado
em sua canhota inesperada.
Assim como Cerezo e Júnior,
venceu o tempo pela austeridade,
apenas a paixão explica a sua longevidade.
É o Garibaldi, alto lá,
atravessando o pampa
com os navios nos ombros.
Onze anos de glórias,
alcançou a imortalidade
da história.
O manto é a sua pátria,
destino de sua portenha fúria.
Reinventou a geometria
com passos milimétricos,
de soma exata.
Não é um homem, mas um esquadro.
Por onde passa,
sobram carcaças e esqueletos.
A bola voa em seu comando, alada,
turumbamba de balas
para todos os lados.
Patrick tem astúcia de lanceiro,
daquele que dá medo de ser melhor amigo.
Nada é longito em seu encalço.
Seu bigode é Dali
que vem o perigo.
Edenilson encarna Bento Gonçalves,
pura barbaridade de drible.
Não há vaidade que o cale,
trombada que o anule,
maldade que o emperre.
É a verdade da ginga,
de gaiteiro rindo em meio ao
rebuliço de volantes
guampados e perdidos.
Das bandas do Uruguai,
de nosso pago vizinho,
desponta o enigmático Nico,
que não se faz de querido,
quer um tento a qualquer custo.
Finge-se de morto
para costurar torto
o zagueiro desprevenido.
Guerrero se mostra um índio
touro gauderiando,
nunca se dobra
às chuteiras em seu couro.
Atropela beiços, morde sonhos,
corta o laço.
E de repente, do nada,
produz um estouro, um gol louco,
para o berreiro do varzedo.
Sobis veio de antes, de títulos e conquistas, espírito antigo de
adagas e esporas da batalha do Barro Vermelho,
onde foi feito o hino e começou o rito de nossas façanhas
servirem de modelo a toda terra.
Odair, nosso comandante grisalho,
envelheceu antes do tempo
para ganhar respeito dos
mais velhos.
Vestido de cinza,
é o nosso carvão
crepitando estratégias
no chão da luta.
De suas lentes,
as miragens
se desvanecem,
a esperança cresce,
xiru de peito destemido,
buscando o campo aberto.
Não existe fado
que o desarme,
fardo que o apavore.
De sua confiança,
afiança Bruno,
Uendel, Lindoso,
Wellington, Nonato,
crias de seu patronato.
Para encurtar o relato,
não há nada
do outro lado da Arena.
Do Grêmio,
não se gasta mandinga,
só resta sentir Peninha.