Se a primeira vez é inesquecível, a segunda vez pode ser ainda melhor. Tudo indica que Nonato esteja ingressando em mais nova fase no Inter: a de busca real, oficial pela titularidade. Para isso, precisou dar um passo atrás. A expulsão no Gre-Nal dos times mistos/reservas, na Arena, durante a fase de classificação do Campeonato Gaúcho, serviu de lição ao novato meia colorado.
No Monumental de Núñez, diante do River Plate campeão da América, em jogo válido pela Libertadores, Nonato se mostrou recuperado. Fez um jogo de luxo e, ao final, contou com a sorte que muitas vezes define rumos de uma carreira: a lesão muscular de Patrick deverá tirar de ação por alguns dias o atual titular do tripé de volantes de Odair Hellmann. Caminho aberto para o recomeço de Nonato no Inter.
Ainda que tenha deixado o empate em 2 a 2 com o River sentindo o ombro direito, Nonato deverá ser o titular com Rodrigo Dourado e Edenilson diante do Cruzeiro, neste domingo, no Beira-Rio. E o futuro parece promissor ao cabeludo meio-campista, uma vez que a concorrência por um lugar ao sol no time de Odair vai diminuir. Com a saída próxima de Camilo — cujo contrato que se encerra em julho e não haverá renovação —, será Patrick x Nonato disputando uma vaga no setor.
Para se reinventar depois da mancha provocada pelo cartão vermelho aos 28 minutos do primeiro tempo do clássico 418, Nonato contou com o apoio do vestiário. Pessoas com acesso aos bastidores colorados confirmam que sequer foi necessária uma "doutrinação" ao meia, com longos sermões e cobranças mais contundentes pelo fato de ter deixado o time na mão na Arena.
— Depois do Gre-Nal, nem foi preciso falar muito. Ele estava muito chateado pelo que aconteceu e tinha noção do problema — comenta uma fonte.
Nos dias seguintes ao clássico, Odair Hellmann conversou com Nonato. Não foi necessário chamá-lo em sua sala, não é assim que o técnico do Inter trabalha. Foram conversas ao pé do ouvido, em meio aos treinos. O auxiliar Maurício Dulac e o diretor-executivo Rodrigo Caetano também tiveram estas reuniões informais com o meia, a fim de lhe dar força para recomeçar. Nonato compreendeu e, apesar de algumas semanas no cantinho do pensamento (após a expulsão no Gre-Nal da Arena e antes de enfrentar o River, Nonato havia sido utilizado em apenas quatro jogos dos 12 disputados pelo Inter), ele renasceu em Buenos Aires.
— Nonato é um menino que sabe jogar, que tem tempo certo para as tomadas de decisões em campo, que é um muito bom jogador. E aquele Gre-Nal foi fundamental para o crescimento dele. Certamente, ele foi chamado para uma conversa, como deve ser, e ficou um pouco na geladeira para refletir — diz o ex-centroavante do Inter Christian.
Ainda que em sua carreira Christian não tenha encarado uma "geladeira", o seu início de insucesso jogando em Portugal surgiu como ensinamento. No retorno ao Inter, ainda jovem, começou a fazer o seu nome, com gols e com a parceria com Fabiano no ataque colorado.
— Nonato recomeçou e bem. Fez um bom jogo na Argentina. Passar por um momento destes é complicado, mas faz com que o jogador cresça, que amadureça mais rápido. Tenho certeza de que agora ele já está mais bem preparado, mas é absolutamente normal um jovem passar por este tipo de problemas no começo da carreira. Eles está em processo de amadurecimento e, superando isso, vai crescer ainda mais. Estes processos servem para queimar etapas e ganhar experiência de vida, sem repetir erros — aposta o antigo camisa 9 do Inter.
A volta pro cima de Nonato não surpreendeu um de seus primeiros treinadores, Márcio Griggio. Atual técnico do time sub-17 do Santos, Griggio treinou Nonato e também o gremista Matheus Henrique quando comandava os garotos sub-17 do São Caetano.
— Nonato tem boa cabeça e vem de uma família muito boa e estruturada. Não me espanta que, em 40 dias, tenha se reafirmado no grupo do Inter. Qualidade, ele tem de sobra — comentou Griggio.
Dono de uma das melhores atuações no 2 a 2 com o River Plate, Nonato demonstrou a alegria de um guri ao falar sobre o bom confronto feito pelo Inter na casa do campeão da América:
— Foi um sonho de criança que consegui realizar (enfrentar o River, no Monumental de Núñez, pela Libertadores). Mas a equipe teve uma grande atuação e, quando o coletivo vai bem, as individualidades acabam aparecendo. Só tenho a agradecer pela oportunidade e acredito que ainda temos grandes coisas a conquistar nesta competição.
A segunda fase de todo o resto da carreira de Nonato começou em Buenos Aires.