Horas antes de Inter e Palestino entrarem em campo pela Libertadores, o Ministério Público do Estado (MP-RS) decidiu arquivar nesta terça-feira (9) o pedido feito pela Organização Sionista do Rio Grande do Sul, que exigia que o clube chileno retirasse de seu uniforme um mapa do Oriente Médio no qual Israel não aparece.
O expediente havia sido protocolado na segunda-feira (8) por integrantes da entidade, que viam no desenho nas meias e na manga esquerda dos jogadores do Palestino uma manifestação antissemita. O mapa no uniforme é da antiga Palestina antes da partilha da região, em 1947 – logo, anterior também à criação do Estado de Israel, que ocorreu no ano seguinte.
Em nota, o MP-RS entendeu que "não se verifica a ocorrência de infração" à legislação brasileira.
Os representantes da Organização Sionista afirmam que o mapa utilizado pela equipe ignoraria a existência de Israel e, por tal fato, seria uma afronta aos preceitos judaicos.
O MP explica que o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Sebastian Watenberg, esteve na manhã desta terça-feira na sede do órgão, reafirmando posição expressa na reportagem de GaúchaZH, na qual disse que a manifestação da Organização Sionista não representa o sentimento de toda a comunidade judaica do Estado. Na ocasião, Watenberg repetiu a relação harmoniosa entre judeus e palestinos que vivem no Estado e disse haver divergências entre as entidades judaicas sobre a polêmica do mapa.
O MP destacou que "eventual conduta ilícita que porventura venha a ocorrer em função da partida" – caso de manifestações racistas ou antissemitas, por exemplo – "prontamente será analisada".
Contudo, o MP não descarta, do ponto de vista cível ligado aos direitos individuais, que possa persistir "irresignação" — ou seja, se individualmente, alguém se sentir atingido pode buscar reparação individual na Justiça.
Em entrevista ao colunista Leonardo Oliveira, o presidente da comissão de Futebol do Palestino, Henry Abuawad, afirmou na segunda-feira que o clube utiliza o mapa "há muito tempo, 20, 30 anos"
— Estamos autorizados a ocupar nosso uniforme com nossos logos e insígnias pela Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile, é ela que nos regula — destacou.
A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), por meio de nota, ressalta que o mapa foi adotado pelo Palestino nos anos 1930, quando de sua fundação, antes da resolução de partilha adotada pelas Nações Unidas: "A comunidade palestino-brasileira dispensa todas as manifestações de extremismo e ódio", destacou ainda a nota.