Nada melhor do que abrir a Libertadores com vitória fora de casa e na liderança da chave. A estreia do Inter no torneio, batendo o Palestino por 1 a 0, no Chile, colocou o time de Odair Hellmann na liderança do Grupo A — graças ao empate já nos acréscimos do River Plate com o Alianza Lima, no Peru.
Em Santiago, o Inter viu Rafael Sobis se agigantar como um homem-Libertadores e marcar o gol da vitória. Além de apresentar uma equipe madura — uma repetição da formação do ano passado —, que suportou bem o nervosismo de um primeiro jogo longe de casa, e que obteve a quinta vitória seguida no ano: quatro pelo Gauchão, uma pela Libertadores.
Apesar de uma rodada perfeita, o Inter ainda não apresentou um futebol convincente, como ocorreu em diversas partidas do ano passado. Marcelo Lomba foi um dos destaques da noite. Edenilson carregou o meio-campo no colo. O setor ofensivo ainda precisa de ajustes, e Nico López não foi Nico López ao ser escalado pelo lado esquerdo.
A seguir, GaúchaZH analisa, junto com os comentaristas do SporTV para Palestino x Inter, Lédio Carmona e Ricardinho, alguns pontos do primeiro Inter da Libertadores.
Confira:
Cresce a confiança do time ao assumir a liderança do Grupo A na Libertadores, emendando a quinta vitória seguida no ano?
Se o futebol ainda não é dos mais belos, o Inter ao menos se mostra competitivo, apostando na forte marcação a partir do meio-campo e em lances de velocidade pelos lados — já que quase não há articulação no meio-campo. É a fórmula de 2018, mas, por enquanto, está dando resultado.
Lédio Carmona:
— Com certeza. Mas ainda é uma linha tênue. Neste momento traz confiança, mas, se perder o Gre-Nal, tudo isso pode ruir. Ou se tropeça no Alianza Lima, no Beira-Rio. É um momento em que o Inter consegue se recuperar, mas se vê que é uma coisa frágil. Precisa dar mais sustentação a isto. Os resultados estão aí, mas o rendimento ainda não é o ideal. Longe disso, longe de ser o Inter do Brasileirão.
Ricardinho:
— Como resultado, a vitória sobre o palestino foi uma boa estreia. Palestino não vai brigar por vaga, e era preciso pontuar no Chile. Inter foi muito bem neste quesito. Como desempenho, há um lastro grande para melhorar, tem time para jogar mais, para ser mais ofensivo e mais ousado. Com estas cinco vitórias, Inter já está mais confiante, mas ainda tem espaço para crescer, insisto.
Lideranças do grupo dão sustentação nesta arrancada: Lomba, Cuesta, Moledo, Dourado, Edenilson e Nico.
Dos 30 jogadores do grupo do Inter na Libertadores, 16 deles já disputaram o torneio. Alguns, saíram campeões. Dos atuais titulares, o sistema defensivo surge como o mais cancheiro. No banco ainda estão D'Alessandro e Sobis para dar suporte ao estreante Odair Hellmann.
Lédio Carmona:
— O Inter tem uma boa sustentação de lideranças. São vários jogadores com personalidade forte, que se entregam, e que não se escondem em momentos decisivos. Jogadores que aparecem pelo lado psicológico. Neste ponto, o time está muito bem servido.
Ricardinho:
— Neste momento de retomada, estes jogadores mais D'Alessandro, Sobis e Zeca, dão maior segurança aos jovens como Nonato, Pedro Lucas, Iago. Eles assumem a responsabilidade, a fim de dar maior tranquilidade aos mais novos. Neste sentido, o Inter está muito bem encaminhado.
Nico pela esquerda?
Destaque do Inter na temporada, o uruguaio foi deslocado para o lado canhoto do campo, deixando Pottker na direita. Nico foi bem no primeiro tempo, mas foi muito menos do que pode na segunda etapa.
Lédio Carmona:
— Nico sempre foi flecha. De uma hora para a outra, o Inter decidiu que ele seria arco. Ele não funciona pelo lado esquerdo. Se é para jogar mais atrás da zona de finalização, onde ele sempre foi um jogador muito bom, acho melhor que tenha liberdade. Que o deixem ele rodar por todos os lados, por todos os setores. Confinado no lado esquerdo, ele não funciona.
Ricardinho:
— Nico rende melhor pelo lado direito. Não que não possa atuar pela esquerda, de extrema, pois fecha bem na área, se junta bem ao atacante, tem a visão do campo, mas prefiro ele na direita. Não gostei do Nico contra o Palestino, sinceramente.
Que Zeca é este?
Trocado por Eduardo Sasha no ano passado, o Inter ainda espera para que o lateral do Santos e da seleção olímpica surja no Beira-Rio. Zeca segue com dificuldades na marcação e não chega a ser um diferencial quando avança.
Lédio Carmona:
— Zeca lateral-direito ou lateral-esquerdo é o de menos. O que o Inter precisa é o Zeca do Santos. Quando o Inter tiver o Zeca do Santos, ele vai funcionar. O problema é que o Zeca do Santos ainda não apareceu no Inter.
Ricardinho:
— É inegável que o Zeca na lateral direita ainda não rendeu o que pode. Ainda que ele jogasse na esquerda nos tempos de Santos, e isto faz a diferença. Talvez lhe falte ainda a confiança que tinha no Santos. Mas é um bom lateral e é preciso ter paciência com Zeca. Dá para apostar nele um pouco mais.
Mesmo com poucos gols, William Pottker é titular?
Ao buscar Pottker para a disputa da temporada 2017, a direção colorada procurou um goleador nato. Um jogador intenso e com capacidade para decidir jogos. Foi assim nos tempos da Ponte Preta, quando ele foi artilheiro do Campeonato Brasileiro e do Paulistão, com um total de 23 gols (14 no Brasileirão, 9 no Paulistão) entre as duas competições (em 48 jogos). Número que ainda não atingiu pelo Inter: tem 21 gols em 77 partidas.
Lédio Carmona:
— Não acho que o Pottker ainda será uma solução para o Inter. Gostava muito dele na Ponte Preta, mas no Inter se tornou um jogador que define muito mal os lances. Escolhe sempre a jogada errada, até ouvi elogios à postura tática dele contra o Palestino, recomposição. Mas me parece muito pouco para um atleta com o potencial dele. Eu buscaria outra alternativa para o Inter.
Ricardinho:
— Pottker não foi bem no primeiro tempo, cresceu no segundo. Mas ainda está longe de ser o jogador que nos acostumamos a ver na Ponte Preta.
Rafael Sobis ressurge como opção?
É possível dizer que o Sobis esperado pelos colorados reapareceu em San Carlos de Apoquindo. Se o bicampeão da América não foi brilhante nos minutos em que esteve em campo, foi ele quem decidiu o jogo, em um lance pessoal: a cobrança de falta marota que enganou o goleiro do Palestino. Agora, com a camisa 23, Sobis concorre à vaga entre os 11?
Lédio Carmona:
— Sobis pode ser uma boa alternativa para o segundo tempo, é um jogador experiente, tem história, tem estrela, e pode ser um jogador muito útil para o Inter. Mas, contra o Palestino, ele não entrou bem, apesar de ter decidido o jogo. Não se pode descartar um cara com a bagagem dele.
Ricardinho:
— Rafael Sobis com a sua liderança e estrela de sempre. É um jogador decisivo, experiente, e está sendo importante de novo para o Inter. É um cara que está acostumado a decidir. E, na Libertadores, uma competição que ele conhece como poucos, sempre agrega. Arriscou contra o palestino e contou com a falha do goleiro. Mérito dele. Será sempre uma opção, em especial para os jogos decisivos.
O meio-campo com o tripé de volantes deve ser mantido?
Bem que Odair Hellmann tentou mudar a maneira de atuar do Inter. Nos primeiros jogos do ano sacou Patrick do time, testou Neilton, Nonato, e voltou a Patrick. Entendeu mais seguro para a Libertadores repetir o trio que foi bem no ano passado. Para jogar no Beira-Rio, a tendência de momento é manter o tripé de volantes.
Lédio Carmona:
— Odair deve manter o meio com os três volantes, até porque ele não tem uma base sólida. A base sólida que ele tem é exatamente esta, a do ano passado, quando foi bem em parte do Campeonato Brasileiro. Enquanto não tiver outra proposta, outra solução de jogo para fazer o time funcionar, acho que ele deve manter Dourado, Edenilson, como segundo volante, fazendo o corredor pela direita, e Patrick, como terceiro de meio-campo fazendo o corredor pela esquerda. É o que o Inter tem de mais seguro até agora na temporada.
Ricardinho:
— É um meio-campo marcador, com intensidade, porque Dourado marca, Edenilson também. Edenilson e Patrick recompõem bem e têm boa saída, as não são articuladores. E contra o palestino faltou um articulador. Mas isso faz parte da ousadia, de se buscar mais. Inter ganhou, mas podia ter ido melhor, se tivesse quem organizasse melhor o ataque. No segundo tempo, Inter recuperava a bola e já perdia, pois não tinha quem armasse. E ficou perigoso o jogo. Neste meio-campo é preciso ter um articulador. Este balanço, Odair terá de encontrar. Falta um jogador de meio, que organize e que chegue na área de vez em quando.