Há duas maneiras de se analisar a campanha do Inter no Brasileirão 2018. A primeira: o time fez mais do que poderia ao chegar à Libertadores no ano de retorno à Série A, no qual a expectativa era apenas permanecer na Primeira Divisão. A segunda: mesmo com limitações de elenco, a equipe tinha condições de se sagrar campeã nacional e deixou o título escapar.
Nenhuma delas está completamente errada, porque ambas são verdadeiras. Assim como o time formado se mostrou superior aos resultados obtidos no início da temporada, a reta final da competição deixa a frustração de uma conquista que chegou a se mostrar possível.
E também não há apenas uma explicação para essa dupla sensação. Uma delas é o desempenho do Inter no primeiro e no segundo turno, principalmente como visitante. O time destemido na metade inicial, que conseguiu vitórias contra Atlético-MG, Vitória e Fluminense longe de casa, tornou-se uma presa maior no segundo, perdendo pontos para times da parte de baixo da tabela, como Vasco, Chapecoense, Ceará e Sport. Os 50% de aproveitamento fora do Beira-Rio nas partidas de ida se transformaram em 29% nos jogos de volta. Além da divisa gaúcha, a equipe venceu apenas o Bahia no segundo turno, e já se vão quase três meses (22 de agosto).
Por outro lado, a força da torcida foi determinante. Dos times do G-6, o Inter só não venceu o líder Palmeiras (empatou em 0 a 0) no Beira-Rio — o 6º colocado, o Atlético-MG, é o adversário de amanhã. No mais, saiu de campo com três pontos diante de Flamengo (2º), Grêmio (4º) e São Paulo (5º). Aliás, além do Palmeiras, só outras três vezes não houve festa plena depois do apito final: Sport, Cruzeiro e Santos. A equipe de Odair ostenta a segunda melhor campanha como mandante, atrás apenas do líder do Brasileirão.
Por isso, a temporada do Inter termina com esse sentimento ambíguo. E obriga a levantar um debate: o 2018 é positivo por causa da expectativa criada, de um recém-promovido à elite chegar à Libertadores, ou frustrante pela realidade que se apresentou em setembro, de ter assumido a liderança e "deixado escapar" um título que pareceu viável?
— Para os clubes brasileiros, a expectativa pesa mais, sempre. Por ter começado regional, nosso futebol se baseia numa mentira: a de que os grandes serão favoritos em todos os campeonatos que disputarem. Nos Estaduais, sempre foi assim. No Brasileirão, principalmente depois dos pontos corridos, a realidade é bem diferente — avalia o comentarista Marcelo Barreto, do SporTV. — O Vitória demitiu o técnico Caio Júnior durante sua melhor temporada nos pontos corridos, em 2013. O erro dele? Não conseguir entrar no G-4 depois de levar o time a um surpreendente 5º lugar. Se quem jamais conquistou um título brasileiro pensa assim, imagine quem já foi campeão de tudo?
A chance de título do Inter é quase nula. Na verdade, ela só existe porque a matemática ainda permite. Por outro lado, a equipe vê os adversários de baixo — Grêmio e São Paulo — reduzirem a diferença. Para confirmar vaga na fase de grupos da Libertadores sem depender de qualquer resultado paralelo, precisa somar seis dos nove pontos restantes. Desta forma, mesmo que os paulistas consigam 100% de aproveitamento, não passa os gaúchos no número de vitórias, o primeiro critério de desempate. Se somar sete pontos, garante pelo menos o terceiro lugar. O vice-campeonato garante R$ 11,7 milhões.
— O Inter não demitiu Odair Helmann, um de seus maiores acertos na temporada, e acredito que não o fará, mesmo se a classificação direta para a Libertadores não vier. Se o torcedor colorado quiser seguir a lógica nacional e se frustrar, por olhar para trás e enxergar o título mundial, passando por cima de uma Série B bem mais recente, não há como evitar. Mas quem trabalha com o futebol do clube tem a obrigação de entender que a realidade de 2018 já está muito acima da expectativa — completa Barreto.
A opinião é compartilhada pelo jornalista Marcos Paulo Lima, colunista do Correio Braziliense.
— A eliminação no Estadual para o Grêmio e a queda precoce na Copa do Brasil diante do Vitória anunciavam o caos no Brasileirão, mas o Inter foi além. O sentimento da torcida colorada tem que ser de orgulho neste fim de temporada. O clube deixou escapar a chance de encerrar o jejum de 39 anos, é verdade, mas não estava pronto para isso. Mesmo assim, tem tudo para encerrar o campeonato com a melhor campanha de um time egresso da Série B, vaga direta para a Libertadores e o principal: uma base pronta para, quem sabe, reconquistar o Brasileirão em 2019, desde que saiba lidar com o calendário. Neste ano, disputou praticamente a Série A. Tropeços contra os pequenas à parte, é um ano digno de aplausos.
Ex-zagueiro e lateral-esquerdo do Inter entre os anos 1990 e 2000, Vinícius vê semelhanças com 2003. O time começou aquele ano pensando na fuga da Série B após uma vitória sobre o Paysandu na última rodada do Brasileirão anterior. Só queria sobreviver sem sustos. Porém, comandada por Muricy Ramalho, a equipe conseguiu ir além e acabou a temporada frustrada por não ter conseguido vaga na competição continental.
— São poucas diferenças, conquistamos o título gaúcho e agora, não. O time era um pouco mais jovem em 2003. Mas a equipe de agora conseguiu a vaga já para a Libertadores. Vejo como um ano positivo para o Inter, superior ao que se previa — atesta.
O atacante Diego, hoje no Nacional, de Portugal, recorda:
— Lembro que, naquele ano quando começamos a temporada, nunca pensamos em apenas livrar o time do rebaixamento. Nossa meta era fazer um bom Brasileiro, e terminar o campeonato o mais na frente possível. Mas confesso que libertadores não era o principal objetivo. Acredito que isso possa ter se repetido, primeiro estabilizar o time na Série A. Essa oportunidade do título foi crescendo ao longo do campeonato, acredito que nem o mais otimista colorado imaginaria que isso pudesse acontecer. Então é claro que nessa fase iriam cobrar pelo título, por ter sido uma situação real, pelo passado recente do clube, mas analisando com calma, vendo a forma que o Inter subiu o ano passado, acredito que a maioria da torcida achava que esse ano seria para se estabilizar, para no próximo voltar a pensar em Libertadores e título.