O gabinete de crise instalado no Beira-Rio define, em parceria com os advogados de Paolo Guerrero, detalhes da estratégia para tentar reverter na Justiça Comum da Suíça suspensão aplicada pelo TAS (Tribunal Arbitral do Esporte) ao atacante peruano, que o deixará por oito meses afastado dos gramados e dos treinos. A chance de sucesso na empreitada, entretanto, é tida como remota.
Neste momento, Guerrero está impedido de jogar futebol profissional até 23 de abril de 2019. Condenado pelo TAS em 14 de maio de 2018 pelo uso de uma substância proibida, o jogador recorreu à justiça comum da Suíça, alegando que o tribunal esportivo divulgara apenas o veredito, sem disponibilizar as justificativas que levaram à condenação. A defesa ingressou com ação cautelar e, em um segundo movimento jurídico, solicitou liminar para que o jogador pudesse voltar a atuar enquanto aguardava o julgamento do recurso. A liminar foi concedida, o que permitiu a Guerrero jogar a Copa do Mundo e voltar a atuar pelo Flamengo.
Desde a cassação da liminar em Lausanne, na manhã desta quinta-feira (23), os advogados se mobilizam para tentar a reversão. Um emissário do Inter embarcou para Lima, no Peru, a fim de buscar junto à Federação Peruana de Futebol elementos que auxiliem a defesa do jogador. Na Suíça, a defesa de Guerrero é feita por dois advogados: o suíço Alex Zen-Ruffinen e o espanhol Juan de Dios Crespo Pérez.
O julgamento do recurso na Justiça Comum da Suíça está agendado, inicialmente, para dezembro. Os advogados de Guerrero questionam junto à justiça suíça as provas que o levaram à condenação – o atacante foi punido após ser flagrado no exame antidoping na partida entre Argentina e Peru, pelas Eliminatórias da Copa da Rússia, em 5 de outubro de 2017. O laudo apontou a substância benzoilecgonina, um metabólito da coca ou da cocaína. Se dizendo inocente, Guerrero alegou ter consumido um chá antes da partida.
Especialista afirma que reversão é difícil
GaúchaZH consultou o advogado esportivo e especialista em doping Thomaz Sousa Lima Mattos de Paiva. O mineiro explica que, caso a Justiça da Suíça entenda que houve erro na decisão do TAS, é possível que haja uma reversão na pena. Mas essa possibilidade é remota.
– Isso é tratado como algo excepcional. São raros os casos de reversão. Existe um respeito arbitral. Mas a Justiça da Suíça se sobrepõe, sim, à decisão do TAS – explica Paiva.
O advogado ainda destaca a rigidez com que são tratados os casos de doping pelas entidades como WADA (Agência Mundial Antidoping) e TAS. Em um caso antigo conduzido por Paiva, que envolvia um atleta da seleção brasileira de natação, foi confirmado que a mulher do nadador havia utilizado uma pomada. Ao ter contato com ela, que o nadador acabou testando positivo para uma substância não permitida. Apesar de confirmada a falta de intenção, o tribunal o condenou ao afastamento de um ano.
– A regra é muito dura. Naquele caso, a contaminação foi cruzada, mas a regra não permite – conclui Paiva.
Tanto os advogados de Guerrero quanto à direção do Inter ainda não se manifestaram publicamente sobre o assunto.