Gelo caindo do céu. Pedras do tamanho de um punho fechado caindo das nuvens e se espatifando no gramado. Raios, trovões, dilúvio e apagão. Gramado encharcado. Do meio para cá, futebol; do meio para lá, polo aquático. Em um jogo que obrigou a TV a criar a estapafúrdia arte de "+29" (para representar os vinte e nove minutos de acréscimo dados pelo árbitro), o Sport Club Internacional alcançou a mais colorada das suas nove vitórias até aqui no Brasileirão 2018.
O que assistimos ontem foi o Inter em sua essência. Onze jogadores que personificaram o Clube do Povo do Rio Grande do Sul e o representaram à perfeição entre as linhas de jogo. Entramos em campo para uma disputa direta por pontos, tendo em mente que um empate contra o Galo em terras mineiras seria um resultado já bastante interessante. Era jogo de equipes que brigam na parte de cima da tabela, era jogo grande.
E, meu amigo, que saudade que eu estava de um jogo grande.
Depois de anos disputando absolutamente nada - talvez a última grande noite de Inter tivesse sido ainda em 2015, quando da semifinal da Libertadores daquele ano -, passar o dia nervoso e sentar em frente ao televisor para acompanhar um grande embate do Internacional era algo que há tempos não fazíamos. Ou jogávamos com total desespero (como em 2016 e 2017), ou simplesmente não nos sentíamos protagonistas o suficiente dos certames para que a atmosfera das partidas fossem como a de ontem.
No primeiro, casinha fechada (bem a carinha do Inter)
Para além do clima, o futebol apresentado foi gigantesco. Um primeiro tempo correto. Fechadinho, deixando o Atlético jogar e perceber que poderia passar mais duas ou doze horas jogando contra a nossa defesa que gol algum aconteceria. Um time aguerrido, dedicado, marcador e brigador fechou todas as ruas possíveis aos atleticanos, da porto-alegrense Padre Cacique até a "belzontina" Pitangui. Não havia caminho, espaço ou chance.
Aqui, sobram elogios para Dourado, Edenílson, Patrick e, especialmente, Rodrigo Moledo. O que o Inter marcou através desses jogadores foi algo de fora de série. Destaque maior para o nosso principal zagueiro, que é um pilar de qualidade, disposição física e segurança na nossa defesa. A ausência de Danilo Fernandes sequer pôde ser sentida, uma vez que Lomba ou foi protegido pelos seus companheiros ou apareceu com segurança para defender o arco.
Raios, trovões, granizo e apagão
Aí veio o intervalo e, depois dele, o caos. Desabou o mundo no Independência.
Pedras de gelo do tamanho de punhos cerrados caiam do céu e se espatifavam no gramado.
Por cerca de dez minutos o barulho do granizo batendo contra as estruturas do Horto abafou até os berros da ensandecida torcida do Atlético (e alguém ainda há de estudar o porquê de paralisações, apagões e até pausas por conta do gelo que cai das nuvens causar tamanho rebuliço com quem está nas arquibancadas). Foi assustador.
Quando o jogo recomeçou, Belo Horizonte sofria com uma chuva torrencial acompanhada de raios e trovões. A tempestade trouxe consigo um resultado que os clientes da CEEE conhecem bem aqui no sul: falta de luz. Apagou tudo no Independência. Times novamente nos vestiários e mais quinze minutos de paralisação.
No segundo, raça, drama e qualidade (bem a carinha do Inter)
O que restou de futebol para depois das manifestações iradas da natureza completou o mais colorado dos cenários. Um Inter aguerrido e determinado teve na qualidade técnica dos seus jogadores a chave para conquistar os três pontos. Lançamento de 20 metros de Nico, uma perfeição. Escorada de peito do Patrick, um deboche. Tapa de chapa do Edenílson, uma lindeza. Em três atos, uma pintura de gol nos dava a vantagem no placar.
Para finalizar a mistura vermelha, boas doses de drama. Nada veio fácil nas nossas vidas. É gol na fumaceira em La Plata, é gol "roubado" para bater a Luverdense em casa, é bola na trave e certa pressão atleticana antes do apito final. Não importa onde estejamos ou quão relevante seja o desafio, não será triunfo do Inter se não vier na base de muito suor e desmedidas doses de desespero.
Quando acabou o jogo, abriu o tempo. Nessa terça-feira, tudo relacionado a Inter é leve, é céu aberto, é otimismo. Em uma noite repleta de tudo o que aprendemos a amar e a sofrer no Sport Club Internacional, o Inter saiu vencedor de um grande jogo de futebol.
E, meu amigo, que saudades que eu estava de um grande jogo de futebol.