Quando alguém perguntar o que é aproveitar uma chance quando ela aparece, basta responder: Iago. Tratado inicialmente como uma promessa da base, seria uma sombra para Uendel em 2018. Mas já no primeiro jogo da temporada, a lesão no titular lhe deu uma oportunidade. E Uendel voltou, Patrick chegou, Zeca foi contratado, mas nada abala a certeza de que, na escalação do Inter, a defesa é fechada por Iago do lado esquerdo.
O menino é considerado um case de sucesso de aproveitamento de peças da base. Aos 21 anos, conseguiu se fixar de tal forma que não há nem discussão sobre sua condição. Basicamente, o sonho de uma direção: garimpar um talento, lapidá-lo, usá-lo no time e, claro, posteriormente, vendê-lo. Iago está na terceira etapa.
— O Iago é um jogador que, aparentemente, a principio não iniciaria o ano como titular. Ele entrou bem, conseguiu se consolidar e precisa continuar se afirmando no processo — disse o técnico Odair Hellmann.
O treinador faz parte desse processo de aprimoramento do jogador. Há algumas semanas, revelou que conversou com Iago para mudar algumas decisões em campo. Basicamente, sobre cruzamento. A ideia era evitar que o lateral fizesse o caminho mais simples, de erguer a bola para a área da intermediária, sem o capricho necessário para que a jogada resultasse em gol. O plano é forçá-lo a ir, mesmo, ao fundo do campo, controlar a entrada dos companheiros com a visão periférica e passar a bola, preferencialmente rasteira a quem vem de frente. Algo como foi o gol de Leandro Damião contra o Remo na Copa do Brasil: Iago recebeu de D'Alessandro, foi à linha de fundo e cruzou para o centroavante completar, de dentro da área pequena.
Outro movimento solicitado ao lateral é o de invadir a área, enveredando pelo meio para finalizar. Os dois gols que fez em 2018 foram assim. Contra o Juventude, tramou com Patrick pelo lado esquerdo, apareceu no espaço vazio, recebeu de D'Alessandero e bateu forte, na saída do goleiro. Contra o Cianorte, apareceu como elemento surpresa em um cruzamento do lado direito e, como a bola passou por todos, estava livre do lado esquerdo para concluir.
O próprio Iago justifica essa facilidade para aparecer na área adversária:
— No começo, eu não era lateral. Jogava de atacante de lado do campo.
Por isso, a virtude ofensiva teve pouco a ser lapidada. O ex-lateral-esquerdo do Inter, Daniel Franco, campeão da Copa do Brasil de 1992, foi o primeiro treinador de Iago logo depois de sua chegada do Monte Azul, time do interior paulista onde fez os anos iniciais da categoria de base. Encantado pelo ímpeto atacante do jogador, Daniel avisou:
— Aqui, no Sul, não é assim. Sei que és rápido e chegas ao fundo com facilidade, mas no Rio Grande do Sul, precisa marcar. O lateral é um defensor antes de ser um atacante. Primeiro, vais aprender a marcar para depois começar a jogar.
A partir daí, Iago aprimorou sua força defensiva. Aprendeu a dosar entre fechar o espaço e dar o bote. Ainda busca um equilíbrio de posicionamento, mas é ajudado por Patrick na função. Além disso, revelou que conversa frequentemente com o ex-titular Uendel para pegar os macetes da posição. E na ausência de Uendel, entendeu que ali estava "a chance da vida", como revelou em entrevista coletiva.
No Brasileirão, o primeiro que disputa, é o jogador que mais deu passes pelo Inter, o segundo que mais acertou (perde apenas para Rodrigo Dourado). Somado ao Gauchão e à Copa do Brasil, acertou 694 passes. Na parte defensiva também se destaca: é o quarto maior ladrão de bolas da equipe, e o quinto mais faltoso.
Os números dão segurança suficiente para Odair informar aos repórteres que Zeca, principal contratação do clube neste meio do ano, não será lateral-esquerdo, posição que se destacou no Santos nos últimos anos:
— Inicialmente vou aproveitá-lo como lateral-direito — disse de forma bem objetiva o técnico Odair, quando questionado sobre Zeca.
Agora caberá a Zeca repetir Iago e aproveitar uma chance quando ela aparece.
*Colaboraram Cléber Grabauska e Rodrigo Oliveira