Há 154 dias o técnico Guto Ferreira comanda o Inter. Assumiu a equipe horas após a eliminação para o Palmeiras na Copa do Brasil e cinco dias depois da da assustadora queda para o Paysandu no Mangueirão. Recebeu a equipe na quarta rodada da Série B e na nona colocação. Em 29 partidas, fez do Inter o líder da Segunda Divisão e na contagem regressiva para o acesso. Também foi eliminado da Primeira Liga, autorizado que foi pela direção, que concordou com a utilização de um time misto na semifinal contra o Atlético-MG.
Com Guto, o Inter obteve 65,5% dos pontos disputados no nacional. Não que chegue a ser um assombro, é apenas o mínimo necessário para sair do atoleiro da Série B. Se o time há anos é D'Aledependente, agora há uma divisão de dependências: o Inter de Guto também é Damiãodependente. Sem um ou outro as coisas se complicam para os lados do Beira-Rio.
Contratado ao Bahia, que recebeu do Inter um pagamento de cerca de R$ 500 mil a título de multa rescisória para liberá-lo, Guto Ferreira mudou a maneira de jogar do time de Antônio Carlos Zago, passando da "Árvore de Natal", o 4-3-2-1, para o 4-1-4-1.
- Guto Ferreira entrará para a história como o homem que reconduzirá o Inter para à Série A. Por mais que isso pareça fácil, Antônio Carlos Zago não estava conseguindo. O esquema 4-1-4-1 de Guto se mostrou mais eficiente que o 4-3-2-1 do antecessor, mas isso também aconteceu porque surgiu um homem de frente que Zago não tinha: Leandro Damião. O atacante é claramente determinante na retomada colorada - afirma o repórter da Rádio Gaúcha José Alberto Andrade. - Feliz de Guto que pode contar com ele e competente o técnico por aproveitá-lo bem. Guto cumpriu a tarefa de subir o Inter. Teve resultado, mas deixa a desejar em desempenho. Pela meta atingida merece a chance de começar 2018, mas seu trabalho obrigatoriamente vai ter que evoluir para atingir patamares de série A. Vale dar o crédito, mas com algumas condições - reforça Andrade.
É bem verdade que até fazer do Inter o líder da Série B, favorito ao título e ao acesso antecipado, Guto sofreu. A derrota para o Boa, em casa, será para sempre uma tatuagem na trajetória colorada em 2017. O Beira-Rio foi transformado em praça de guerra após esse revés e, na sequência, com o empate com o Criciúma. Nas últimas semanas, o futebol colorado começou a aparentar um certo desgaste, com a derrota para o Pará, as magras vitórias sobre Brasil-Pel e Criciúma, além do empate com o Boa e a derrota em casa para o Ceará do veterano atacante Magno Alves.
- Antes de tudo é preciso lidar com as expectativas. Quem cai, cai com a sensação de que é proibido perder. Mas em qualquer campeonato longo você vai trocar resultados. Guto assumiu no meio do caminho para corrigir essa expectativa. De positivo, ele colocou o Inter perto de uma expectativa mais realista. Não tem ameaça concreta de não subir. Entregou ao Inter o "Pacote Série B de Clube Grande": subir sem sustos - entende o comentarista e apresentador do canal Sportv Marcelo Barreto.
Para o comentarista mineiro, o treinador tem mais méritos do que equívocos e, por isso, merece uma chance em 2018.
- Guto tem trabalhos consistentes, mas que não são na elite do futebol brasileiro. Agora, com o Inter, estará nesta condição, para a retomada. Ele faz um bom trabalho, mas vai precisar ser testado em um time de ponta da Série A - pontua Barreto.
Os recentes resultados do Inter deixam uma dúvida a respeito das condições de Guto para conduzir a equipe. Desde a derrota para o Paraná a equipe não demonstra um bom desempenho - mesmo nas vitórias sobre Brasil-Pel e Criciúma.
- Guto teve uma queda de qualidade no seu trabalho. Algumas de suas escolhas recentes são bem questionáveis, como Alemão e Danilo Silva ou Roberson pra substituir Damião. A volta da famigerada ligação direta é outro ponto frágil. Semanas de treinamento para o zagueiro dar um balão para o centroavante? Em relação às permanência para 2018, vale uma revisão geral do trabalho ao final da Série B. Guto Ferreira já ofereceu melhores razões para a direção bancar sua permanência - pondera o comentarista do Grupo RBS Maurício Saraiva.
Para Arnaldo Ribeiro, comentarista dos canais Espn, o trabalho de Guto no Inter não chega a ter brilho, ainda assim, o treinador está devolvendo o clube à Primeira Divisão, o que o credencia para renovar o trabalho para a temporada seguinte.
- Guto está passando de ano, com o acesso e o primeiro lugar na série B, mas sem recuperação e com nota mínima. Chegou. Enfrentou tempestades. Arrumou o time. Deu padrão. Mas estagnou. O Inter da reta final da série B não empolga - e vê seu rival chegando a uma decisão da Libertadores... Essa comparação não pode ter peso na decisão de manter ou não o treinador do Inter na próxima temporada - entende Ribeiro. - A discussão principal é: existe opção melhor? No cenário atual, escasso, do mercado de treinadores brasileiros, creio que não. Entre uma troca sem convicção e a manutenção do trabalho, fico com a segunda opção. O Brasileirão da Série A comprova isso. O líder é comandado por um ex-interino. O vice-líder é treinado por um ainda interino. Idem para o terceiro colocado. A fase atual dos treinadores brasileiros mostra um nivelamento por baixo. O que não justifica mais o alto salário que eles recebem - finaliza o comentarista.
Guto Ferreira poderá ser merecedor de elogios ou de novas críticas dependendo de suas próximas ações. Nesta sexta-feira, o Inter receberá o CRB. Na segunda-feira, jogará no Passo das Emas, em Lucas do Rio Verde-MT, contra o Luverdense, os jogos que poderão reconduzir os colorados para a elite nacional.