Houve um tempo, recente até, em que o Inter contava com 12 titulares. Para ser preciso, foi entre 2008 e 2012, intervalo de tempo em que os técnicos chegavam e saíam, mas uma situação seguia inalterada: Andrezinho era um reserva visto mais em campo do que no banco. Agora, um outro meia dá sinais de seguir trajetória semelhante. Camilo chegou para ser alternativa a D'Alessandro, mas mostrou tanto serviço que começa a espichar o olho para as posições de Sasha e Pottker.
O Inter, como se sabe, joga em um esquema 4-1-4-1. O segundo "4" dessa figura numérica significa que o time atua com dois jogadores nas pontas (Pottker e Sasha) e dois pelo meio (Edenílson e D'Alessandro). Camilo atuar por dentro, como se diz na linguagem dos técnicos, não é surpresa. Aos 31 anos, se destacou na carreira por ser armador. A novidade é que Guto Ferreira, contra o Guarani-SP, usou-o pelo flanco no segundo tempo, em lugar de Sasha.
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Na verdade, nem tão novidade assim. No Botafogo de 2017, a chegada de Montillo empurrou Camilo para a extrema em um 4-2-3-1. A perda de uma posição central na equipe azedou sua relação com o técnico Jair Ventura e culminou em sua saída do clube em julho. Mas mostrou sua multifuncionalidade.
Maurício, ponteiro do Botafogo nos anos 80 e do Inter nos anos 90, acompanha de perto o dia a dia do clube carioca. Tão de perto que, ao atender ZH para falar sobre Camilo na tarde desta quinta-feira, estava a caminho do Engenhão para assistir à decisão contra o Nacional-URU, pela Libertadores. Para ele, usar Camilo como um extrema está longe de ser absurdo:
– Ele é um jogador técnico e, por ser habilidoso, tem a qualidade para o drible, pode cair para o lado. Com isso se torna uma opção muito boa. Creio que tenha capacidade de colaborar com a marcação, sim. Não é o forte dele, mas pode fazer.
Maurício cita o próprio exemplo com prova de que é possível um jogador se reinventar. Quando desembarcou no Rio Grande do Sul, buscado pelo Inter no Botafogo, era ponteiro-direito com virtudes apenas ofensivas. No Beira-Rio aprendeu a usar sua força também para ajudar o lateral Luiz Carlos Winck na marcação.
– Não tinha costume de marcar, mas consegui me adaptar bem aí no Sul – conta o ex-ponteiro, hoje observador do Botafogo e de alguns clubes estrangeiros.
Auxiliar técnico da Chapecoense, Celso Rodrigues trabalhou com Guto e Camilo em 2015. Em vários ocasiões, Guto escalou o meia pelos flancos. Em determinado momento, a equipe usava um outro meia ao lado dele, Neném. Camilo cumpria função tática de sair do meio para o lado, ocupando o espaço. Para Celso, a rodagem compensa a falta de intensidade, primordial a quem atua como extrema, função que combina a ofensividade do ponteiro e virtudes defensivas de lateral.
– Camilo é rápido, experiente, tem técnica muito boa. Houve jogo em que fazia a beirada. Ele sempre recompôs. Não é um marcador, mas sabe como compactar – diz o ex-auxiliar, um gaúcho de Cachoeira do Sul que fez carreira no futebol catarinense.
Questionado na entrevista coletiva sobre a disputa com Camilo, Sasha apontou características distintas entre os dois. A entrada do meia, no entanto, pode não significar sua saída do time, mas um deslocamento para o lado direito, com Pottker deixando o time.
– Talvez o Camilo tenha característica diferente, por ser meia mais centralizado, de último passe. Eu marco, volto bastante, ataco. São característica diferentes. Cabe ao Guto ver quem está em melhor. No momento maravilhoso em que estamos, quem entrar dará sequência ao trabalho da equipe – disse Sasha sobre o companheiro e 12º titular do time.