São apenas 90 dias. Mas o suficiente para uma transformação do Inter entre o Paysandu, em Belém, no dia 24 de maio, e o Paysandu da noite desta sexta-feira, no Beira-Rio. Podemos dizer que nestas 13 semanas o clube caiu na real. Tanto que decolou e pode assumir a liderança da Série B em caso de vitória.
A troca de Antônio Carlos Zago por Guto Ferreira foi a primeira mudança. A partir dela, o Inter criou um time e o viu ganhar uma identidade, cativar a torcida e se tornar confiante. É essa equipe, casada com 35 mil colorados no Beira-Rio, que estará em campo a partir das 21h30min em busca da liderança.
– Aconteceu tanta coisa nesse período que parece fazer mais do que 90 dias. A convicção de seguir no trabalho, de apostar no Guto criou a situação de hoje – comemora o vice de futebol Roberto Melo.
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Time cascudo
Os 18 jogos entre os dois encontros com o Paysandu ajudaram o Inter a contar com um time cascudo. Principalmente, aquelas partidas que terminaram em convulsão no Beira-Rio. Não foram poucas.
Começou com protestos de cerca de 200 torcedores no pátio depois do 1 a 1 com o Juventude e o 10º lugar, na estreia de Guto Ferreira. No jogo seguinte em casa, 1 a 1 com o Paraná, não houve confusão no pátio do estádio. Porém, o vestiário ferveu.
Ceará, substituído no intervalo, não passou pela zona mista, mas estacionou nela. Concedeu várias entrevistas e, em todas, detonou Guto Ferreira. Acabou dispensado. Depois, descambou para a selvageria.
Na derrota para o Boa, torcedores arremessaram gradis e pedras, e a BM respondeu com bombas. Na partida seguinte, contra o Criciúma, torcedores atacaram os stewards com blocos de concreto e tentaram invadir a área do vestiário.
Tantos tumultos obrigaram a direção a colocar placas de metais para separar a torcida das áreas em que imprensa, jogadores e dirigentes tinham acesso no jogo contra o Luverdense. O 1 a 0, com gol polêmico nos acréscimos, marcou o início da pacificação dos colorados com o time.
– Com tudo que esses jogadores passaram, com tudo que apanharam, ficaram lições. Mas ainda existe uma ferida cicatrizando e isso faz lembrar do passado recente – disse Guto Ferreira na entrevista desta quinta-feira.
Compreensão da Série B
Nos bastidores do Beira-Rio, é consenso entre dirigentes e integrantes da comissão técnica de que o Inter demorou, mas aprendeu a entender o que é a Série B. Dirigentes apontam a chegada de Guto Ferreira como decisiva para disseminar no vestiário e até mesmo nos gabinetes os conceitos necessários para fazer a travessia de volta à Série A.
Guto trouxe a rodagem ganha em passagens na Série B por clubes como Criciúma, ABC, Ponte Preta e Bahia. Nos dois últimos, ele conseguiu o acesso. Em Salvador, encontrou contexto parecido ao do Inter, em um clube que fez alto investimento e se equipou com nomes de Série A para subir.
– Foi fundamental a experiência do Guto em Série B. Ele está jogando a terceira seguida. Impressionante como ele conhece jogadores, é extremamente atualizado e bem informado. Sabe o que significa a competição e como jogá-la – diz o vice-presidente Alexandre Chaves Barcelos.
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Escalação decorada
O processo de construção deste Inter de Guto teve duas semanas cheias de treinos no Vila Ventura, em Viamão, e mudanças gradativas na equipe. Cláudio Winck entrou no time na 12ª rodada, contra o Criciúma. Sasha reapareceu na equipe no insosso 0 a 0 com o Paraná.
Saiu de cena e voltou de vez contra o Oeste, quando foi decisivo no 2 a 0. Aos poucos, Guto colocou sua mão na equipe. Jogadores como Léo Ortiz, Carlinhos, Felipe Gutiérrez e Nico López deixaram de ser titulares. Diego, primeira alternativa para a extrema, e Roberson ficaram sem espaço. Ascenderam nomes como Klaus e Sasha.
Na gira pelo Nordeste, em que venceu Ceará e perdeu para o CRB, ele adotou o 4-1-4-1. Contra o Luverdense, o esquema foi usado também no Beira-Rio e afirmado. A chegada de Leandro Damião, que estreou contra o Goiás, na 18ª rodada, arredondou o esquema.
A manutenção de Guto
A derrota para o Vila Nova, na 16ª rodada, a atuação apática do time sacudiram os bastidores do Beira-Rio. Havia forte pressão sobre a direção pela demissão de Guto Ferreira. A equipe vinha do 1 a 0 sobre o Luverdense com um gol que só aconteceu por erro do auxiliar, que parou o lance e voltou atrás, desarmando a defesa do time mato-grossense.
O Conselho de Gestão, que havia se posicionado na saída de Antônio Carlos Zago, colocou-se ao lado do vice de futebol Roberto Melo e apoiou a decisão de manter o técnico. Havia esperança de que, com tempo para treinar e respaldo da direção, ele cativaria o grupo. Em Goiânia, o presidente Marcelo Medeiros mandou, em pronunciamento, um recado direto aos jogadores e cobrou resultados da comissão técnica.
O presidente, assim como seus vices, estavam acossados. Já evitavam eventos sociais com a família para se preservar. A cobrança dele funcionou. A partir do jogo com o Oeste, o Inter engatou cinco vitórias seguidas.
– O departamento de futebol, com o Roberto Melo, teve firmeza e acertou. Teve o apoio do Conselho de Gestão. Havia muita pressão pela saída do Guto. Para você ter uma ideia do quanto repercutia, há pouco, aqui no Rio, um dos vices da CBF parabenizou o Inter pela decisão – conta Alexandre Chaves Barcelos, que estava no Rio para o julgamento do recurso pelos atos de vandalismo ao final do jogo com o Criciúma.
*ZHESPORTES