Já vencíamos por confortável margem quando, na ponta esquerda de ataque do Londrina, um desesperado esforço para evitar a saída da pelota acabou fazendo com que um jogador de azul derrubasse a bandeirinha de escanteio. Aquela, na esquina da goleira do Gigantinho com a antiga Social. Num reflexo imediato, levantei da minha cadeira e comecei a berrar:
- ARRUMA A BANDEIRINHA DO SASHA! COLOCA DE VOLTA A BANDEIRINHA DO SASHA!
Sasha passou a nomear uma das quatro bandeirinhas de escanteio do Beira-Rio no ano passado. Na final do Gauchão, depois de anotar um dos gols da tranquila vitória colorada sobre o Ju, o camisa 9 sacou-a do seu local de repouso e a convidou para bailar consigo no cantinho do gramado. "Bailar", não. Valsar. Era a valsa dos 15 anos sem títulos do Porto Alegrense.
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Foi das mais maravilhosas flautas já tocadas por algum jogador em campo nessa centenária rivalidade. Até pela importância da data. Afinal, desde 1971, quando o Brasileirão começou a ser disputado, nenhum clube da Dupla havia ficado tanto tempo sem ganhar nada. Era um recorde histórico. Uma seca inigualável. Um maravilhoso mote para um dois-pra-lá-dois-pra-cá na quina de um césped. Sasha, ali, tirava o sarro que milhares de colorados gostariam de estar tirando. Era como se eu mesmo estivesse ali, dançando aquela valsa do deboche.
O interminável 2016, a partir dali, foi só dor e sofrimento. Para o Inter e para o Sasha. Ele sofreu com lesões, passou a jogar cada vez menos (tanto em frequência quanto em qualidade) e até mesmo o espetacular episódio da valsa acabou ficando contra ele. "Do que me adianta tocar uma flauta daquelas e não jogar mais nada em campo?", falávamos, indignados. Mas estávamos indignados com tudo, Sasha, não era nada particular contigo.
Este ano, agora 100%, o Sasha voltou. Aos poucos - e até com alguma naturalidade - foi recuperando seu lugar como titular absoluto do Inter. Sasha tem um estilo de jogo completamente insano. É uma correria maluca, uma entrega absurda. O guri está marcando o lateral lá em cima, depois vira volante, dá carrinho, desarma, enlouquece, dribla uns dois, chuta, faz gol, comemora como quem descobriu a cura do câncer.
É uma saída de altíssima velocidade e qualidade técnica para o contra-ataque e a primeira linha de marcação lá dentro do campo dos caras. Ele está sempre correndo, sempre brigando, sempre desesperado na tentativa ou de recuperar a bola ou de meter o tento.
Assim como no episódio da valsa, ver esse camisa 9 jogando é como ver um legítimo torcedor do Inter fardado e jogando. Se eu tivesse qualquer competência futebolística e papai do céu me desse a chance de defender o clube que eu amo, eu seria exatamente como o Sasha. Correria o tempo inteiro, brigaria com todo mundo. Comeria grama. Como ele faz. Como ele sempre fez (sempre que esteve em condições, pelo menos).
No final das contas, é isso: Sasha é um torcedor do Inter dentro de campo. Um representante do delírio completo que é ser Colorado. Uma base avançada da torcida vermelha lá dentro das quatro linhas. E o guri briga, o guri corre, o guri faz gol, o guri dança valsa. Assim como nós todos gostaríamos de fazer.
- E aí, arrumaram a bandeirinha do Sasha? (risos) - perguntou-me um colorado, que deve ter ouvido os meus gritos, enquanto descíamos as arquibancadas.
"Bem que esse nome podia pegar", pensei comigo depois de ter respondido com risadas à pergunta. Seria uma homenagem engraçadinha e justa a um torcedor colorado que nós temos no futebol profissional.
*ZHESPORTES