Cláudio Winck foi dormir tarde depois do duelo entre Inter e Paraná, em uma terça-feira fria no Beira-Rio, um jogo sonolento e sem chutes a gol. Precisava acordar às 7h para ir até Alvorada, em mais um dia de treino no time sub-23. Ao pegar o celular, tinha uma mensagem: "Vem pegar tuas coisas, te chamaram para o profissional".
– Não acreditei. Achei que era uma brincadeira. Quando confirmei, fiquei emocionado. Chorei mesmo. E depois liguei para o meu pai – disse o lateral-direito colorado no início da tarde de quinta-feira, no CT Parque Gigante, onde recebeu a reportagem de Zero Hora.
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Sérgio Winck, ex-meia de diversos times, foi o grande pilar de Cláudio Winck quando o jovem lateral fraquejou. Renegado ao Inter B, percorria estradas esburacadas e campos embarrados no interior do Estado na disputa da Terceirona, uma competição quase amadora que movimenta algumas torcidas resistentes e alimenta sonhos de meninos que querem ganhar a vida jogando bola.
Depois de surgir bem em 2014, oscilar com lesões e desempenhos inferiores, ter uma rápida aventura no Hellas Verona e outra na Chapecoense, Cláudio Winck viu na Terceirona sua chance de ressurgir. Aos 23 anos, porém, sabia que precisava tomar uma decisão em sua carreira. E Sérgio Winck o orientou:
– Meu pai me ligava todos os dias. Queria saber como tinha sido o treino, me dizia para ter tranquilidade e trabalhar que logo as coisas iriam acontecer. Eu precisava dar um rumo para minha da carreira, ver se iria para um time menor para ter mais chances ou se ficaria aqui. Então falei para minha família: "Não vou sair, quero jogar de novo no Beira-Rio". É um sonho jogar no Beira-Rio.
No time sub-23, atuou em 17 partidas, marcou 10 gols e se fixou como um dos destaques da equipe que atropelou todos os adversários que viu. A regularidade e a sequência, que tanto faltaram em sua carreira, enfim, davam as caras. Para isso, Winck passou a cuidar melhor da alimentação, tomar adequadamente os suplementos e, principalmente, descansar:
– Mas quando era mais novo, achava que tinha que me estourar treinando. Hoje sei dosar mais. Até no jogo mesmo. Vamos ficando mais experientes, vamos conhecendo melhor o nosso corpo.
Agora que enfim teve a sequência que precisava, a crítica recai sobre sua dificuldade defensiva. O que ele mesmo reconhece. Cláudio Winck está fazendo trabalhos de marcação, confronto em um contra um, táticos e específicos de defesa. Para ele, esse treinamento e esse reforço "atrás" poderão dar tranquilidade para o que considera fazer melhor: atacar. Sabe que não vai ser, em suas próprias palavras, "um Rodrigo Dourado, que é perfeito na marcação". Mas garante que, se não comprometer na zaga, conseguirá partir com a bola dominada, ir para a linha de fundo ou enveredar para a área e fazer gols. Essas características o fazem ganhar atenção especial de André Luís, auxiliar de Guto Ferreira. Ex-lateral colorado nos anos 1970 e 80 e um dos defensores que mais marcou gols com a camisa do Inter, é o responsável por coordenar suas ações e comandar jogadas ensaiadas de lateral e falta.
– Aliás, teve uma falta no último jogo. Passou perto aquela bola.
– Achei que a barreira estava muito perto, o juiz errou a contagem dos passos.
– Mas chamou atenção que o Diego queria cobrar a falta, mas tu ficaste com a bola embaixo do braço.
– Estava confiante, queria bater.
– Não teve carteiraço.
– Não, mas o Diego bate bem também. Só que estava me sentindo bem, pedi para chutar.
– Mas não levar carteiraço do Diego é fácil. Quero ver quando for o D'Alessandro.
– Ah, com o D'Ale é mais difícil (risos)!
Winck brinca com D'Alessandro porque é assumidamente fã. Foi o primeiro nome que citou quando perguntado qual jogador gostava de ver jogar. O capitão do time, em sua visão, é um exemplo de dedicação ao jogo, de interesse e de personalidade. O lateral conta, inclusive, que ao perceber a bola na esquerda, já sabe que precisa estar pronto para receber o passe em seu lado. O argentino usa muito os lados do campo.
E do lado do campo, Winck quer ser uma espécie de Daniel Alves. O neocontratado do PSG é o modelo que carrega na posição. De característica ofensiva, o lateral-direito titular de Tite na Seleção serve de inspiração para o colorado. Claro, excluindo seu tio, Luiz Carlos.
– Conversamos bastante, ele vai lá em casa, em Portão, quando está de folga e o pai faz churrasco. De vez em quando até me liga. Foi legal encontrá-lo no jogo contra o Criciúma, dar um abraço. Torço pelo sucesso dele, espero que o Criciúma também suba – conta Cláudio.
Portão, a cidade de seus pais, é seu refúgio. Quando tem folga, pega a namorada e parte para lá. Em Porto Alegre, seus passatempos são jogar Rainbow 6 (game de tiro) no videogame e ler Anthony Robbins, palestrante motivacional americano da moda.
Agora na Capital, Cláudio quer se fixar. Até porque tudo ficou mais fácil: mora mais perto do local de trabalho, não precisa mais pegar a estrada até Alvorada e voltou a jogar no Beira-Rio. Até por isso, mal pensa em Europa:
– O mais importante é estar bem no Inter. Tenho esse sonho comigo há muito tempo. Quero conquistar títulos e fazer minha história aqui. Lembra aquele gol que fiz no Gre-Nal em 2014? É aquela sensação que me motiva.
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