Caro presidente.
Já sabemos que o senhor é muito corajoso. Assumir a presidência do Internacional no pior momento da nossa história, não é tarefa para fracos, tem de ter colhões. É como se estivéssemos jogando com um a menos, na altitude, levando pedrada da torcida, cusparada do adversário e tomando 3 a 0 no primeiro tempo. Tem muito cara que se borra todo, simula lesão e pede pra sair. Mas o senhor não se escondeu. Levantou o braço, pediu a bola e se apresentou para o jogo. Parabéns.
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Também percebemos que o senhor tem boas intenções, é cordato, inteligente, tem conceitos mais atualizados de futebol do que a gestão anterior. Ok, a comparação não é tão boa, pois a gestão anterior não tinha conceito nenhum. Assumiu o Inter a passeio, fez a sua farra entre amigos e nunca teve foco no futebol. Pois o senhor mostrou agilidade. Mal foi eleito e montou rapidamente uma nova estrutura de futebol, trouxe o Roberto Melo, o Zago, mais um punhado de novos jogadores e mandou embora uns outros tantos, que já foram tarde. Um início promissor.
Mas, com o passar do tempo, o novo Inter não aconteceu. Nós, torcedores, até tivemos certa paciência. É um ano atípico, um novo conceito de futebol estava se desenhando, um novo time saindo do papel e, para tudo isso funcionar, leva tempo. Mantivemos nosso apoio, mesmo com nosso Inter ocupando o sétimo lugar na fase classificatória do Gauchão. Ficamos firmes, mesmo quando, na sequência, perdemos a final do Gauchão para o Novo Hamburgo. Seria o histórico heptacampeonato, mas sucumbimos para o pequeno Anilado do Vale dos Sinos. Um time guerreiro, mas com uma folha de pagamento 70 vezes menor do que nosso glorioso Colorado. Triste.
Aceitamos a derrota com dor, pois sabíamos que se tratava de um ano atípico e porque acreditamos na palavra do nosso vice de futebol. Sempre nos momentos de dificuldade, ele repetia a mesma promessa: "o time está evoluindo, está em formação e nosso principal objetivo no ano é subir para Série A." Relevamos, apoiamos e entendemos. Tivemos alguns espasmos de alegria, como a eliminação do Corinthians na Copa do Brasil e a vitória sobre o poderoso Palmeiras do Cuca, que quase nos colocou nas quartas de final deste mesmo torneio. Mas não deu. Nova decepção para nossa conta.
Então, finalmente chegou a Série B e começamos bem. Vencemos o Londrina e tudo se encaminhava para uma campanha tranquila e com final feliz. Só que a história não foi bem assim, e o time formado pelo senhor e pelo Roberto Melo não cumpriu o que foi prometido. Foi definhando, se atrapalhando, se acovardando a cada dificuldade que esse campeonato nos impunha. Começamos a perceber que as nossas angústias e percepções, que vinham desde o início do ano, faziam sentido. Nosso grupo e o nosso projeto realmente não eram confiáveis. Os sinais eram claros, nós torcedores percebemos, mas o senhor e a atual gestão não entenderam o que acontecia.
Senhor presidente, já estamos na 14ª rodada da Série B. Estamos em sétimo lugar, com apenas cinco vitórias, apenas uma delas foi na nossa casa. Só estivemos no G-4 por quatro míseras rodadas. Estamos no segundo treinador, já testamos seis laterais direitos, oito zagueiros, inúmeras formações e ainda não temos time. Cada entrevista do nosso vice futebol é uma depressão total. A torcida tem vontade de rasgar os pulsos. Não se vê indignação ou capacidade de reação. E vamos combinar, são sete meses de promessas do nosso vice. Sete meses! E não vemos resultado nenhum. Continuamos passando por um vexame atrás do outro.
Querido Marcelo, vou deixar o presidente de lado, pois sei que você é um torcedor apaixonado assim como nós. Então, vou falar de torcedor para torcedor. Acabou a paciência. Estamos no limite. O colorado está muito machucado e você sabe muito bem o que é isso. Até quando vamos enfrentar esse calvário? Qual o limite desse fundo de poço no qual nos metemos? Marcelo, existe apenas uma pessoa neste mundo com poder de mudar o rumo da nossa história. Você. Sim, o Marcelo bravo e corajoso, que não se escondeu, que pediu nosso voto e foi atendido de forma arrasadora.
Pois chegou tua hora, Marcelo! Toma as rédeas deste clube, enfrenta o momento como um grande estadista o faria. Busca apoio de todos os movimentos políticos do clube, corre atrás da unidade fora e dentro do campo. Chegou a hora de abrir o cofre, trazer reforços que deveriam ter vindo a muito tempo (articuladores, zagueiros e laterais). Cobra forte o Roberto Melo, que é teu amigo, mas ele não está resolvendo. Não tenha melindres de substituí-lo, se for necessário. Tem que descer no vestiário todos os dias e conferir de perto o que está acontecendo. Estamos em estado de guerra, Marcelo! Se você e o departamento de futebol ainda não descobriram isso, estou lhes avisando. É hora de acordar!
Este é o ano mais importante da história do Internacional. Se não subirmos para a Série A, será o maior vexame que um clube grande já proporcionou para a sua torcida. Só o Fluminense, conseguiu feito pior, mas não interessa. Temos que subir! Acredito em conceito de futebol, em planejamento, em manutenção de treinador, etc.. Mas essa hora já passou. Se perdeu tempo e se errou muito. Tem que pensar daqui pra frente. Agora é hora de agir, de ser pragmático, de montar uma defesa sólida e se impor. E você, Marcelo, tem esse poder. Você é o homem na cadeira, você tem a chave do cofre. Vai pra cima, meu caro! A torcida sempre vai apoiar o clube, o Melo não precisa ficar pedindo nosso apoio a cada coletiva de final de partida. Sempre apoiaremos, vide o ano passado. Mas infelizmente, nós não podemos botar a bola pra dentro. Contem conosco. Faremos nossa parte, mas você tem que fazer a sua.
Vou repetir. Só tem uma pessoa que pode mudar essa história. Você, Marcelo.