Os desempenhos criticados e a consequente ausência do G-4 na Série B pressionam Guto Ferreira no Inter. Neste cenário, Zero Hora pergunta aos comentaristas do Grupo RBS se o técnico deve permanecer.
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Diogo Olivier
Sim. Se quiser repetir o filme do ano passado, então vale demitir Guto Ferreira. Logo ali adiante poderia trazer Celso Roth para um Grand Finale. Não se trata de entender que Guto é um treinador extraordinário. Menos ainda de aprovar todas as suas decisões. Ninguém deixará de ser crítico no erro e elogioso no acerto – avaliações subjetivas e pessoais, bem entendido. O fato é que se livrar de um técnico como quem desveste a bermuda é muito amadorismo. Basta fazer um raciocínio por exclusão. O que a mudança frenética de técnico ajudou a produzir? O rebaixamento. Fábio Carille, do Corinthians, agora líder do Brasileirão, foi espancado pela crônica paulista por um suposto futebol tenebroso, capaz de precisar dos pênaltis para eliminar o Brusque na Copa do Brasil e de sair da competição diante do Inter. Tivesse começado tudo de novo, o Corinthians estaria aonde? Guto chegou há um mês. Mal trabalhou. Não é um idiota. Subiu o Bahia. Foi elogiado no país inteiro e levado ao Bem Amigos pelos seus trabalhos na Ponte e na Chape. Não é um paraquedista, um neófito, um sujeito que chegou ontem. Já o critiquei, mas nem tanto ao sol, nem tanto à sombra. O Inter não está jogando nada? E antes? É assim que se avalia um treinador, em meia dúzia de partidas? Nessas horas sempre surgem especulações sobre comando de vestiário. É outra lógica infantil, quase como franquear o clube aos jogadores. Um repórter, por exemplo, vai apurar menos ou escrever com erros de português para derrubar um chefe com quem não simpatiza ou mesmo não concorde em alguns pontos? É preciso responsabilidade de todos, e não escolher sempre um culpado e atirá-lo aos cães.
Maurício Saraiva
Sim. Entre 13.476 razões para o rebaixamento em 2016, uma das mais cintilantes foi a salsicharia de treinadores em que os dirigentes da época transformaram o Inter. Argel tinha ficado no cargo por ter levantado o Inter após a saída de Diego Aguirre em 2015. Foi substituído por fadiga dos metais no primeiro turno do Brasileirão do ano seguinte. Falcão nem sequer teve tempo para desgaste: viu seu trabalho interrompido em 30 dias. Na equivocada decisão de quem entrou depois, a opção foi por Celso Roth, cujo retrospecto recente não era animador. Fernando Carvalho não levou em conta: contou com o pensamento mágico de que a dobradinha daria certo porque já dera certo antes. Por fim, Lisca chegou para tentar evitar o rebaixamento em três jogos. Em 2017, o novo comando prometia fazer o inverso do anterior, o que certamente incluía não manter a salsicharia da temporada passada. Porém, Antônio Carlos Zago teve o trabalho abreviado para que a direção tivesse trégua do torcedor. Agora, o cenário é divisor de águas para Marcelo Medeiros. Ele decide se repetirá a carnificina de 2016 ou se apostará em Guto Ferreira. Esta me parece ser a decisão certa. Impensável que insista em cremar treinadores como se fosse solução. Não é. Guto deve ficar e trabalhar. Até aqui, o trabalho não é bom, está atrasado. Sua declaração após a derrota para o Boa – o time não fez em campo o que foi treinado na semana - foi profundamente infeliz. Ainda assim, é insensato demiti-lo. Qual a garantia de que o novo técnico teria melhores resultados? Tio Tony foi o mágico mais famoso de Porto Alegre na minha infância. Deixem-no em paz.
Luiz Zini Pires
Sim. É certo que o problema não envolve apenas o treinador. Nos últimos seis meses, passaram cinco profissionais de diferentes perfis. Todos foram demitidos por falta de resultados, com mais ou menos tempo para trabalhar. Afastar o técnico é a maneira mais fácil de acalmar o indignado torcedor. Ajuda a esconder as carências de atletas e dirigentes. O Brasil dá importância demais aos treinadores. Entende que ele é o responsável pelas grandes vitórias e pelas piores derrotas. Não precisa pensar, discutir, reavaliar. Basta afastar um e chamar outro. Dinheiro nunca é problema. Clubes gastam o que não têm.O experiente Guto Ferreira é a cabeça da vez. Se Guto cair, com quatro semanas de trabalho, quinto colocado na Série B depois de 11 rodadas, 40% de aproveitamento, levará junto todo o departamento de futebol e alguns jogadores, que estão quase todos juntos desde janeiro. A direção se debate em busca de soluções. Não sabe quais são, o que fazer, para onde correr. Já fez de tudo: trocou treinador, contratou jogadores, concentrou os atletas em um hotel, fechou os treinos, aumentou prêmios, pagou em dia. Agora chamou coach e psicólogo, o que é uma boa ideia. Todos os grandes times do mundo trabalham com psicólogos. O que se vê no retângulo do gramado é um time completamente desorganizado. O que se nota no vestiário é um vazio sem lideranças. O que se observa na direção é um grupo indeciso. Falta ao Inter união, talvez mais trabalho e humildade. O clube não está unido em torno de um objetivo. Não será um novo treinador ou mais dois ou três jogadores que encerrarão a má fase.
Wianey Carlet
Sim. Houve um tempo em que o treinador era o senhor absoluto do vestiário. Mandava, desmandava e ninguém discutia as suas ordens. Os jogadores também eram diferentes. Hoje, qualquer jogador de mínima competência chega ao estádio pilotando um carrão do ano e está sempre cercado de um ou mais assessores. Nesta época, não era incomum jogador chegando para treinar de ônibus ou um carrinho popular de baixa potência. A época é outra. O perfil dos jogadores mudou radicalmente e não existem mais treinadores de largo espectro de ação. Hoje, os treinadores sentem-se incomodados em conceder entrevistas e fecham os treinamentos para evitar que sejam questionados. Assim, autorizam-se a justificar péssimos desempenhos garantindo que os treinos (que ninguém viu) foram ótimos, mas faltou cumprimento do que foi ensaiado. Sendo assim, é inútil trocar de treinador porque virá outro com as mesmas limitações, fechará treinamentos e ninguém saberá se a sua metodologia é aceitável. Portanto, seria inútil substituir Guto Ferreira. Necessário, sim, que os dirigentes juntem-se ao treinador, troquem ideias, cobrem providências e mostrem aos profissionais que o clube está atento aos acontecimentos de vestiário. Conversar, eis o remédio. Se o Inter tomar estas decisões, logo Guto parecerá bem melhor. E as coisas tomarão novos rumos. Não troquem o treinador. Juntem-se a ele.
Pedro Ernesto Denardin
Sim. Mas a direção precisa discutir com ele as individualidades e a esquematização tática. Ele, isoladamente, mostrou dificuldades. Conseguiu piorar o que já estava muito ruim. Em defesa de Guto Ferreira, enumero os desfalques com que ele precisou lidar. Entre eles, as ausências do argentino Victor Cuesta, o chileno Felipe Gutiérrez, o uruguaio Nico López e o atacante William Pottker. Estes jogadores têm potencial para melhorar muito o time. Lógico que precisa ter plano de jogo e escalação que preencha todas as ocupações do campo.
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