Da entrada da área, no rebote do goleiro, de puro oportunismo e até de bicicleta. Lucão está no lugar certo e na hora certa. Não apenas para marcar os quatro gols em quatro jogos com camisa preta, branca e amarela. Balançar as redes e a dedicação dentro de campo é forma que o centroavante de 25 anos dispõe para retribuir por lhe confiarem a camisa 9 do Criciúma. De cara nova, o jogador virou o cara na escalada tricolor na classificação da Série B do Campeonato Brasileiro.
Não fez sozinho, sabe disso. Por isso agradece aos companheiros também pela acolhida. Mas ainda mais ao clube. Desde o início da carreira, Lucão é peregrino da bola. Junta passagens pelo futebol de Nordeste a Sul do Brasil, esteve em Portugal, Espanha, Japão e até Moldávia. Se ao Tigre faltava um centroavante, ao atleta faltava um clube que lhe desse camisa e chance de atuar em jogos seguidos. Pelo início dessa relação, não vai faltar mais nada – nem gols.
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– Essa é a oportunidade da minha vida. Já bateu um sentimento, tem um algo a mais quando visto a camisa do Criciúma – declara-se.
Tanto que ainda nos primeiros jogos pelo Carvoeiro, deixou o gramado batendo a mão no escudo sobre o peito. A relação é nova e é forte porque Lucão carrega na voz a esperança que no Criciúma vai viver o que ainda não pôde na bola, mas está no lugar e na hora certa para isso.
– Estava esperando muito essa oportunidade, de jogar em um clube com calendário, ter uma sequência na equipe. Acho que pela primeira vez vou ter isso na minha carreira. No Cruzeiro-RS eu joguei o Gauchão e fiz três gols. Depois, no América-RN fiz dois em três jogos (ambos os times neste ano). E agora, no Criciúma, são quatro em quatro partidas. Acho que nunca tive uma sequência em um clube, sempre fui de um para outro. Isso é muito importante para a carreira.
Na grande área do adversário e na capital do carvão, o atacante faz morada. As origens em Planaltina, em Brasília, continuarão presentes. O som do Tribo da Periferia vai estar na lista das músicas de hip-hop que soam nos fones e embalam as primeiras e as próximas comemorações de gols em que a camisa tricolor é chacoalhada enquanto Lucão dança aos passos do break.
Confira a entrevista completa a seguir.
Como tem sido esse bom começo pelo Criciúma?
De muito trabalho, o professor (Luiz Carlos) pediu algumas coisas especiais para que eu me encaixasse e acho que assimilei rapidamente. Ele me conheceu no Campeonato Gaúcho, quando joguei pelo Cruzeiro-RS, e isso facilitou a adaptação. Pediu alguns fatores de tática e falou sobre a minha característica de entrega, para que eu explore bem isso para contribuir com o grupo. Ainda antes de eu chegar, a equipe estava assimilando bem isso, e acho que encaixei como ele queria.
Os quatro gols até agora foram de formas diferentes. Tem mais no repertório?
Acho que o centroavante, o 9, tem que ser oportunista e também precisa ter qualidade em momento de necessidade. A forma de marcar os gols varia conforme o jogo. Ainda não fiz de cabeça e espero fazer aqui. A variação é grande e trabalho para concluir da melhor forma. Tem que aproveitar o momento que a chance aparece e centroavante não tem de escolher. Já fiz gols de diferentes formas no ano, mas ainda não de pênalti. Falta esse e de cabeça também. E tem de carrinho, se precisar vai de carrinho para completar para o gol. Fiz um pelo Criciúma dando um carrinho para tomar do goleiro. Meu pai pedia isso. Nesse ano, cheguei a tomar a bola do goleiro e o companheiro fez. Mas meu pai pedia para que me jogasse na bola que daria certo, como aconteceu (risos).
Com gols e entrega, a relação com a torcida também começou bem.
Eu agradeço a eles também pelo que tem acontecido na minha vida aqui. A relação com a torcida é boa também pelos gols e pelo grupo comprometido que temos. Acho que ela valoriza a minha entrega em campo. Tem atacante que faz gols, mas não veste a camisa. Porém, da minha parte tem doação também. Por isso a torcida tem atenção para com o grupo, os meus companheiros, por essa doação de todos.
As grandes equipes da história do Criciúma tinham centroavantes que marcaram época. Você sabe disso? Aumenta a sua responsabilidade?
Vim para fazer parte da história do clube e buscar algo a mais. Mas não olho para trás. Procuro focar no trabalho e fazer a minha. Como tiveram bons jogadores com a camisa 9 no clube, a cobrança é maior e a torcida não espera menos. Mas eu faço minha parte, mostrando trabalho e quem sou, e para chegar mais longe possível juntamente com o grupo. O Criciúma é um grande clube e precisa brigar em cima.
Joga também pelos lados? Onde se sente melhor?
Já joguei pelo lado, mas acho que no futebol atual eu visto bem a nove, me considero centroavante. Mas teve ocasião de jogar pelo lado, porque sou bastante móvel. Tem que marcar e participar do jogo intenso o tempo todo. Aprendi isso nos últimos anos e consigo ter discernimento para ajudar a equipe desta forma.
Chegou a jogar fora do país, rodou. Precisava de uma chance para se firmar?
Joguei no Japão, em Portugal, na Espanha. Estive na Moldávia também, quando joguei mais de beirada. Em todos foram uma breve passagem. Na Espanha estive no time B do Atlético de Madrid, em Portugal joguei um pouco mais.
Na estreia você marcou gol e comemorou dançando break. Qual a sua relação com esta cultura de música e estilo?
Fazem-me lembrar de onde vim, da rapaziada de quando era pequeno, meus amigos, minha infância. A gente jogava bola e dançava break, era a forma que havia de diversão e também para sair da rua, não se envolver com coisa errada. Enquanto a gente jogava bola, dizíamos que se algum dia alguém dali virasse jogador iria dançar break na comemoração de gol, para lembrar daquilo. E eu carrego isso comigo. Era um sonho desde moleque, de fazer gol e dançar break, para lembrar os amigos que carrego.
*DIÁRIO CATARINENSE