As transformações do Inter pós-Gauchão já foram notadas na estreia da Série B, a goleada sem sustos sobre o Londrina, no Estádio do Café. Além de Marcelo Cirino, que se integrou ao ataque colorado como se já estivesse desde a temporada passada no CT Parque Gigante, o meio-campo foi qualificado. O chileno Felipe Gutiérrez, contratado ao Real Bétis em meio ao primeiro semestre e que até então pôde atuar somente alguns minutos no mata-mata com o Corinthians, surgiu como um sopro de criatividade para o setor.
Felipe Gutiérrez foi buscado na Espanha por ter características semelhantes às de Charles Aránguiz. Não é ao acaso que o camisa 18 do Inter é reserva de Aránguiz na seleção chilena. Em 2015, o polivalente Aránguiz era praticamente um auxiliar de D'Alessandro na armação do meio-campo de Diego Aguirre, semifinalista da Libertadores.
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– Gutiérrez é dono de um bom passe. Sempre foi um jogador combativo, que marca com energia, e que consegue entregar a bola com qualidade para os atacantes. E chuta bem de fora da área, algo que ainda não teve tempo de fazer no Inter. Era assim quando defendia a Universidad Católica – elogia Elias Figueroa, o maior jogador chileno da história do Inter. – Felipe ainda está em fase de adaptação ao Inter, dará muito ao clube a partir de agora – acrescenta o capitão de 75.
O volante é o sexto jogador chileno a defender o Inter. Antes dele, Figueiroa, Juan Carlos Letelier, Eros Pérez, Charles Aránguiz e Paulo Cezar Magalhães (naturalizado) mesclaram passagens importantes com algumas a serem esquecidas no Beira-Rio. Ao ter sua contratação avalizada pela direção colorada, o canhoto Gutiérrez chegou para jogar primordialmente pela esquerda. Mas tem condições de atuar nas demais funções do meio, como fazia nos tempos de futebol espanhol.
– No Real Bétis, eu jogava em qualquer faixa do meio-campo no esquema 5-3-2. Aqui, vou atuar onde o treinador me pedir. Eu venho para ajudar o clube para voltarmos para a Primeira Divisão – discursou o chileno, em sua apresentação ao Inter, 43 dias atrás. – Não gosto que me comparem a Charles, sou Felipe Gutiérrez. O Charles é um grande jogador, teve um grande passado no Inter. Vou trabalhar dia após dia para fazer o meu papel pra ser protagonista e ajudar o Inter – emendou Gutiérrez, quando questionado sobre ser um jogador parecido a Aránguiz.
Sem adaptação ao clube, tampouco ao estilo de jogo do Brasil, Gutiérrez precisou ir a campo contra o Corinthians, substituindo Edenílson, que saiu lesionado do clássico e, depois, na Arena Itaquera, iniciou a partida uma vez que D'Alessandro estava fora, por contusão. Jogou em um meio-campo improvisado, com Rodrigo Dourado, Anselmo e Roberson, e acabou trocado por Carlos no intervalo. Não foi bem e ficou um tanto decepcionado com o próprio desempenho. Passou a se empenhar ainda mais nos treinos, o que encantou o técnico Antônio Carlos Zago. Como Edenílson e Carlinhos (para deslocar Uendel para o meio-campo) seguem lesionados, a chance caiu no colo de Gutiérrez. Virou titular e dificilmente deixará a equipe, após a boa atuação em Londrina.
– Felipe Gutiérrez dará ao Inter o chamado volante "construtor". Uso aqui a expressão "volante" só para facilitar a compreensão, conforme designações com as quais estamos acostumados. O chileno veio porque tem apurado sentido defensivo. Mas, retomada a posse da bola, além da troca de passes com mais velocidade, é capaz de um lançamento que fure as linhas adversárias, como o do terceiro gol contra o Londrina, de Nico López – analisa Diogo Olivier, comentarista da RBS TV. – É um meio-campista moderno. Vai aliviar D'Alessandro, que deixa de ser quase que o único encarregado da assistência de qualidade. Informação: Zago está especialmente satisfeito com o rendimento crescente e interessado de Gutiérrez, nos treinos – acrescenta.
O jogador chileno foi a 12ª de 13 contratações feitas pelo Inter somente nessa temporada. Apesar de não ter recebido muitas oportunidades no Bétis – tendo atuado apenas 16 vezes –, as suas cinco temporadas no futebol da Holanda, defendendo o Twente, lhe emprestaram a cultura necessária para atuar em diversas funções no setor.
– Dentro das ideias de Zago, Gutiérrez se transforma em peça importante, pois permite o jogo apoiado com o lateral e com os meias e atacantes a sua frente. Além da boa capacidade de recomposição. Como tem qualidade para realizar o controle e a distribuição, pode jogar centralizado em uma linha de três jogadores, no 4-2-3-1, ou de segundo volante. Como Zago prefere a "árvore de Natal" (o 4-3-2-1), Gutiérrez cumpre bem as funções de meia pela esquerda, nessa linha de três, e pode realizar as funções de D'Alessandro, jogando mais à frente. É um jogador multifuncional que vai ajudar muito o Inter este ano – entende Gustavo Fogaça, analista de desempenho da Rádio Gaúcha.
Para Wianey Carlet, o chileno da camisa 18 é um articulador vintage.
– Ele me parece um meia-armador à moda antiga. Joga pela esquerda, tem capacidade para chegar à frente e, acima de tudo, tem visão de jogo, um passe correto, e a percepção do melhor lance. Com o passar do tempo, Gutiérrez poderá até mesmo substituir D'Alessandro, quando o argentino não puder jogar. É um jogador raro, que vai dar muito ganhos ao Inter – afirma o comentarista da Rádio Gaúcha.
A abertura da Série B apresentou ao Inter um novo titular: Felipe Gutiérrez.
*ZHESPORTES