Uma antiga rixa com uma organizada do Atlético-PR que remonta a décadas passadas e um incidente tão trivial quanto uma camiseta que atingiu o rosto de um torcedor ao ser girada por quem estava a sua frente. Combinados, os fatores colocaram combustível na rivalidade entre as principais torcidas coloradas e foram os propulsores da barbárie de 17 minutos que interrompeu Veranópolis x Inter em meio ao primeiro tempo.
É preciso retroceder no tempo até o fim dos anos 1990 para entender parte dos motivos da briga generalizada no Antônio David Farina. Foi quando se estabeleceu uma rivalidade entre a Camisa 12, então a principal organizada do Inter, e a torcida Os Fanáticos, do Atlético-PR. À época, os torcedores do Furacão eram parceiros da Super Raça Gremista, que era a mais importante torcida do Grêmio. Daí a inimizade com os colorados, que rendeu alguns episódios de violência em jogos do Inter em Curitiba.
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Décadas depois, a Guarda Popular, hoje a maior organizada do Inter, estreitou relação com Os Fanáticos. A "parceria" enfureceu a Camisa 12. Em novembro de 2015, no Gre-Nal no Beira-Rio válido pelo Brasileirão, integrantes da torcida paranaense estavam em meio à Popular. Antes do jogo, as duas principais torcidas do Inter se encontraram em frente ao Portão 7 e houve uma confusão no pátio do estádio (a mesma que teve participação de Japa), motivada pela presença dos "estranhos", que rendeu punição às duas organizadas por 90 dias. Por conta da amizade com a Os Fanáticos, integrantes da Popular frequentam jogos do Inter com uniformes da organizada paranaense, o que irrita torcedores ligados à 12. Em Veranópolis, Jeverton Luis da Rosa Pereira, um dos brigões reincidentes envolvidos na confusão, aparece vestindo um calção da torcida do Atlético-PR.
Em jogos no Beira-Rio, as duas organizadas ficam em lados opostos da arquibancada, o que minimiza os conflitos. No reduzido espaço do Antônio David Farina, porém, a proximidade entre as torcidas foi inevitável. O clima tenso, motivado por confusões anteriores, fez a briga tornar-se iminente.
Tanto que o estopim para que o caos tomasse conta das arquibancadas foi um episódio dos mais comuns. Empolgado, um integrante da Camisa 12 girava a camisa quando a acertou no rosto de um torcedor ligado à Popular. A discussão escalou para as agressões, que se espalharam por todo o setor. Ao perceberem a briga, torcedores da 12 que estavam do lado de fora do estádio tentaram entrar. Impedidos de ingressar, passaram a arremessar pedras para dentro, que depois tornaram-se as mais perigosas armas do tumulto.
De acordo com relatos de integrantes de organizadas ao juiz Marco Aurélio Xavier, do Juizado do Torcedor, Popular e Camisa 12 teriam recebido ingressos do Inter para o jogo. Esse grupo que estava no pátio do Antônio David Farina teria os repassado a colorados da Serra, por isso não entraram na arquibancada. A direção colorada nega que tenha dado bilhetes às torcidas, mas o vice-presidente, Alexandre Barcellos, reconhece que "às vezes acontece de algum consulado entregar ingressos. O clube bota ingressos à venda e eventualmente alguém pode comprar e distribuir. Isso transcende ao nosso controle."
* ZH Esportes